The Originals

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Hope.

- Foi por volta do século 11 que os originais surgiram, seu pai tinha nele herança de lobo e quando se transformou em vampiro um balanço cósmico ocorreu: pela primeira vez um híbrido existira. Você consegue imaginar a quantidade de magia necessária para fazer isso ocorrer? É essa magia que corre em suas veias, é o poder dos Mikaelsons, a força dos Labonair, por isso, minha linda menina, nunca se esqueça de ocultar seus sobrenomes. Apenas Marshall, simples Hope Marshall, isso te manterá segura, ao menos por enquanto, o mundo sobrenatural ainda não está inclinado a entender todo o massacre, para eles seu pai é apenas um mau e nossa família cercada por doentes sanguinários. O mundo sobrenatural nunca vai entender o significado da palavra redenção.

Eu ouvi essa história a primeira vez ainda criança, da minha tia Rebekah, depois do tio Elijah, meu pai, minha mãe, enfim, acho que ninguém que eu tinha contato evitava me contar sua versão dos fatos, sempre ocultando coisas, óbvio, afinal, eu era muito pequena para entender.

Eu nasci no meio de uma guerra, fui uma concepção que sequer deveria ter ocorrido, mas cá estou: a única trihíbrida existente, mesmo que meu lado vampiro ainda não tenha sido ativado. Os clãs de bruxas lutavam contra os vampiros Mikaelson, era o que eu sabia, meus parentes já haviam matado muita gente, principalmente meu pai, Niklaus, conhecido como o grande mau.

Certa vez perguntei a ele, enquanto ainda tinha contato, o porquê de tanta crueldade.

- Eu nunca soube o que era amor de verdade, se apegar tanto a alguém ao ponto de dar sua vida para essa pessoa. Eu era apenas o ser mais poderoso do mundo vagando pela terra sem um propósito além de saciar minha fome sem limites. Fui um erro da natureza e, como sempre me senti assim, não me importava com mais nada. Entretanto, Hope, você mudou tudo, você é o meu coração, minha alma e minha luz.

Aquela fora uma das últimas vezes em que vi meu pai.

Pelo fato dos Mikaelsons serem muito fortes, se achavam invencíveis, muitos clãs foram dizimados por não obedecerem suas regras, principalmente na cidade em que fundaram: New Orleans. O trato era se render aos desejos da família, assim nada de ruim aconteceria, pelo menos não aos sobrenaturais, somente aos humanos. Com o passar do tempo muitos se frustraram com a tirania da minha família e decidiram bater de frente, mas eram sempre derrotados. Até que o clã Gemini, um dos mais poderosos clãs de bruxos, voltou a aparecer. Todos achavam que os geminis estavam erradicados por conta de suas brigas internas com mortes de irmãos e fusões bizarras, mas quando eles se uniram novamente conseguiram o que tanto queriam: dar um sumiço na minha família.

A paz passou a reinar no mundo sobrenatural desde então, eu era apenas uma criança quando tudo ocorreu e acabei ficando sozinha com minha mãe, que insistentemente me contava histórias e dizia para eu sempre esconder quem eu realmente era.

O clã gemini, após sumir com meu pai, aquietou toda a minha família, visto que Klaus costumava ser o responsável por gerar vinganças e ordens, mesmo que recentemente ele não fosse mais assim, ninguém via que meu pai havia mudado, apenas os mais chegados sabiam do poder de tudo que ocorrera. Com todos os anos de crueldade, era óbvio que conseguir prender o grande mau seria um sinal de liberdade para os sobrenaturais. Entretanto, após conseguir o que queria, o clã gemini voltou a ter suas insistentes brigas entre irmãos, até que com outra tragédia só sobraram duas: Josette e Elizabeth Saltzman, as gêmeas dois anos mais novas que eu, minhas inimigas de nascença e natureza, elas representavam tudo que eu deveria evitar.

Mas bastou uma noite na floresta cercando a mansão Salvatore, onde tantas histórias corriam sobre adolescentes bruxos, lobos e vampiros vivendo juntos. Bastou minha curiosidade movida pela raiva de não entender o porquê eu existia, o porque tudo aquilo havia ocorrido e não saber se meu pai estaria ou não vivo àquela altura. O pensamento dele em sofrimento me angustiava. Eu deveria ter raiva das Saltzman, mas ao mesmo tempo elas eram tão vítimas das circunstâncias quanto eu.

Quando avistei aquela menina na beira do abismo fiquei preocupada de que ela fosse fazer alguma besteira e mesmo sabendo dos riscos que eu estava correndo por aparecer para alguém, mesmo assim o fiz. Entrei em pânico quando soube que o sobrenome da morena era Saltzman, senti minha mente revirar. Dentre todas as pessoas do mundo, eu fui me encantar justamente pela minha inimiga natural. Mas Josie não tinha nada de inimigo em sua existência, ela era doce, gentil, pelo pouco que conversamos senti uma empatia e paz providas dela que nunca antes vi em ninguém, meu coração acelerava quando ela estava por perto e minhas mãos suavam, e com meus sentidos de lobo eu sabia que o mesmo ocorria com ela.

Eu voltei no dia seguinte e mandei uma carta para ela, eu não sabia se ela iria aparecer e quando ela surgiu com seus olhos esperançosos me procurando eu sorri instantaneamente, eu não deveria sequer estar ali, mas eu queria me certificar de que ela estaria bem.

- Não entendo como alguém tem coragem de te deixar, Josette.

Ela não tinha resposta para o que eu disse e eu também não tinha mais o que dizer, apenas fiquei tempo o suficiente encarando seus olhos até me perder em seu castanho e, quando o mundo pareceu congelar por demasiado tempo, o clima cortante em nossos olhares seria suficiente para trazer de volta a primavera e nos esquentar daquele frio que fazia. Era o que eu sentia quando estava com ela: calor, conforto.

Quando Josie, por fim, desviou nossa conexão, eu ainda sabia graças aos meus sentidos aflorados que o coração da menina estava acelerado. Mas mesmo sem meus sentidos de lobo eu ainda saberia que ela estava sem jeito pelo fato de seu rosto estar todo vermelho.

- Me desculpe por ter te deixado sem jeito.

Confessei, Josie no mesmo segundo virou-se novamente para mim colocando sua mão em cima da minha, afirmando, com um sorriso tímido e espontâneo no rosto:

- Está tudo bem, é que já fazia muito tempo que eu não sentia nada. Acho que me desacostumei.

- O que quer dizer?

Indaguei, curiosa. Ela olhou novamente para frente e ficou vaga, respondendo:

- Às vezes eu simplesmente fico sem sentir nada e, embora em alguns momentos seja bom, na maioria do tempo eu só tenho medo de que a apatia traga minha escuridão à tona.

Assim que ela terminou de falar levantou-se, desesperada, enquanto tentava se afastar, dizendo:

- Eu falei demais, eu não deveria... Me desculpe.

Levantei e fui atrás dela, agora era a minha vez de segurar no braço da garota que era bem mais alta que eu e fazê-la olhar em meus olhos, eu não queria perde-la de vista.

- Por favor, Josie, não vá assim, eu te entendo, eu já me senti assim também...

- Hope eu te conheci ontem e estou aqui me abrindo pra você, eu não sei o que está acontecendo, nem com a Penélope eu era assim.

Uma fisgada percorreu meu estômago. Penélope, seria o nome da menina que partira o coração de Josie? Como ela pôde? Será que ela merecia alguém como Josie?

Será que alguém no mundo merece possuir tanta pureza e beleza assim? Esse alguém com certeza não era eu, mas mesmo assim eu não conseguia me afastar.

- Tudo bem, podemos ir com mais calma, podemos conversar aos poucos, o que acha? Só, por favor, não fuja...

As últimas palavras soaram como uma suplica minha para ela.

Ela respirou fundo, acalmando-se. Por fim, ela confirmou:

- Também não quero que você suma, não quero deixar de conhecer você, há tantas coisas que ainda quero saber, tipo onde você compra essas roupas que estão sempre sujas de tanto correr pela floresta.

Ela soltou mais descontraída e a preocupação esvaiu-se de mim. Sorrimos mutuamente e eu afirmei:

- Amanhã a noite eu volto.

- Promete?

- Eu não conseguiria ficar longe nem se quisesse.

Assumi, soltando Josie e virando de costas, rapidamente me transformando em lobo e fugindo de volta para casa.

E eu voltaria no dia seguinte e no dia após aquele, até quando ela quisesse me ver, porque eu não conseguia mais me afastar da minha inimiga natural que havia se transformado no motivo para o meu coração bater acelerado novamente.



The Night We Met (Hosie)Onde histórias criam vida. Descubra agora