𝑺𝒖𝒈𝒂𝒓 𝒎𝒐𝒎𝒎𝒚

Oɴᴇ﹣sʜᴏᴛ

Quando o despertador tocou naquela manhã, um gemido de lamento vindo de baixo do edredom deixou clara a indignação de Kara ao ter que deixar o conforto de sua cama. Ao lado, o relógio sobre o criado-mudo anunciava que o horário da escola estava próximo, o que significava que ela precisava passar pelo inferno que era o ensino médio e sua vida estudantil. Todavia, como seu currículo dependia disso e ela tivesse que sobreviver ao bullying e aos conflitos que acompanhavam a vida acadêmica de adolescente, Kara sabia também que sua bolsa de estudos na tão sonhada National City University dependia das pequenas doses diárias de estresse e sexo. Muito sexo. Seu corpo estava mais do que preparado para atender às necessidades insaciáveis da viúva de Lar Gand, um investidor rico e alemão que faleceu a três anos atrás, deixando sua esposa e único filho.

Rhea administrava os negócios do marido, e em seu tempo livre, gostava de esquentar os lençóis com ninguém menos que Kara.

Para Kara, Rhea era um tipo peculiar e interessante de mulher. Às vezes, ela gostava de falar sobre o dia depois de abrir uma garrafa de vinho, soltar os cabelos dos grampos que os prendiam a manhã inteira e andar descalça pela casa sempre que Mike, seu filho de dezessete anos estava fora, ocupado com qualquer coisa que parecesse interessante para ele. Outras, Rhea só queria um sexo casual.

Então Kara a ouvia — sempre com muita atenção — antes de tomá-la no colo em estilo nupcial como Rhea gostava, e levá-la para cima, onde a comia de muitas maneiras. A noite inteira. Para Kara, ganhar alguns tostões em troca de sexo deixou de soar abominável desde o dia que Eliza teve uma recaída terrível e se recusou a deixar a cama até o dia que Kara chegou em casa e a encontrou desmaiada depois de uma overdose de comprimidos. Seu estado de saúde se agravou desde o falecimento de Alex e Jeremiah Danvers, quando um motorista bêbado entrou na contramão e acabou com sua família.

A partir dali, Kara sabia que a vida não seria mais a mesma para elas, então iniciou-se um processo delicado de terapias e medicamento para seu tratamento. Eliza foi rapidamente diagnosticada com depressão e afastada do orfanato onde trabalhava. Depois disso, sua vida passou a se resumir ao quintal da residência dos Danvers e seu próprio quarto. Com uma condição de saúde delicada, Kara sabia que o medicamento era um pouco caro, então decidiu ajudar da maneira que achou mais conveniente
— e prazerosa, com certeza —, além do mais, não doía nada trepar com a mãe do cara que vivia atormentando sua vida como forma de vingança.

Kara deixou a cama, se dirigiu ao banheiro no fim do corredor e tomou um banho demorado para começar o dia. Sua mente um espiral de pensamentos sobre tudo. Rhea queria vê-la naquela noite para o que ela chamava de rapidinha depois de um dia de reuniões. Kara saiu do chuveiro e voltou para o quarto.
Passando os dedos por entre os cabelos dourados curtos, ela viu o próprio reflexo no espelho e arqueou uma das sobrancelhas para os pequenos arranhões de unhas em seu abdômen. Ela vestiu um sutiã esportivo, uma camisa xadrez que valorizava seus antebraços cheios porque estava sempre dobrada aos cotovelos, puxou uma cueca boxer pelas pernas compridas e uma calça jeans que valorizava bem o traseiro empinado. Ela balançou a cabeça com um sorriso de soslaio ao lembrar das vezes que Rhea enfiava as unhas nele enquanto Kara a penetrava como uma máquina oleada feita para aquele propósito. Ela pegou a mochila, verificou os livros e saiu depois de calçar coturnos confortáveis. Descendo as escadas, Kara se deparou com Eliza na cozinha e um cheiro agradável de ovos, bacon e café. Sua figura magra e debilitada parecia a mesma de todas as manhãs, mas, para alegria de Kara, Eliza sorriu ao vê-la descer antes da loira mais alta ir se sentar na mesa. As olheiras profundas ainda estavam lá, quase como se Eliza já tivesse nascido com elas, mas a mulher menor parecia um pouco mais leve apesar de tudo, então Kara apenas sorriu com suavidade antes de cumprimentá-la naquele timbre ligeiramente aveludado.

━ Bom dia. Alguém amanheceu animada hoje? - Kara fechou os olhos ao sentir Eliza beijar sua testa. Seu peito encheu-se de emoção. Eliza só a beijava daquela maneira quando estava num dia agradável.