"Acha que é assim com todos os nossos sonhos e pesadelos? Tem que alimentá-los para ficarem vivos?"
-Russell Crowe
Ele tinha sempre o mesmo sonho. Pelo menos era sempre o mesmo sonho nos últimos meses. Caminhava em um lugar que era composto por mármores de marfim e com desenhos de serpentes, uma devorando a outra. O chão, apesar de quente, não o machucava, muito pelo contrário: fazia um agrado engraçado em seus pés descalços.
Bem à frente tinha algo que poderia se assemelhar a um castelo feito de mármore e com ilustrações estranhas. Ouvia os gritos, o barulho de chicote, ouvia as lamúrias e as piedades, mas por incrível que pareça, ele não deu atenção para nenhuma delas. Não se importava com nenhuma delas para falar a verdade.
Engolindo em seco, continuou a caminhar e a ouvir vozes em sua cabeça que não parava de sussurrar e de rirem baixinho para ele. Era como se as vozes de certa forma o guiassem para onde quer que ele estivesse indo.
Aproximou-se do castelo, mas lá não tinha ninguém. Sua pele formigava sem parar, seus braços ficavam coçando tanto que brotoejas formavam no local, juntamente do sangue. Nada daquilo era real. Era completamente ilógico e ele, Jung Hoseok era uma pessoa lógica. Era preciso ver para crer e ele sabia muito bem que nesse instante o seu cérebro estava desligado em um profundo sono enquanto não chegava a hora de se levantar para poder ir para a faculdade.
— Fique calmo. Nada disso é real.
Mas, como dizer aquilo para a sua pele que formigava e que parecia estar em chamas? Crispando os lábios, ele se aproximou mais e se maravilhou com o que viu. O martírio não deveria ser tão desejoso como era agora. Não deveria ser tão atraente, e ele sabia bem disso. O martírio deveria deixá-lo com medo, apavorado até. As almas que ali estavam presentes em forma de estátuas e que choravam sangue pareciam quase implorá-lo para que as libertasse de uma vez por todas. Se seus pés se movessem, talvez ele pudesse encontrar algo para ajudá-las. Mas, ele sabia, bem no seu íntimo, no fundo da sua mente e do seu coração, que ele não queria ajudá-las. O seu lado sádico que até o espantava de vez em quando, queria que essas almas sofressem, porque embaixo de cada uma delas, estava escrito crimes terríveis que foram cometidos.
Estuprador.
Genocida.
Torturador de crianças.
Até a mulher, que tinha o rosto angelical, que parecia tão pura e inocente, também tinha algo gravado em sua estátua:
Assassina de crianças.
Quando olhou para a mulher novamente, ela parecia quase sorrir. Parecia que se orgulhava de seu pecado, de seu crime. Já não bastava a sua estátua estar marcada de manchas de sangue, de suas mãos estarem perfuradas e de seus olhos estarem cegos.
Ouviu um arrastar suave de pés e assim que se virou viu um homem tão belo quanto a noite e seus dentes tão afiados quanto de um tubarão. Seus cabelos negros eram rebeldes e suas asas negras eram belíssimas e lustrosas. Usava somente uma calça, mas seu abdômen era marcado por marcas cruéis, por cicatrizes de algo cortante. Ele se aproximou da estátua da mulher e acariciou o rosto dela.
— Ah, Hyuna. Quantas chances você já teve nessa vida? Eu sempre lhe avisei para manter cuidado, mas você não me deu ouvidos. Melhor assim. O martírio sempre me divertiu mesmo.
Ele portava consigo uma espécie de adaga prateada com o cabo revestido em rubis. Aproximou-se da estátua humana e a mulher estremeceu, implorando para que ele parasse.
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Shameless (Yoonseok)
Fanfiction|EM ANDAMENTO| LIVRO FÍSICO PELA EDITORA DNA EM BREVE Há vinte anos, Hell, o senhor do Inferno foi enganado por uma mera mortal. Corroído pelo ódio e pelo desejo de vingança, ele aguardou ansiosamente para o filho da traidora nascer e crescer. Prest...