M A R C A

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"O demônio é mais diabólico quando é respeitável."

                                                                                                                                                             -Robert Browning



A marca queimava ainda mais quando Hoseok entrou em casa sabendo que encontraria a mãe fora, trabalhando. Ela não parava de queimar e coçava tanto que ele estava começando a ficar desesperado com aquilo tudo.

Desenfaixou o braço que havia enfaixado durante a madrugada e observou a marca avermelhada que parecia um corte de faca.

Um corte de punhal igual ao do meu sonho, pensou consigo mesmo.

Ele foi direto para o chuveiro e cuidou do machucado, jogando bastante antisséptico, pomadas e ataduras. Aquilo tinha que melhorar logo e ele não poderia se dar ao privilégio de somente pensar nessa maldita marca enquanto tinha uma prova importante de genética em menos de dezoito horas.

Não sabia porque diabos a imagem do anjo de asas negras e da estátua humana haviam decolado pela sua mente e o faziam pensar na maldade humana. Aquilo com certeza era delírio e falta de sono, só podia. Ele precisava dormir, isso era fato. Precisava dormir um pouco, mas ele tinha uma prova no dia seguinte! O que fazer em situações como essa?

Ignorando o cansado de seu corpo, resolveu encarar o cansaço de seu cérebro e forçou-se a estudar sem parar durante três horas seguidas, ou até mais, até ouvir a porta da frente se abrir e sua mãe, vestida dos pés à cabeça com roupas quentes, entrar com duas sacolas pesadas em suas mãos.

— O clima em Seul está ficando cada vez mais gelado — ela comentou com um enorme sorriso no rosto que realçava um pouco as rugas que começavam a aparecer em sua bonita pele. — Trouxe comida. Você vai querer?

— Não sei se estou com muita fome. Tenho uma prova importante amanhã. Eu tenho que estudar mais.

— Não acha que está estudando muito nesse ritmo, querido? — ela comentou, tirando duas embalagens de isopor das sacolas, juntamente de hashis.

Omma, se eu quero ser um neurocirurgião eu tenho que me matar de estudar — debruçou sobre os livros, mas logo sentiu o cheiro da comida deliciosa que exalava de dentro daquelas embalagens de isopor.

— E você é brilhante, meu querido, mas às vezes até os gênios precisam de um pouco de descanso.

Ele suspirou encarando o gigantesco livro à sua frente. Eram tantas anotações que tinha ali, tantos pensamentos, tantas teorias...

— Eu te amo, Hoseok e eu sou a sua mãe — os olhos castanhos da mulher brilharam. — E eu sei o que é melhor para você. E, o melhor para você nesse momento é fechar esse livro, comer alguma coisa e descansar. Você já sabe essa matéria de trás pra frente.

— Amanhã após a prova vamos ao IML com a professora de anatomia.

— Vão ter que analisar algum corpo justo no IML?

— A faculdade está sem estoque de nossas línguas de boi ou de rãs — Hoseok explicou, beliscando um pedaço de carne com o seu hashi.

A mãe, porém, não gostava nem um pouco da ideia. Submeter ao seu filho, seu bebezinho como costumava chama-lo em momentos "mãe e filho" a corpos que provavelmente estavam dilacerados, era demais.

Shameless (Yoonseok)Onde histórias criam vida. Descubra agora