"Despertencimento"

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Eu tenho as vezes uma sensação de que eu não pertenço a certos lugares.

Não é incomum que eu veja um grupo de jovens da minha idade e me pergunte: "O que eu estou fazendo aqui?"

Também não é incomum eu estar com minhas amigas e ser espremida em um grupo que não faço parte por causa delas, onde eu acabo não conseguindo conversar ou me entrosar.

Minha avó diz que eu devo ser amiga de todos e buscar ser "enturmada" o máximo que posso.

Mas por algum motivo eu não consigo não sentir a sensação de que serei rejeitada a qualquer momento.

Mas essa sensação nem sempre existiu. Sei bem da onde surgiu: O quinto ano.

Ah! A infância! Uma época mágica cheia de luz, brinquedos, imaginação e muita diversão. Para alguns sortudos. Mas o que acontece nela te afeta por TODA a vida.

Não vou ser ingrata e dizer que minha infância inteira foi ruim ou solitária em solidariedade com aqueles que REALMENTE passaram por isso.
Mas creio que posso me queixar um pouco já que nunca deixo transparecer no dia a dia minhas profundas e abertas feridas. Elas doem, mas eu as escondo. Chegou a hora de falar sobre elas.

O quinto ano foi o que eu costumo chamar (pra mim mesma) de "O pior ano da minha vida". Um período de 365 dias que mais pareceram décadas.

Meninas novas chegaram na classe nessa época, aparentemente mais fascinantes para minhas "amigas" do que eu. Não demorou muito pra que elas se sentassem conosco. Eu estava feliz por conhecer mais pessoas, nunca me pareceu ser problema deixá-las se aproximar.

Imagino que tenham visto algo em mim que as fez pensar que não valia a pena me manter. Talvez meu jeito de falar, de me expressar, de ser.
A única coisa que eu tenho certeza é que não foi nem um pouco difícil pra elas me descartar.

"Mas e as outras meninas da classe?" Você deve estar pensando. "Deviam aceitar você em algum lugar."

Eu tentei. Eu juro que tentei.

A maioria das meninas já tinha seus grupinhos fechados, mas algumas abriram espaço pra eu sentar com elas e não ficar sozinha.

Se há uma frase que realmente define como me sentia com aquelas meninas seria: "Pior do que estar sozinho, é estar rodeado de pessoas que te fazem se sentir sozinho".

Conversavam sobre coisas que eu não entendia ou faziam bullying comigo, escondendo meu lanche, me ignorando ou passando ranho em mim (sim, isso mesmo que você leu).

Minha mãe dizia que eu poderia ser feliz sozinha, mas nenhuma criança merece ficar completamente sozinha.

Depois de ser constantemente rejeitada por um ano, eu aprendi que as pessoas sempre podem te descartar, sempre podem se cansar, sempre podem te afastar.

E o que eu puder fazer pra impedir isso eu tenho feito, mesmo que isso me custe minha própria identidade.
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"Have you ever felt forgotten in the middle of nowhere?" - Dear Evan Hansen

Desabafos de uma Menina em DesenvolvimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora