01 - Quites 🩸

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CHULHWA - 01

— São só cinco dias — eu dizia, enquanto fumava um cigarro, atento à ponta da estação, de onde meu trem viria.

— Só cinco dias? Ah, tá, ok… mas em um só dia seu patrão já conseguiu arrancar até meu fígado no trabalho. Como você aguenta isso? — questionou Da On, com sua voz fazendo um drama em meu ouvido. E por Deus, como alguém conseguia ser tão mole?

— Ele provavelmente só estava te testando, vai ser melhor amanhã — eu disse, com o cigarro entre os lábios, ajeitando minha mochila nas costas. — O que há de tão difícil em fritar hambúrguer?

— Cortar o pão? Montar a salada? Embalar? — fez uma pausa. — Fazer isso noventa vezes no dia?!

Eu afastei meu celular do meu ouvido, afetado pelo grito estridente, e suspirei. — Você não precisava de um trampo para consertar sua moto? Por que tá reclamando?

— Seu patrão é um carrasco, é o Gordon Ramsey do x-salada — grunhiu, e eu girei meus olhos, porque Da On era um mimadinho do cacete.

— Mas agora você já combinou comigo, e se você me deixar na mão, eu juro que eu nunca mais falo com você na vida — ameacei.

— Onde estão as desvantagens? — me perguntou.

Eu mordi minha língua para não xingá-lo até a primeira geração de sua família. — Você quer que eu mencione Busan?!

— Não, não, não — pediu.

Da On e eu éramos amigos desde o primeiro ano, e hoje, cinco anos depois, somos os únicos conhecidos um do outro que sobraram daquela época. Enfim, acontece que no ano passado, quando viajamos para Busan, eu fingi ser ele em um encontro com uma das meninas que ele conhecera na internet, porque no mesmo dia ele esbarrou com uma gata na balada. Eu acho que era uma gata, foi ele quem disse. Durante uma noite inteira eu suportei aquela menina me chamar de Da On e tocar em assuntos que ele conversava com o verdadeiro Da On por mensagens, até ela perceber que eu não era ele, e me dar um puta tapa no rosto e quase chamar a polícia.

Ele certamente não queria que eu mencionasse isso.

— Então só faça um esforcinho e cubra meu horário esses dias — pedi no telefone. — Você não estará trabalhando de graça, meu.

— Nossa, Jimin, nossa — foi o que ele disse. — Você me deve uma, ein.

Eu ri, tragando o cigarro mais uma vez. — Não, você estava me devendo. Agora estamos quites.

— Jimin! — ele chamou, mas eu encerrei a ligação, enfiando o celular no bolso.

Da beira da plataforma eu conseguia ver que as nuvens estavam escuras e certamente em algum lugar já estava chovendo, mas isso não me desanimou. Nada iria me desanimar, nem o peso da minha mochila em minhas costas, apesar de eu ter que tirá-la e deixá-la no chão, até que o trem chegasse. Pensei comigo, que talvez eu devesse ir pra academia, porque apesar de ser bem novo, eu não aguentava muito peso. Digo, quando eu trabalhava no depósito de um hipermercado eu era malhado, de tanto carregar caixas, mas depois que saí de lá, meu corpo assumiu um formato mais franzino. O fato de eu não ser lá muito alto, não ajudava, e quando meu cabelo crescia muito eu sentia minha cabeça dobrar de tamanho, me fazendo parecer um daqueles bonequinhos cabeçudos que a gente ganhava antigamente nos Fast Foods. Então, sempre tendo a manter meu cabelo cortado bem rente, nas laterais, enquanto deixo minha franja se estender um pouco, e no último mês eu o descolori e pintei de rosa, e agora o sentia bem ressecado. O que tá tudo bem também, pois me dá um ar um pouco mais punk e eu gosto disso.

CHULHWA - jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora