6

2 1 0
                                    


Josh Beauachamp P.O.V

Any Gabrielly está a fim de um jogador de futebol americano.Não dá para acreditar nisso, mas como já a ofendi uma vez hoje,tenho de pisar em ovos se quero dobrar a menina.Espero até estarmos no Jeep e coloco o cinto antes de lançar,com cuidado, a pergunta. 

-E aí, há quanto tempo você quer pegar...digo, fazer amor com Char? -Ela não responde, mas posso sentir seu olhar mortal em meurosto. -Deve ser bem recente, já que ele só foi transferido há doismeses.- Pressiono os lábios. -Certo, vamos considerar que faz ummês.- Sem resposta. 

Viro-me para ela de relance e vejo que seu olhar é ainda maisameaçador. No entanto, mesmo com a expressão fulminante,continua gata. Tem um dos rostos mais interessantes que já vi —as maçãs do rosto bem arredondadas, a boca um tanto arrebitada,e, combinados com a pele morena, os olhos castanhos vívidos e umapintinha perto dos lábios. O visual é quase exótico. E o corpo...cara, agora que reparei nele, não consigo "desreparar".

 Mas me lembro de que não estou levando Any para casana esperança de me dar bem. Preciso muito dela, e dormirmosjuntos só estragaria as coisas.Hoje, depois do treino, o treinador me chamou num canto eme deu um sermão de dez minutos sobre a importância de manter as notas na média. Bem, chamar aquilo de sermão é bondade minha.Suas palavras exatas foram: "Mantenha as notas azuis, ou vou enfiaro pé com tanta força na sua bunda que você vai passar anossentindo o gosto da graxa do meu sapato na boca".

 Inteligente que sou, perguntei se as pessoas ainda engraxam osapato, e ele respondeu com uma sequência de impropérioseloquentes, antes de sair feito um furacão.Não estou exagerando quando digo que hóquei é tudo na vidapara mim — e acho que eu não teria escolha, sendo filho de umfodão do rinque como meu pai é. O velho tinha meu futurointeirinho planejado quando eu ainda estava na barriga da minhamãe — aprender a patinar, aprender a bater com o taco, chegar àliga profissional, fim. Afinal de contas, Ron Beauachamp tem umareputação a zelar. 

Quer dizer, imagina só como ele se sentiria se ofilho não virasse um jogador profissional...Não vou negar, tem um quê de sarcasmo aí. E aqui vai umaconfissão: não gosto do meu pai. Ou melhor, eu o odeio. A ironia éque o filho da mãe acha que tudo que fiz foi por ele. Os treinospesados, os hematomas pelo corpo inteiro, me matar vinte horaspor semana para progredir no rinque. Ele é arrogante o suficientepara acreditar que faço tudo isso por ele.Mas está errado. 

Faço por mim. E, em menor grau, parasuperar o meu pai. Para ser melhor do que ele.Não me leve a mal — adoro o jogo. Vivo pelo barulho datorcida, a sensação do ar gelado no rosto ao voar sobre o gelo, osom do disco quando acerto uma tacada que acende a luz do gol.Hóquei é adrenalina. É empolgante. É... relaxante até.Olho para Any mais uma vez, imaginando o que fazer parapersuadi-la, quando, de repente, percebo que estou encarando essasituação com o Char de forma errada.

 Porque, de fato, não achoque ela seja o tipo dele... mas como é que ele pode ser o dela? Gilespie é do tipo forte e calado, mas já conversei com o cara osuficiente para enxergar por debaixo da máscara. Faz pinta demisterioso para atrair as garotas e, assim que elas mordem a isca,ele abusa do seu charme para entrar debaixo da saia delas.Então por que uma menina centrada como Any Gabrielly ficaria babando por um cafajeste feito Charlie?

-É só tesão ou você quer namorar com ele?-, pergunto,curioso. 

Um suspiro exasperado ecoa dentro do carro. 

-Será que dápara mudar de assunto?- Dou seta para a direita e me afasto da rua das repúblicas, emdireção ao campus. 

-Me enganei a seu respeito- digo, com franqueza. 

𝓞 𝓐𝓬𝓸𝓻𝓭𝓸\𝐁𝐞𝐚𝐮𝐚𝐧𝐲ᵃᵈᵃᵖᵗᵃᶜ̧ᵃ̃ᵒOnde histórias criam vida. Descubra agora