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Any Gabrielly P.O.V

No domingo de manhã, minha mãe liga para a nossa conversasemanal, pela qual faz alguns dias que estou ansiosa. Quase nãotemos tempo de bater papo durante a semana, porque estou emaula durante o dia, ensaiando no fim da tarde, trabalhando oudormindo na hora em que minha mãe termina seu turno da noiteno supermercado.A pior coisa da vida em Massachusetts é não poder ver meuspais. 

Sinto uma falta imensa deles, mas, ao mesmo tempo,precisava me afastar, ir embora de Ransom. Só voltei uma vezdesde a formatura da escola e, depois disso, todos nósconcordamos que seria melhor se eu não aparecesse mais em casa.Minha tia e meu tio moram no Brasil, então meus pais e eupassamos o feriado de Ação de Graças e o Natal lá. No restante dotempo, nos falamos por telefone, e, com sorte, eles vão conseguirjuntar um dinheiro para poder vir me visitar.

 Não é o melhor esquema, mas eles entendem por que nãoposso voltar para casa. E eu não só entendo por que não podemsair, como sei que a culpa é minha. Também sei que vou passar oresto da vida tentando compensá-los. 

-Oi, querida.- A voz de minha mãe envolve meu ouvido comoum abraço caloroso. 

-Oi, mãe.- Ainda estou na cama, enrolada nas cobertas eolhando para o teto.- Como foi a prova de ética?

-Tirei dez.

-Parabéns! Está vendo? Disse que você não tinha nada comque se preocupar.

-Confia em mim, tinha sim. Metade da turma reprovou.- Rolo para o lado e descanso o telefone no ombro. -Como está opapai?

-Bem.- Ela faz uma pausa. -Pegou turnos extras na fábrica,mas...- Meu corpo fica tenso. 

-Mas o quê?

-Mas parece que a gente não vai conseguir passar o feriado deAção de Graças na tia Nicole, querida.- A dor e o pesar em sua voz me dilaceram como uma faca.

 Lágrimas ardem em meus olhos, mas pisco, afastando-as. 

-Você sabe que acabamos de consertar o vazamento notelhado e que isso foi um golpe e tanto nas nossas economias- explica minha mãe. -Não temos dinheiro para a passagem.

-Por que vocês não vão de carro?- pergunto, baixinho. -Não étão longe assim...

- Aham, só umas quinze dias de volante.Pertinho, só que não. Se a gente fizer isso, seu pai vai ter que tirar mais dias defolga, e não dá para ficar sem esse dinheiro.- Mordo o lábio para impedir que as lágrimas caiam. 

-Talvezeu pudesse...- Faço uma conta rápida das minhas finanças. 

Definitivamente não tenho dinheiro para três passagens de aviãopara o Brasil.Mas tenho para uma até Ransom. 

-Posso pegar um avião até aí- sussurro. 

-Não.- Sua resposta é rápida e inequívoca. -Você não precisafazer isso, Any.

-É só um fim de semana.- Estou tentando me convencer, enão a ela. 

Tentando ignorar o pânico que me sobe pela gargantadiante da simples ideia de voltar lá. 

-A gente não precisa ir até ocentro nem ver ninguém. Posso só ficar em casa com você e opapai.- Outra pausa longa. 

-É isso o que você quer mesmo? Porque sefor, então vamos recebê-la de braços abertos, você sabe disso,querida. Mas se você não está cem por cento confortável com isso, então quero que fique na Briar.- Confortável? Acho que nunca mais vou me sentir confortávelem Ransom de novo.

 Eu era uma pária antes de sair, e, na únicavez em que voltei para visitar, meu pai foi preso por agressão.Então, não, voltar é tão atraente quanto cortar os braços e dar decomer aos lobos.Meu silêncio, ainda que breve, é toda a resposta de que minhamãe precisa. 

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⏰ Última atualização: Jul 14, 2021 ⏰

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𝓞 𝓐𝓬𝓸𝓻𝓭𝓸\𝐁𝐞𝐚𝐮𝐚𝐧𝐲ᵃᵈᵃᵖᵗᵃᶜ̧ᵃ̃ᵒOnde histórias criam vida. Descubra agora