Sexta-feira, 13 de abril, Santa Fé, MéxicoCinco anos depois
Era uma noite gélida em Santa Fé. Como em todas as outras noites anteriores àquela.
O vento corria veloz e despreocupado com o barulho que faria com o bater de janelas ou o assopro fino e alto que se tornaria entre arestas de madeira em alguma daquelas tantas casas, enfileiradas, resolutas e neutras. Quase sem vida.
Era uma estrada larga pela qual o vento fazia sua rota. Rápido demais e então devagar. Quase parando. Até que as janelas pararam de bater e o assobio cessou. O vento se calou. Agora era hora de outro elemento se destacar: a lua.
Estava cheia, iluminando a estrada e as árvores que eram dispostas por sua extensão. Lua cheia. Era um dia especial.
Ao longo da estrada, já próximo novamente das casas, havia uma loja de conveniência que nunca se fechava. As lâmpadas pediam arrego. Algumas falhavam, nunca poderiam ser tão imbatíveis quanto a lua, que continuava a se manter invencível, no céu.
Talvez fosse este o segredo de tudo: manter distância. Ela sempre conseguia estar segura porque nunca estava perto o suficiente para que alguém a ferisse.
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A campainha soou quando a porta se abriu, anunciando um novo cliente à loja. Durante o turno da noite, não era comum que o movimento fosse grande, por este motivo, o som estridente se fazia poucas vezes.
Anahí organizava algumas prateleiras de cereais quando um velho barbudo entrou na loja de conveniência, localizada em um estacionamento próximo à estrada principal da região, e então pediu dois maços de cigarro. Ela parou o que estava fazendo até então, arrumou seu avental azul e correu até o caixa.
— Aqui está, senhor. — Anahí disse, entregando os maços de cigarro ao homem.
O velho pigarreou, pegando as caixas e saindo rápido do lugar, sem sequer agradecer. Mas Anahí apenas suspirou. Ela estava acostumada com aquilo.
Ela arrumou o coque de seu cabelo, alisou o avental novamente e então retornou à prateleira. Eram quase duas da manhã, seu expediente se encerraria apenas às quatro. Ela se deixou concentrar na tarefa que fazia e sua mente vagou por qualquer pensamento trivial enquanto seus olhos eram recheados pela visão de caixas de cereais de diferentes marcas.
Anahí fazia as ações robótica e mecanicamente. Ela estava acostumada com aquilo, há dois meses sua rotina era a mesma, desde que retornara à Santa Fé: organizar a loja, atender os clientes e aguardar Tânia, que atenderia no expediente matutino.
As coisas eram tão repetitivas que ela não poderia achar que algo diferente aconteceria aquela noite. Mas aconteceu.
Ela seguia organizando os pacotes quando ouviu a campainha soar novamente. Suspirou, descendo da escada em que estava para alcançar a prateleira superior e indo até o caixa. Anahí caminhou enquanto amarrava seu avental nas costas, posicionou-se atrás do balcão e por fim encarou o cliente que, por coincidência, já havia visto há alguns anos.
— Boa noite. — Alfonso desejou, olhando para o pacote de salgados que tinha em mãos. — Pode passar este pra mim?
Alfonso olhou Anahí nos olhos finalmente para então retesar, congelar e ser tomado por um deja vu confuso e nebuloso. Ele tinha certeza de que conhecia a mulher que agora o encarava com um olhar espantado e estarrecido. Ele só não se lembrava de onde.
Anahí engoliu em seco e desviou o olhar para as mãos de Alfonso, observando a mercadoria.
— Claro. — ela respondeu, tentando conter o nervosismo na voz, enquanto o leitor de código de barras fazia o barulho convencional, marcando o preço de venda do pacote de salgados que Alfonso compraria.
Naquela madrugada, uma nova sexta-feira treze se iniciava. Resta saber como ela terminaria.