sexta-feira treze dois

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Sexta-feira, 13 de janeiro, Santa Fé, México

Cinco anos atrás

Alfonso caminhava próximo à orla da praia quando um som o fez parar e fitar o chão coberto por pedregulhos.

Neste momento, ele sentiu como se estivesse vivendo aquilo novamente.

Era noite. As ondas do mar batiam contra as rochas em pancadas fortes, soando alto. O mar estava agitado.

Ele guiou seus olhos para a praia, em direção ao mar, mas não podia ver ninguém. A areia era marcada por pegadas das centenas de pés que passaram por ali durante o dia. Todavia, no momento atual, com o céu negro e o lugar deserto, Alfonso não via ninguém, apenas ouvia.

Ele se conteve, apesar do som atrativo fazê-lo querer parar, voltando ao seu destino. Alfonso precisava retornar à sua casa rápido, estava tarde e ele sabia dos perigos de caminhar próximo à floresta quando a madrugada se aproximava.

Apesar de tentar se conter, sua missão pareceu impossível. O canto parecia ainda mais forte conforme ele se distanciava do mar, como se algo precisasse dele. Ele olhou para a maré forte e não viu ninguém, mas ouviu um canto que fez seu coração bater mais forte.

Ele saiu da orla em direção à areia e seguiu para as águas, tentando buscar com a audição de onde o som angelical saía. A água era agitada e quente, mas ele sequer se deu conta disso.

Alfonso olhou para trás quando já estava semi imerso nas águas e então virou seu olhar novamente para o horizonte negro do mar. Sua visão foi tomada por um rosto familiar e olhos ainda mais conhecidos.

— Que bom que voltou. — ela disse, aproximando-se dele.

— Quem é você? Qual é seu nome? — ele perguntou analisando o rosto da mulher misteriosa. — Eu conheço você.

— Anahí. — ela respondeu, admirando o rosto de Alfonso, que pela segunda vez após mais de um ano, naquela mesma sexta-feira treze, havia retornado. — Venha. — Anahí o puxou pela mão para que ele a seguisse, mais uma vez, até o fundo do mar.

Na manhã seguinte, Alfonso acordou novamente abandonado no meio da praia do litoral de Santa Fé. Ele estava consternado por não saber como havia parado ali. Mais consternado ainda porque sabia que aquilo já havia acontecido.

E esta mesma situação voltaria a se repetir na sexta-feira treze do ano seguinte e em todos os próximos, caso uma descoberta hereditária não houvesse acontecido, mudando a essência e a relação de Alfonso consigo mesmo.

Durante os cinco anos seguintes, ele se manteve distante do mar, que ficava também próximo à floresta.

Nas sextas-feiras dos anos seguintes Anahí voltou a cantar, mas Alfonso não retornou.

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