Melissa
"Eu leio sua mente, sem nenhuma intenção de ser cruel"
Carrie - Europe
— Algum problema, senhor Valmont? — indaguei, após sairmos da sala de reuniões. Erámos os últimos a sair.
— Você viu minha caneta? — pôs a mão no bolso do paletó escuro. Contudo não o respondi, pois fiquei espantada ao ver os passos apressados do senhor Smith, gerente do RH, vindo em minha direção.
Ele tinha um sorriso enorme. Merda. Ele descobriu...
— Senhorita Ericsen! — praticamente, freou os pés bem rente ao meu corpo. — Meus parabéns! — entregou-me um cupcake e sorri gentil com a ação, por coincidência de morango e baunilha. Um dos meus sabores favoritos.
— Oh, muito obrigada — fiquei envergonhada.
— Não há de quê, senhorita. Muita saúde e realizações — tocou meu ombro e concordei com a cabeça. — Senhor Valmont — o homem cumprimentou o líder da empresa e saiu pelo o corredor assoviando.
— Não sabia que é seu aniversário — ele deu com um sorriso torto. E meu Deus, que homem. — Meus parabéns.
— Obrigada — desviei o olhar, parecia bobagem, mas às vezes sentia o meu chefe ser intenso demais. O que soava contraditório, já que ele tem uma seriedade sem tamanho.
— Imagina — continuamos a andar. — O senhor Smith parece interessado em você — riu com a mão no bolso. — Desculpe-me, mas é notável demais.
— E o que o senhor tem a ver com isso? — acho que a esta altura, ele já tinha esquecido da caneta. Contudo, só percebi o nível de petulância ao retrucá-lo, quando já tinha o feito.
Senti minhas bochechas queimarem de vergonha, enquanto me encarava com as sobrancelhas franzidas.
— Desculpe, senhor Valmont, eu não deveria ter dito... eu... — me perdi nas palavras, um tanto retraída pela conversa que estávamos desenvolvendo. Nunca me passou pela cabeça o senhor Smith e eu. Na verdade, na maioria das vezes, ele despojava de conversas tão desinteressantes que, se caso eu realmente estivesse interessada, desistiria.
— Sem mais delongas, senhorita. Eu, que na verdade, devo pedir desculpas, não tenho por qual razão expressar minhas observações a respeito da sua vida pessoal.
Observações. Então era isso?
— Estamos desculpados um com o outro, certo? — riu e abanei a cabeça. — Só tem língua para me acusar, é isso, senhorita Ericsen? — A seriedade no olhar dele me fez ainda mais envergonhada — Brincadeira — deu um sorriso. — Contanto que não me trate mal, claro — chamou o elevador.
Que diabos. — Eu não o trato mal, Senhor Valmont — rebati e ele se virou para me olhar. — Por que pensa isso de mim?
— Eu não penso — deu de ombros e entrou no elevador. — O que foi? — estava esperando que eu entrasse também.
— Vou comer meu cupcake antes.
— Coma depois, estamos atrasados. O senhor Lee já está a minha espera no escritório.
— Achei que tinha decidido a proposta — meu pensamento saiu em voz alta, o que fez seus olhos me encararem assim que as portas metálicas foram fechadas. — Desculpe — encolhi os ombros. — Eu vou comer esse doce e ficar calada.
Ele riu, antes de pegar o celular.
— Aceita? — ofereci o fazendo tirar a atenção do aparelho. Só o fiz por educação. Desejei que negasse.
— Não, obrigado — guardou o celular. Comi o doce o mais rápido possível. Chegamos ao andar. — Tem chocolate na ponta do seu nariz — avisou e com urgência, tratei de limpar. — Que pena, estava uma graça.
— O quê?
— Nada, senhorita — deu um sorriso singelo e saiu à minha frente.
No fim do expediente, como uma ironia do destino, o elevador ao invés de descer, subiu e parou no andar do meu chefe. Ajustei minha postura.
—Senhorita Ericsen — apertou o botão para a garagem do subsolo.
— Achou a caneta? — resolvi puxar assunto do ocorrido no turno da manhã. Depois de nos encontrarmos com o senhor Lee, voltei à minha sala e fiquei lá o resto do dia.
— Sim, o pessoal da limpeza a encontrou caída no chão sala de reuniões — disse brando e o começamos descer, contudo, parou novamente, mas não no lugar desejado. Vi o senhor Smith entrar com um sorriso enorme, parou bem ao meu lado e falou:
—Estou levando esses documentos no quinto andar e depois irei embora. Gostaria de uma carona?
— Obrigada, senhor Smith, é muito gentil —fui sincera — mas já pedi um carro pelo aplicativo — menti. Porém, eu iria fazer isso assim que chegasse ao térreo.
— Sério? — pareceu triste. — É, que hoje é seu aniversário... eu pensei que... poderíamos...
— Senhorita Ericsen — o senhor Valmont, que estava recostado na parede, nos interrompeu — podemos tratar sobre aquela matéria publicada hoje à tarde? Sei que já findou o horário, mas é preciso. Por favor?
Cedi. — Sim, senhor. — Era muita ousadia por parte dele, falarmos sobre isso a esta altura.
— Ótimo.
— Você está muito bonita, hoje — senhor Smith disse de repente e ruborizei, afinal, não tínhamos laços profundos de intimidade. — Corrigindo minha fala, você é muito bonita.
— Obrigada — agradeci, morrendo de vergonha.
— É uma pena não aproveitar seu aniversário — disse, e eu já estava começando a ficar irritada. Por sorte, ele chegamos ao andar de destino e assim que ele saiu, senhor Valmont clicou no botão repetida vezes, como se evitasse que Gael Smith voltasse.
— Não há nada a ser checado, senhorita Ericsen. Apenas notei que não estava à vontade.
— Obrigada — ri de alívio.
— Posso te dar a carona — puxou assunto e sorriu — digo, se quiser. Afinal, é muito mais seguro do que pedir um carro.
Neguei dizendo que não queria incomodá-lo. Porém insistiu, dizendo que não seria um incômodo.
Pensei que provavelmente, ele morava na Upper Easter Side ou Manhattam. Então, mudar a rota apenas por uma mera carona, me sujeitou a pensar coisas que talvez, não fossem coesas com o profissionalismo. Espantei isso para longe.
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Meu assessorado
RomanceMelissa Ericsen tem um relacionamento sério com o trabalho. Após perder uma de suas maiores propostas de emprego por causa de seu ex-noivo, a jovem resolveu priorizar a carreira. Sem distrações e empecilhos, ela acredita que tem tudo sob controle...