Strawberries & Cigarettes | vhope

remember when we first met

Oi pessoinhas ><

Continuando a saga de passar minhas fics para cá, decidi trazer uma das que eu mais gosto :3

Aproveitem a leitura e deixem um votinho aí, vai ~

(...)

Kim Taehyung era o estereótipo do bom menino. Era do tipo que as pessoas viam crescer na pequena cidade encrustada no finalzinho do mapa da Coreia, próximo a Sokcho – mas sem oferecer tantas belezas quanto – e sorriam simpáticas mesmo sem nunca terem trocado uma palavra com ele. Kim Taehyung era do tipo que se um dia os policiais vissem conversando com marginais ou traficantes, repreenderiam os meliantes por tentarem desvirtuar o bom garoto de seu caminho. Também era do tipo que sabia diferenciar os semblantes bondosos que lançavam para ele: podia facilmente identificar quem apenas o achava um bom garoto daqueles que sentiam pena de sua situação. Em uma cidade pequena, nada era segredo, especialmente se você tinha perdido o pai ainda muito novo e dividia uma casa simples com uma mãe alcoólatra e agressiva. Mas Taehyung não gostava desses olhares, dos de pena. Achava-os covardes, pois não mudava em nada sua situação. E não era como se ele estivesse pedindo para que alguém intervisse, já aceitara seu destino sem possibilidades na cidade minúscula e sem oportunidades. Não se permitia sonhar muito, pois não havia muito com o que sonhar – mas apenas caso alguma coisa mudasse, separava uma parte minúscula do salário que ganhava no bar e lanchonete onde passava o dia trabalhando como garantia.

É nesse bar, na verdade, que a história de Taehyung começa a mudar. Ele limpava a madeira gasta e envelhecida do Bar e Lanchonete dos Kim com um esfregão em mais uma noite de movimento normal quando o universo decidiu desdobrar as teias do destino e mostrar-lhe que ele tinha opções e que poderia escolher. Naquela noite, a velha caixa de som parecia ter agarrado nos bons rocks dos anos oitenta e Taehyung particularmente amava os acordes roucos e arrastados que acompanhavam as vozes que preenchiam o estabelecimento. Ele cantarolava Ol' 55 dos Eagles da melhor maneira que podia quando ouviu o arranhar característicos das portas vai e vem do bar sendo empurradas. Ele ergueu o rosto, fosse para saudar clientes conhecidos ou analisar os nomes fregueses. Esses eram novos e Taehyung parou todos os movimentos quando os observou caminhando confiantes até saírem minimamente da direção da porta e olhando ao redor. Um deles era mais baixo e usava uma camisa de flanela, listrada de vermelho e preto. Sua calça de lavagem cinza escura era gasta nos joelhos e os olhos pequeninos eram afiados por baixo dos fios loiro-acobreados. Ao lado dele, um homem mais alto e de peito largo parecia analisar o bar com seriedade, os fios compridos tocando abaixo dos olhos e a mão se revelando lotada de tatuagens quando ele a ergueu para tirá-los do caminho de sua visão. Essa segunda figura usava uma jaqueta de couro cujo braço esquerdo carregava uma bandana preta com desenhos brancos que, de sua distância, Taehyung não soube dizer do que se tratavam. Ele também usava coturnos brutos e quando os olhares acidentalmente se encontraram, o bom menino sentiu um arrepio nervoso correr sua espinha. O olhar penetrante era intimidante e Taehyung estava preparado para voltar aos seus afazeres quando a porta balançou mais uma vez, revelando a terceira presença que marcaria a noite onde sua vida dava a primeira guinada em direção à mudança.

Kim Taehyung, além de bom menino, trabalhador e amante de rock antigo se tornaria a prova viva de que o amor à primeira vista era algo real. Na verdade, até aquele momento, ele se enquadrava na turma dos céticos sobre esse assunto. Mas anos mais tarde ele diria com uma certeza absoluta ressoando em sua voz: amara Jung Hoseok desde o momento que suas botas gastas tocaram o chão do Bar e Lanchonete dos Kim pela primeira vez. Ele caminhou até estar um passo à frente dos outros dois, em uma formação triangular que seria cômica, quase digna de filmes de colegial adolescente, não fosse a força vibrante que as três presenças irradiavam. A última figura andava como se fosse dono do lugar, em passos duros que faziam os fios compridos balançarem contra seu rosto. A jaqueta jeans mostrou-se rasgada nos cotovelos quando ele levou ambas as mãos cobertas por luvas de motoqueiro – do tipo de couro que deixa apenas os dedos de fora – a ajeitar os óculos escuros no topo da cabeça. Taehyung perdeu completamente a noção de tempo e espaço, sendo acordado do próprio devaneio quando o estrondo do esfregão batendo contra o chão chamou a atenção de alguns fregueses, incluindo os três mosqueteiros – Taehyung se decidiu por chama-los assim – que acabavam de chegar. O mais baixo parecia olhá-lo com certa confusão e pena, quase como se estivesse prestes a abaixar-se para pegar o esfregão para ele. Talvez não fosse tão mal quanto sua pose fazia parecer, pensou Taehyung. O homem sério e mais alto parecia incomodado pelo barulho e se contentou em revirar os olhos enquanto acendia um cigarro e caminhava até o balcão, sendo seguido pelo menor logo atrás. Mas os olhos de Taehyung continuavam indiscutivelmente na terceira figura, que tinha agora ambas as mãos nos bolsos dianteiros do jeans, o polegar descansando em uma correntinha metálica pendurada nos passadores. Ele devolveu o olhar de Taehyung com uma curiosidade muito diferente do primeiro homem, quase interessada, como se visse um espécime raro. Taehyung só teve tempo de sentir a garganta secar antes que o esfregão voltasse à suas mãos e ele olhasse assustado para o objeto, como se perguntasse como ele se erguera sozinho do chão. Mas era claro que não fora isso, os cinco outros dedos além dos seus que contornavam a estrutura cilíndrica mostrava para ele que Namjoon havia reaparecido dos fundos da lanchonete bem a tempo de vê-lo estático no meio do serviço. Taehyung limpou a garganta e abaixou o olhar, saindo do torpor que ele mesmo havia criado para voltar a atenção para o balde cheio de espuma que esperava que ele terminasse a limpeza.