Enfim, a hipocrisia...

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  De volta a sua vida normal... Nada mais parecia normal, em realidade.

Em sua cabeça, aquela noite em que dormiu nos braços daquele garoto foi tão conflitante e impactante, que mesmo quando acordou no dia seguinte não conseguia abrir a boca ou falar algo e aparentemente Cai Xukun percebeu sua neura, porque naquela tarde ele lhe levou de volta para sua casinha e se foi no mesmo silêncio que manteve o dia todo.

Não havia nada a mais a ser dito.

Nada.

E tudo, se fosse ser sincero consigo mesmo.

De todo modo a segunda feira chegou e ele voltou a sua rotina, dar aulas de manhã para as crianças e depois a tarde para os adolescentes. Com as crianças seu dia era ocupado e por isso não tinha tempo para pensar demais, contudo depois do almoço... Seus pensamentos iam a milhão; ele tinha dormido com Cai Xukun, nos braços do garoto e tinha descansado realmente. Não apenas fechado os olhos e acordado sem grandes diferenças. O garoto tinha lhe dito que o queria... A irmã dele disse o mesmo e com um agravante: "...Não lute contra o inevitável, vai ver no fim que seu lugar... É como pet do Xukun, vai perceber isso sozinho, em breve."

A frase não saia da sua cabeça e muito menos dos seus sentidos. Era como o cantarolar de uma Parca prestes a cortar o fio da vida de alguém unido ao canto de uma sereia... Prestes a devorar o marujo idiota caindo na água turbulenta.

Para onde olhava, da forma que via, ou para tudo o que pensava, apenas aquelas palavras lhe ressoavam na cabeça.

E se lembrar do mafiosinho cuidando de si no fim de semana não ajudava em nada.

Ele simplesmente não o tocou, nem tentou nada, nada. Mas disse em claro e em bom som... E Yixing sabia que ele podia ter feito o que quisesse, seria a palavra do líder dos guardiões contra a de um mero professor e ele sabia bem quem ganharia uma narrativa entre os dois.

Aliás, se fosse sincero, ele lhe salvou de uma situação que se fosse completada como seria um curso natural devido ao nível de torpor a que foi submetido, ele nem mesmo sabia se ainda estaria vivo ou mentalmente saudável.

Cai Xukun no mínimo era seu salvador em um nível razoável... E Yixing tinha medo do mínimo poder que ele já tinha sobre si.

Ele era perigoso e não só da forma óbvia, compreendia agora. E por isso foi tão difícil entrar na sala de aula aquele dia e agir normal embora para ser sincero, o garoto parecia bem normal aos seus olhos. Ele não disse nada sobre o fim de semana e nem mesmo flertou com ele como nos outros dias porque sim, agora entendia o que ele tinha feito na semana anterior: Flertou de forma quase imperceptível.

No dia seguinte foi a mesma coisa e no outro também, ao ponto que na quarta feira no final da aula ele já mal conseguia manter a cabeça fria.

Ele estava fingindo? Lhe ignorando? Porque diabos ele estava agindo daquele jeito!?

Em seu dormitório, sozinho e no silêncio na noite ele se deu conta que enfim, tinha chegado a sua própria hipocrisia. Afinal não era isso que desejava? Que ele fingisse que aquele fim de semana não tinha acontecido?

Então percebeu que estava mais do que chateado, porque... Cadê o idiota que lhe disse que era rabugento e chato, mas que ainda assim não iria recuar?

Ele já tinha mudado de ideia!?

E então foi com esse pensamento que ele se deu conta que queria... Queria aquilo.

Bateu a cabeça na parede e choramingou como um imbecil derrotado:

— Volte a si, Zhang Yixing, volte a si!

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