Eu estava em um belo campo repleto de margaridas, uma leve brisa bagunçava meus longos cabelos e eu contemplava o vasto céu azul acima de mim me deliciando com uma bela melodia, até que uma voz doce e feminina soa atrás de mim.
- Está na hora de ir ange. - olho para trás mas não vejo a dona da voz - Você vai ficar bem, eu prometo.
Sinto uma brisa mais forte e levanto de onde estava sentada, a cantoria fica mais fraca e as margaridas antes brancas agora ficam laranjas num tom intenso, sinto um calafrio e sinto minhas adagas se formarem em minhas mãos, meu coração acelera e...
Batidas fortes na porta me fazem acordar no susto do meu sonho, estava suada e as cobertas estavam espalhadas pelo chão próximo a cama, as batidas continuam e levanto rápido antes que a porta - que já está muito velha - se quebre. Ao abrir me deparo com Walter que me olha com raiva, a veia em sua testa quase saltando fora ele estava vermelho como tomate.
Desculpe, acordei a madame? - diz invadindo a casa e contemplando a bagunça - Você não tem jeito né? Se trabalhasse na mesma proporção que dorme não estaria nessa situação.
Walter se veio por dinheiro eu sinto informar que ainda não tenho - digo sentando em uma cadeira próxima - mas vou fazer um trabalho hoje e posso te pagar assim que terminar.
Sabe, você me disse isso a exatos seis meses, você me dá micharias e isso não sustenta, não vou te sustentar de graça como fez Margaret - ele cospe as palavras em minha cara - eu não quero você aqui, sempre que venho você não está e hoje foi seu dia de sorte. Arrume suas coisas e saia daqui!
Walter, por favor, você sabe que não tenho onde ficar, por favor - imploro.
Você é uma magicienne, dê um jeito. Não quero mais ser ligado a você em nada - ele se aproxima e segura meu antebraço - e se voltar aqui novamente ou tentar me passar a perna como da última vez bem, você sabe o que aconteceu com suas outras amigas não é? - Ele sorri e me solta bruscamente.
Meu sangue ferve, sinto-o pulsar em minhas veias, sinto a quentura atingir meu pescoço e meus pulsos, levanto e chuto a cadeira na vã tentativa de extravasar toda a raiva, visto uma calça por debaixo do longo vestido cor vinho e pego minha bolsa, enfio um casaco, um livro e alguns pedaços de papel, pego uma maçã e saio. Não tenho um destino no momento, são dez da manhã e meu trabalho é apenas às duas da tarde, a casa onde provisoriamente estou fica três casas depois da de Walter e era onde Margaret morava com sua filha, Peter seu marido e depois de um tempo se tornou minha casa também, Margaret a alugava já que era uma das casas de Walter e para não deixar a irmã sem teto a alugou, quando ela faleceu a casa ficou comigo mas como não é sempre que arrumo algum trabalho passo semanas sem conseguir pagar o aluguel ou pelo menos parte dele. Ultimamente só estou conseguindo alguns trabalhos graças ao Mike, um velho amigo que vive viajando à trabalho mas sempre me indica para alguém, tenho trabalhado muito na confecção de vestidos faço uso de técnicas que aprendi vendo Margaret costurando, ela era muito boa e seus vestidos eram muitos requisitados, então uso isso ao meu favor mesmo que não consiga muitos trabalhos por aqui Mike sempre me manda para cidades vizinhas onde ninguém me conhece e muito menos me destrata.
Sentada debaixo de uma árvore esperando o tempo passar começo a comer minha maçã e a observar as muitas jovens indo para lá e pra cá com seus vestidos espalhafatosos, cabelos bem presos e maquiagens pesadas no rosto, rindo e se abanando com seus leques combinando com o traje parando para vê-las tenho cada vez mais certeza que não me encaixo e nem irei, é como se eu fosse uma intrusa, como se nada disso fosse para mim. Tento afastar esses pensamentos e começo a folhear alguns papéis que Peter escreveu, ele era ótimo em passar seus pensamentos para as folhas, se expressava de forma amorosa e confiante era um poeta e tanto, Margaret por outro lado era fechada e não ligava muito para isso desde que perdeu...
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O Cantar do Pássaro
FantasyEm uma terra desconhecida pelos homens comuns foram criados seis reinos para manter a paz e o equilíbrio de todos, O Grande Espírito os firmou na terra com suas regras e lhes deu poderes para lutar contra aqueles que se levantassem. Infelizmente doi...