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Posso ouvir a escuridão me chamando docilmente

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Posso ouvir a escuridão me chamando docilmente.

Estou de joelhos no chão... imóvel, minha cabeça dói e uma grande exaustão toma todo meu corpo, ouço suas risadas em minha frente e também posso ouví-lo gritar meu nome em desespero atrás de mim.

- Aiyrar!!

Mas não tenho forças para virar minha cabeça em sua direção, apenas fico ali fitando o chão sendo molhado pelas minhas lágrimas misturadas com sangue que escorriam quentes de meu rosto arranhado.

Sinto uma dor imensa invadir meus ossos não estou mais no chão, sinto mãos com unhas cravadas em minha carne me esmagando no ar, trinco os dentes para conter um grito de dor não consigo me mover, a única coisa que pulsa mais forte em mim agora é o ódio, todo o choro se foi.

Ao abrir os olhos vejo ela rindo com aquelas presas de fora, dos seus cortes pulsava um vermelho escarlate vivo e eu sabia que nenhum deles poderiam me ajudar nesse momento, fecho os olhos novamente e lembro em meio às vozes desesperadas de momentos felizes que tive aqui, foi o único lugar que me senti viva de verdade.

- Pense em momentos bons mesmo serão seus últimos pensamentos - ela diz e posso sentir algo apertar meu coração lentamente me fazendo suspirar - você era a peça que faltava e agora que está em minhas mãos posso destruí-la! Quero uma morte lenta e dolorosa - ela ri alto, mesmo sentindo minha respiração ficando cada vez mais fraca continuo de olhos fechados tentando organizar a bagunça que está minha mente.

Minha vida passa como um filme sob meus olhos cada parte desde momentos de criança até a chegada a esse lugar, sinto o aperto em meu coração ficar mais forte e o ar que entra não se torna suficiente.

- Está esvaindo lentamente, já tomei o que era seu e agora sua vida também, você vai para o mesmo lugar que eles foram - posso ouvir trovões muito ao longe.

A dor fica cada vez mais forte e os pensamentos ficam ainda mais confusos em minha mente.

- Deveria ter tentado entender Margaret e sua filha, deveria ter passado mais tempo com Peter e aproveitado melhor suas histórias, deveria ter exposto mais seus sentimentos e não criar tantos muros ao redor... - abro os olhos em agonia, minha mente grita e as lágrimas voltam.

Sinto que minha história termina aqui, dou com dificuldade um longo suspiro e fecho os olhos que observavam o céu tão intensamente como se pedisse socorro para alguém... A escuridão então me abraça.

*

Abro com dificuldade e a luz do sol forte em meu rosto dificulta ainda mais minha vontade de enxergar e um silêncio perturbador me engole, silencioso demais e guerras não são nem um pouco silenciosas. Com as mãos tampando a luz do sol nos meus olhos tento me encostar em alguma árvore próxima para observar com calma o meu redor, me encosto em uma árvore - reconheço sendo uma macieira - me acomodo na sua sombra mas não estou onde realmente estava a poucos minutos atrás, ao meu redor um lindo tapete verde com pontos brancos se estendia sob meus pés, árvores de diferentes tipos e tamanhos se formavam com algumas aves de visita em seus galhos, animais grandes passeavam tranquilamente parecendo não notar minha presença, era um outro mundo muito diferente do nosso. Me afasto da macieira e caminho na direção oposta observando mais cuidadosamente aquele terreno e um pequeno ponto azulado vem em minha direção, reconheço aquele piado à distância era...

- Tryst! - meu rosto suaviza ao ouvir o belo canto da pequena.
A pego com as mãos em forma de cuia e a aproximo de meu rosto, ela pia belamente em resposta se aninhando em meu ombro, ouço algo e me viro bruscamente imaginando que seria algum animal a espreita mas só vejo uma árvore com um espelho prateado emoldurado no tronco escuro e minha curiosidade me faz ir ver mais de perto, sinto um leve arrepio ao ouvir algo parecido com batidas leves em vidro a medida em que me aproximo o suficiente para ver meu reflexo, meu cabelo ainda estava trançado com fios soltos e bagunçados, meu rosto ainda arranhado das pancadas e meu pescoço e braços com marcas arroxeadas mas não sentia nenhuma dor latejando como estava... ouço a voz novamente e me viro.

Ela continua cantando e presto atenção.
- O que não estou conseguindo ver? - digo a mim mesma.
Fico um bom tempo esperando uma resposta e uma silhueta branca como a neve me apareceu.
- Finalmente você chegou... Minha filha! - ouço a voz suave.
- Não pode ser! - minha garganta fica seca e posso sentir meus olhos ficando marejados ao ver o que se projeta a poucos metros de mim.
- Bem vinda Aiyrar, estava à sua espera. 

O Cantar do PássaroOnde histórias criam vida. Descubra agora