Capitulo 1

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16 de Julho - Floid-Med. 

CECILIA

Abro os olhos e não posso conter o sorriso. Enquanto analiso cada pequeno detalhe da entrada da casada da vovó Lena, desde o gramado onde passei meus verões pulado e tomando banhos de mangueira. Até as rosas vermelhas que sempre tive medo de quebrar, da cor clara de suas paredes que se contrasta com as casas do bairro todo. E então respiro, sentindo o ar úmido da manhã inundar meu ser.

É real. Uma vozinha sussurra para meu cérebro. Você esta aqui.

- Filha. Vamos entrar. – vejo minha mãe, guando ela passa por mim carregando minha mala.

Olho para o final da rua. Já conseguindo, apesar do breu da noite, ver as copas mais altas das arvores. Quero correr para lá, como fazia quando era criança. Mas os primeiros raios de sol ainda estão presos atrás do horizonte. Terei tempo para isso. Terei.

Caminho pelo estreito corredor de pedras. E quando coloco os pés na varanda. Lá está ela. Os cabelos grisalhos bagunçado, e o rosto enrugado mais sorridente do mundo com os braços abertos pronto para me envolver.

- Minha guerreira – sua voz esta embargada enquanto suas mãos afagam meu cabelo.

- Quantas saudades vovó Lena. – a aperta ainda mais – quanta saudade da comida da senhora.

Ela me empurra levemente se esforçando para deixar a cara emburrada.

- Você só pensa nisso – dispara me dando leves tapinhas no braço e só consigo rir.

- Nisso e nas panquecas. – a provoco.

- Mas que menina atrevida. O que você fizeram com a minha neta Lilia? – vovó Lena questiona bem no momento em que minha mãe se junta a nós na varanda.

- Não fizeram nada. Essa ai sempre foi esfomeada. Não lembra da nossa pequena formiga devoradora? – faço manha e vou para os braços de minha mãe. Seus braços me envolvem com tanto amor, carinho e cuidado. Que me sinto a mais privilegiada das garotas por tê-la comigo.

- Vamos entrar que aqui está frio – vovó alerta abrindo a porta. A seguimos – ligarei o aquecedor. Preparei o quarto de vocês lá em cima. O da Lilia é o mesmo que ela ficava quando adolescente e o seu minha netinha é o do tio Alexandre. Deixei tudo ajeitadinho. Como tem que ser. Até levei uma jarra de água, e um lugar para colocar os remédios. Vocês devem estar cansadas. Vou acionar o chuveiro quente também.

Vovó Lena vai para o fundo da casa mais não para de falar, de seus inúmeros cuidados. Mas eu paro na sala. E meus olhos se enchem d'água ao olhar as paredes.

- Ela guardou tudo – falo mais para mim do que qualquer outra pessoas.

- Sim, os seus desenhos estão por toda casa, e ainda tem espaço para os que virão. – Mamãe afirma. E me perco analisando os meus desenhos, percebo nitidamente a mudança no traço depois do primeiro curso que fiz. E depois as cores sumiram quando adotei o grafite, como minha marca.

Em preto e branco consigo expressar mais sentimentos do que todas as cores da paleta do Picasso. Pego minha mochila. E tiro o ultimo desenho que fiz. O por do sol pela janela do hospital. O penduro em uma moldura vazia no corredor. Vovó comprou milhares dessa. O papel sufíte encaixa perfeitamente. Além dos lápis e cadernos. Ela é a pessoa que mais me apoiou.

- Eu quero muitos desses. Um de mim inclusive. O ultimo que fez não favoreceu minha pele – rio quando ela aponta para o palitinho  que desenhei com cinco anos.

Fora dos meus sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora