Após meu sonho, senti um peso na consciência muito grande por não ter ido no velório de Ben.
Deixei Flash preso em casa. Sei que não é bom deixar um cachorro sozinho em casa, mas um velório não é um lugar adequado para um cachorro.
Eu pedi um Uber e dei o endereço do salão onde seria o velório. Logo que cheguei pude perceber vários carros estacionados.
Para não chamar muita atenção, entrei pelas portas do fundo do salão, onde coincidentemente minha família também estava.
Paro ao lado deles em passos silenciosos e minha família me olha como se não acreditasse em minha presença.
— Any, pensei que não viria mais. — Noah fala me olhando.
— Eu também pensei. — Respondo vagamente olhando para onde o caixão se localizava.
— Desculpa... — Noah fala mas eu nego com a cabeça.
— Tudo... Tudo... — Tento dizer que está tudo bem, mas não consigo dizer essa palavra, não estou bem, estou quebrada. — Tudo indo... — Respondo vagamente e Noah me olha com pudor.
— Não está "tudo indo" e você sabe muito bem disso... — Diz fazendo aspas com os dedos.
— Eu vou ficar bem... Ou pelo menos tentar.
Noah fica em silêncio e logo ouvimos a voz de Sra. Stevens ecoar pelos auto falantes do salão.
— Como vocês devem saber, Ben não era Toronto, mas sim de Alberta, e é lá que iremos enterra-lo. Ele amava sua cidade natal e por isso o levaremos daqui a alguns minutos. Caso alguém queira se despedir dele, esse é o momento.
Sra. Stevens diz com a voz claramente abalada pelo enterro de Ben.
Vejo algumas pessoas se aproximarem do caixão e dizerem palavras de amor para a mãe que acaba de perder seu filho.
Quando o lugar já estava quase vazio, finalmente tomo coragem para me aproximar.
— Sra. Stevens... — Digo assim que nossos olhos se cruzam.
— Any...
— Meus pêsames. — Falo a abraçando. — Me desculpe por não vir antes, eu... Eu não consegui...
— Eu entendo a sua dor. Está sendo difícil pra mim também. Ben era filho único, minha única família... — A mais velha diz com lágrimas nos olhos.
No mesmo instante volto a abraça-la.
Dói em mim saber que Ben se foi, mas a dor deve ser mil vezes maior em Sra. Stevens...
— Se a senhora precisar de qualquer coisa, por mais que seja apenas um lenço de papel, saiba que pode me procurar. — Falo saindo do abraço.
— Eu irei lhe procurar. — Ela fala com um leve sorriso.
Nos duas olhamos para o caixão e sinto meu peito apertar.
— Sabe Any, por mais que doa, temos que seguir nossas vidas. — A mais velha fala pensativa. — Ben era uma pessoa apaixonada pela vida, não gostaria de nos ver pararmos as mesmas por ele.
— Eu não sei se consigo... Em pouco tempo ele se tornou muito importante pra mim...
— Ben era uma pessoa marcante, mas lá do céu, ele iria gostar de nos ver feliz. Digo isso pois sei como deve estar abalada, eu só... Só saiba, que suas escolhas, difíceis ou não, terá meu apoio. — Sra. Stevens fala e eu sorrio. — Vou deixar você se despedir dele.
Ela fala e assinto, me aproximando do caixão. Ao ver Ben naquele estado, fecho os olhos com força, sentindo as lágrimas voltarem.
— Ben... — Digo e passo a mão em seu rosto. — Você não sabe a falta que irá fazer em minha vida. — Falo pousando minha mão em sua.
Dou um longo suspiro e me aproximo de seu rosto.
— Você foi a pessoa que mais me fez feliz, mesmo em momentos difíceis, e eu prometo, juro, que jamais irei te esquecer... Você é uma parte importante da minha história, e eu nunca apagaria ela!
Falo com lágrimas escorrendo pelo meu rosto e dou um leve beijo na bochecha gélida de Ben.
Me destancio lentamente, voltando para o lado de minha família.
Algumas pessoas se aproximam do caixão de Ben, o fechando. Coloco a mão no peito e seguro firme o colar que Ben me deu.
Ouço alguns passos se aproximando e ergo meu olhar, vendo Noah. Ele para ao meu lado e me puxa para um abraço.
Sinto ele me acolher e desabo em lágrimas, molhando seu ombro.
— Tudo bem... Coloca para fora tudo o que está sentindo.
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