Perfeitas imperfeições

Dinheiro compra amizade

O reflexo do espelho me mostrava, um rosto fino e claro, cabelos negros e curtos, pircing no nariz, um alargador na orelha e uma maquiagem borrada que não tampava minhas olheras. Ressaca. Molhei meu rosto com a água fria da torneira.
Olhei novamente para o espelho. A mesma imagem que me discrimina, me julga e me humilha todas as manhãs. O reflexo me revelava minha pior inimiga, minha melhor amiga. Eu mesma.
Não me lembro de quase nada de ontem, a última coisa que recordo é de termos comprado 2 garrafas de whisky para comemorar nosso assalto sucedido. Tínhamos nada menos que meio milhão de reais em nossa conta bancária.
Olhei para o quarto. John ainda estava dormindo, seu corpo moreno enrolado aos lençóis me chamava atenção.
Abri a janela e a mesma paisagem de sempre invadiu minha visão, um morro cheio de casas empilhadas uma em cima das outras. Não moro em um lugar privilegiado, mas não espero mais nada que uma favela para viver minha vida.
Vesti uma blusa branca jogada no chão e um short jeans. Peguei um maço de cigarro na mesa da cozinha e fui fumar na porta de casa.
Fiquei observando a rua estreita, na esperança de que algum carro passasse as 6 da manhã. O sol ja estava nascendo, dando uma tonalidade alaranjada para o horizonte.
Soprei a fumaça do cigarro e a observei se espalhar e finalmente sumir. Fui até a sala e peguei uma revista antiga jogada em um dos cantos. Sentei no mesmo lugar e comecei a folhear. Fofocas, política, futebol, crimes, assassinatos...
Sinto algo molhado passando pelo meu pescoço. John me beija intensamente enquanto passa suas mão pelo meu corpo.
- Dormiu bem? Não entendo essa sua mania de acordar sedo e ficar olhando para essa rua esburacada.
Olhei para sua face despreocupada e lhe ofereci meu cigarro. Ele soprou para o alto e sorriu amarelo para mim. Eu não retribui o sorriso mas aproximei meu rosto do seu. Passei as mão em seus cabelos curtos e aparados. Ele abraçou minha cintura, encostou minha cabeça na parede e me deu um beijo selvagem. Durante aqueles aproximadamente 2 minutos da minha vida, um beijo fora só um beijo, um beijo fora só um toque entre dois lábios.
O barulho de uma buzina me faz afastar de John. Mark estava com o corpo para fora da janela da van e buzinava como se a atenção q tivesse ganhado não fosse o suficiente. Soltei uma risada e mostrei o dedo do meio para a van:
-Qualé Mike? Não consegue passar um dia sem me ver não?
- Aaaai Abrey, você que não consegue ficar sem esse rostinho aqui! - Mark riu alto apontando para si mesmo.
Mark desceu da van deu um aperto de mão com John e beijou minha bochecha.
(Continua)