— Bons dias — disse Mr. Button, nervosamente, ao empregado da Chesapeake Dry Goods Company.
— Preciso comprar roupas para o meu filho.
— Que idade tem o seu filho?
— Cerca de seis horas — respondeu Mr. Button, sem a necessária reflexão.
— A seção de artigos para bebês fica nos fundos. — Bem, não creio.. não tenho certeza de que é isso que quero. É que. . trata-se de um bebê invulgarmente grande. Excepcionalmente... hum... grande. — Eles têm os tamanhos maiores para bebês.
— Onde fica a seção para meninos? — perguntou Mr. Button, mudando desesperadamente de rumo. Tinha a sensação de que o empregado farejaria, com certeza, o seu vergonhoso segredo.
— Aqui mesmo.
— Bem. . — hesitou. Repugnava-lhe a ideia de vestir no filho roupas de homem. Se ao menos conseguisse encontrar um traje infantil muito grande poderia cortar-lhe aquela comprida e horrorosa barba, pintar-lhe o cabelo branco de castanho e ocultar, assim, o pior e manter algum do seu amor-próprio — para não falar no seu lugar na sociedade de Baltimore.
Mas uma inspeção desesperada na seção para meninos revelou não existirem trajes que servissem ao recém-nascido Button. Pôs a culpa na loja, evidentemente — em casos assim, culpa-se a loja.
— Que idade disse que o seu rapaz tem? — perguntou curiosamente o empregado.
— Tem. . dezesseis.
— Oh, queira perdoar. Pensei que tinha dito seis horas. Encontrará a seção para jovens na coxia seguinte.
Mr. Button virou-se desanimadamente. Depois parou, recuperou o ânimo e estendeu o dedo para um manequim vestido que se encontrava na vitrine. — Ali está! — exclamou. — Levo aquele traje, o que o manequim está vestindo.
O empregado olhou fixamente.
— Mas — protestou — aquele não é um traje para criança. Quero dizer, poderá ser, mas para usar como traje de fantasia. O senhor mesmo poderia usá-lo!
— Embrulhe-o — insistiu nervosamente o freguês. — É aquele que eu quero.
O estupefato empregado obedeceu.
De novo no hospital, Mr. Button entrou no berçário e quase atirou o embrulho ao filho.
— Aqui estão as suas roupas — rosnou.
O velho tirou o barbante do embrulho e observou o conteúdo com um olhar intrigado.
— Parecem um pouco esquisitas para mim
— queixou-se. — Não quero fazer papel de macaco...
— Já fez de mim um macaco! — explodiu Mr. Button, furiosamente. — Não se preocupe com o quanto parece esquisito. Vista-as. . ou eu. . ou eu te desanco. — Engoliu com dificuldade depois de dizer a última palavra, mas sentiu, apesar disso, que dissera as palavras adequadas.
— Está bem, pai. — Este assentimento era uma simulação grotesca de respeito filial.
— Já viveu mais tempo do que eu e, por isso, sabe mais do que eu. Farei como quer.
Como acontecera antes, o som da palavra «pai» fez Mr. Button estremecer violentamente.
— E apresse-se.
— Estou me apressando, pai.
Quando o filho acabou de se vestir, Mr. Button olhou para ele, deprimido. O vestuário constava de meias de bolinhas, calças cor-de-rosa e uma camisa com cinto e uma larga gola branca. Sobre esta agitava-se uma comprida barba esbranquiçada que descia quase até à cintura. O efeito não era nada bom. — Espere!
Mr. Button empunhou uma tesoura hospitalar e, com três tesouradas rápidas, amputou uma grande extensão da barba. Mas, apesar dessa melhoria, o conjunto ficou aquém da perfeição. O restolho esparso do cabelo que restara, os olhos lacrimosos e os dentes velhos e amarelos pareciam destoar peculiarmente do aspecto vistoso do traje. No entanto, Mr. Button manteve-se inexorável e estendeu a mão:
— Anda, vamos! — disse, firmemente. O filho deu-lhe, confiante, a mão.
— Como vai me chamar, pai? — perguntou em voz trêmula, enquanto saíam do berçário. — Apenas por «bebê», durante algum tempo? Até se lembrar de um nome melhor?
Mr. Button soltou um grunhido.
— Não sei — respondeu, irritado. — Acho que vamos te chamar de Matusalém.
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O curioso caso de Benjamin Button (1922)
Ficção GeralObra do norte-americano F. Scott Fitzgerald.