Capítulo 05

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Rodo-a devagar, enquanto a porta range bastante, até escutar um estralo oco e a porta está totalmente destrancada.

Deixo a chave ainda encaixada na porta e empurro-a lentamente. Não posso fazer muito barulho, pois estou na frente do dormitório das funcionárias do orfanato, se Beatriz sonhasse que tenho a chave, estaria mais encrencada ainda. Mas e aquela voz? Será que ninguém a ouviu? Será que devo fazer isso agora?

A porta já estava semiaberta. Uma onda de hesitação percorre meu corpo, meu coração que já batia rápido, agora parecia se jogar contra as paredes e meu corpo todo parecia tremer. Mas mesmo assim empurro a porta devagar e ela continua abrindo sem dificuldade.

Estico a perna, mas não dou o passo. Era quase como se meu corpo soubesse que eu estava cometendo a maior loucura da minha vida, e ele estava certo. Mas eu não vou parar.

Movo-me devagar até o meio do corredor e olho para os lados, não havia ninguém, apenas a escuridão total e um silêncio que me fazia escutar minha própria respiração nervosa como de um animal escondendo-se do caçador, caçador o qual dormia ao lado.

Era a primeira vez que estava fora do dormitório a noite e parecia ainda mais assustador ver tudo aquilo escuro e em silêncio. Fez-me lembrar que aqui era uma antiga prisão da guerra, foi apenas por um breve período, mas há lugares que ainda se pode ver arranhões de unhas dos antigos presos, dizem que até os gemidos dos torturados.

Percebo então que a porta do saguão já está meio aberta. A voz provavelmente havia ido por ali, retiro minhas botas e jogo elas para dentro da solitária. Então começo a andar só com meias, para tentar fazer menos barulho.

Ando passo por passo até chegar na porta do saguão semiaberta, primeiro olho pela brecha. O saguão estava todo vazio, havia ainda um resquício da bagunça deixada pelo dia de adoção. E então no escuro escuto um barulho de algo, uma porta se destrancando rapidamente. Mas não vinha do saguão. Eu olho para trás e então vejo de onde vem.

O dormitório! Beatriz acordou!

Meu coração para de bater, meus músculos congelam, enquanto escuto a chave do dormitório dar a última volta e um estalo percorrer o corredor. Então em um salto corro tentando fazer o mínimo barulho possível até a minha jaula, entro e a fecho e escuto alguém correndo até a porta do saguão.

Droga! Eu havia deixado ela aberta.

Seguro a chave e tento encaixa-la na fechadura, mas meus braços tremiam muito e o buraco era pequeno e escuro. Escuto a porta do saguão se fechar e Beatriz caminhar em minha direção. Encaixo a chave, mas ela não gira. Escuto Beatriz do outro lado da porta, sua respiração estava tensa e minhas mãos tremem ainda mais. Se ela percebesse que eu estava com a chave, tudo estaria perdido.

Tento girar a chave no sentido inverso, mas ela nem se move, tento continuar destrancando, mas também não funciona. Escuto o sacudir de chaves do outro lado e sinto sua mão encostar na maçaneta.

Acredite... Vamos lá, vamos lá. Fecho os olhos.

-Por favor, por favor, vamos lá.

Giro a chave e ela simplesmente escorrega na fechadura, trancando a porta perfeitamente sem fazer barulho algum. Meu coração volta a bater e um alívio percorre pelo meu corpo.

A chave do outro lado começa a girar, eu me jogo no chão, e escondo a chave e o cristal em baixo de mim.

O barulho da porta abrindo surge rapidamente e a luz alaranjada invade todo o local. Fico com os olhos fechados. Abro os devagar e vejo Beatriz na porta examinando-a como se desconfiasse que estava quebrada pelo lado de dentro, mas não estava. Logo ela se vira para mim e eu fecho meus olhos novamente. Acho que ela não percebeu nada.

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