Park Chaeyoung era um prodígio quando se tratava do balé. Em uma noite tudo mudou. Um grave acidente lhe tirou completamente a vontade de viver. Presa em sua bolha impenetrável, ela se fechou para tudo e, todos. Até conhecer a irreverente Lalisa Man...
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Park Chaeyoung
Na maior parte do tempo, eu não entendia como a minha cabeça funcionava de fato. Será que nosso cérebro é um grande quebra cabeça com peças bagunçadas? Ao menos o meu, parecia ser.
Minha vida poderia ser facilmente dividida em duas; antes e depois daquele fatídico dia que levou boa parte de mim para o cemitério. O quão louco poderia ser se eu te dissesse que não me sinto mais viva mesmo estando?
Não, não me parece loucura. Porque é assim que me sinto.
Não sei amar e não acredito mais nesse sentimento. Sou danificada, quebrada e defeituosa demais para aceitar o fato de que eu sobrevivi ao acidente que matou minha essência.
Sou o que as pessoas costumam denominar de arrogante. Mal sabem - ou se sabem, ignoram - que isso não passa de uma casca, a verdade é que eu não gosto de me mostrar para ninguém! Me permitir ser decifrada é dar espaço para as pessoas me machucarem, se posso evitar, que mal há nisso?
Foi um processo lento e doloroso, até conseguir desvincular minha mente do meu coração, precisava agir racionalmente para entender que nada nunca mais seria igual. E consegui...... Talvez, um enorme talvez.
Não sentir nada era uma escolha minha, de modo que para mim, seria muito mais fácil viver. O que os olhos não vêem o coração não sente, ironicamente, eu era cega. Mas, isso seria o suficiente para que eu não sentisse nada? Quer dizer, eu poderia não ver, mas não sentir, era o outro lado da moeda que permanecia virada para o lado oposto ao que eu queria para mim.
Uma verdade que eu nunca iria admitir a mim mesma e aos outros; tenho medo de amar. Medo de me machucar, medo de desperdiçar minhas lágrimas com alguém que irá sumir da minha vida sem aviso prévio, medo de ser eu mesma diante das pessoas, medo de viver, sentir, sorrir, medo de tudo. Absolutamente tudo.
Pessoas machucadas, machucam pessoas! Isso é fato. Eu convivia com os resultados das minhas ações todos os dias, o reflexo da pessoa que me tornei não era bonito de se ver e, acreditar que isso mudaria um dia é um grande eufemismo, só para não dizer que é uma total perda de tempo.
Você pode tentar me conhecer, mas nunca irá tão fundo, onde nem eu mesma pude ir.
Para entender o fim, você precisa voltar ao início: da minha morte em vida.
🩰
Melbourne - Austrália, 15 de setembro de 2015
Aos dezesseis anos, eu já havia feito história no ramo da dança; especificamente, no balé.
Minha mãe havia parado de dançar profissionalmente, mas passou a missão de continuar com o seu legado, para mim. Ela sempre dizia que eu precisava fazer minha própria história, mesmo carregando o peso do sobrenome Park. Obviamente, eu não tinha pretensão de realizar nem metade dos feitos dela, minha mãe era incrível! Mas, se tem algo que eu nasci para fazer e fazer bem, é dançar balé.
Fazia parte da Companhia de dança mais renomada de Melbourne, a PiedsD'ange, desde os meus quatro anos de idade. Dançar, para mim, era mais que uma paixão ou um hobby, tampouco via como obrigação para agradar a minha mãe. Dançar era um processo de autoconhecimento, as vezes eu achava que não me conhecia de fato, na maior parte do tempo eu me sentia perdida no meio de um caminho aleatório, que não me levaria a lugar algum. Mas, no balé, eu renascia e compreendia quem eu era; a personificação da perfeição imperfeita.
15 de setembro de 2015, eu faria uma apresentação junto às meninas que faziam parte da Companhia, iríamos interpretar O lago dos Cisnes e, eu seria a Odette. Ensaiamos por três meses com muito afinco para que tudo saísse perfeito, nosso professor estava tão empolgado quanto nós.
Eu tinha obsessão por perfeição. Ensaiava, ensaiava, ensaiava, até ficar com com os pés doloridos, inchados e vermelhos. Não admitia falhas, tampouco um trabalho mal apresentado.
E foi nesse dia, que tudo deu muito errado em minha vida. A minha obsessão pela maldita perfeição inexistente, trouxe consequências, das quais, me culparia pelo resto da vida.
A noite relativamente fria nos recebia com o ar gelado, o carro deslizava pela pista molhada rumo à PiedsD'ange. Clair de Lune, de Claude Debussy, ressoava baixinho no som do carro, Alice, que aos dois anos, mal falava seu próprio nome, cantarolava animada ao meu lado. Meu pai estava ao volante enquanto e minha mãe estava ao lado da cadeirinha de Alice, estávamos animados, pois seria a primeira vez que eu interpretaria um papel tão grande desde que havia começado a dançar.
De repente, um barulho estridente de algo deslizando sobre a pista, chamou a atenção de todos no interior do carro, olhei rapidamente para tentar decifrar de onde vinha. Um caminhão desgovernado invadiu a pista. Foi tudo muito rápido; gritos, pânico, o choro de Alice, papai pedindo para fecharmos os olhos, mamãe desesperada jogando o corpo sobre o de Alice, e eu? Fiquei em choque, paralisada, segundos depois, enxerguei uma forte luz, que ofuscou minha visão, num estalo, tudo ficou absurdamente escuro, solitário, a dor, foi a única coisa que restou... Tudo se dissipou.
🩰
Chaeyoung era o rascunho de uma obra prima nunca criada. Eu faria de tudo, para que ela me deixasse pintá-la, desvendar o mistério que há por trás de seus olhos enigmáticos e tristes...
Eu não sei amar, Lalisa. Não se apaixone por mim, é uma perda do seu tempo....
Me deixe te mostrar o mundo por uma nova ótica, me deixe enxergar você, Park Chaeyoung...
Meu coração sangrava com a necessidade de sentir algo, de amar, mas tudo o que eu sentia; era um grande nada....
Por favor, me deixa entrar? Deixa eu te ensinar coisas que vão muito além do que os olhos possam ver, deixa eu te amar?
Todos os meus dias eram tristes; até você chegar e me tirar a paz, me bagunçou de uma jeito bom, único e inesquecível...
Se um dia você se perdeu dentro de si mesma, eu vou te encontrar e trazer de volta para mim....
Park Chaeyoung, era incapaz de amar?
Lalisa poderia lhe trazer de volta à superfície de seu afogamento incessante?
Mesmo em meio à guerra, as flores podem nascer! Se Chaeyoung estava morta por dentro, Lalisa a faria renascer em toda a sua glória, força e esperança.
Seu coração estava quebrado em mil pedacinhos, mas havia alguém determinada o suficiente; para colar um por um de seus estilhaços.