30.

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Me remexi na cama, ainda de olhos fechados. Espreguicei-me devagar e abri lentamente os olhos, deixando que a luz do sol os atingisse e provocasse uma careta em meu rosto. Pisquei algumas vezes, observando o quarto vazio, e me assustei ao não encontrar Addie do meu lado. Os lençóis estavam desarrumados onde eu tinha certeza de que encontraria seu corpo deitado, mas ao invés dele, um pequeno bilhete repousava.

"Você estava dormindo tão bem que não quis te acordar. Tive que ir, preciso chegar antes do almoço em NY. Deixe as chaves do apartamento na portaria, está bem? Te amo, meu anjo, já estou com saudades!"

Sorri involuntariamente com as palavras dela, e afundei meu rosto em seu travesseiro, ainda conseguindo sentir seu perfume. Novamente, ela estava indo visitar a família, dessa vez para comemorar seu aniversário, e me deixando sozinha no fim de semana. Ou talvez nem tão sozinha.

Bastaram alguns segundos com a mente vazia para que todos os acontecimentos da noite anterior me atingissem. Aquele último mês havia sido tão torturante para mim... Minha mente havia adotado um estado tão denso de conformação com minha distância de Maya que me lembrar de tudo que havíamos feito há algumas horas parecia extremamente surreal. Um sonho, talvez, se não tivesse sido tão intenso.

A princípio, senti muita raiva dela, por não compreender minha situação. Eu precisava escolher um rumo para minha vida, e ela parecia não enxergar isso. Porém, assim que senti seus lábios nos meus, o calor de seu corpo me dominando, seu perfume me intoxicando, foi impossível não ceder à enorme e gritante saudade que meu corpo nutria pelo dela. E quando voltei a ter controle sobre mim mesma, estava chorando em seu ombro, dizendo que a queria comigo. Um mês de autocontrole jogados no lixo em uma noite... Mas eu não me arrependia de nada, ao contrário do que pensei. A sensação de culpa parecia estranhamente insignificante diante de meu bem estar.

Um calor gostoso emanava de meu peito em direção ao resto de meu corpo; uma felicidade exótica, que não pensei que fosse sentir. Um sorrisinho se formou em meu rosto ao me lembrar de Maya me carregando pelo apartamento, e ao mesmo tempo, uma saudade manhosa surgiu quando a lembrança de seu beijo me veio à mente. Fechei os olhos com mais força, tentando entender o porquê de toda aquela dependência, mas foi inútil; a lembrança mais intensa daquela noite veio à tona, fazendo a voz dela ecoar em minha mente e impossibilitando-me de pensar em qualquer outra coisa.

Eu te amo, Carina.

Virei-me de barriga pra cima, soltando um suspiro e encarando o teto claro vagamente. Ela me amava. Maya Bishop havia dito que me amava. E eu? Eu a amava? Ou aquilo era apenas uma atração momentânea? Por que eu me sentia tão leve e feliz ao pensar nela? Por que meu coração batia daquele jeito apressado ao visualizar seu rosto em minha mente?

Talvez eu também a amasse? Não, não poderia ser. Eu mal a conhecia! Quer dizer, eu não sabia nada sobre sua vida, não sabia sua cor favorita, sua banda favorita, sua comida favorita... Tudo que eu sabia era que... Bem, que ela me amava. E meu coração estava doido para retribuir esse sentimento, por mais que minha mente construísse obstáculos para isso.

Olhei instintivamente para o relógio de cabeceira, ainda com a mente longe dali: 12:57hrs. Assim que bati os olhos na hora, lembrei-me de meu compromisso com Maya, e alguma coisa subitamente começou a fazer cócegas em minha barriga. Meu Deus. Eu a veria de novo hoje, dali a uma hora, mais especificamente. Uma hora que de repente me pareceu um milênio.

Respirei fundo, sentindo-me involuntariamente ansiosa, e resolvi levantar. Arrumei rapidamente a cama, agitada, e deixei o bilhete de Addie sobre ela, para responder antes de sair. Fui direto para o banheiro tomar um bom banho e fazer minha higiene matinal, aproveitando para já prevenir-me. Uma meia hora depois, quando terminei, me vesti com algumas roupas íntimas que havia deixado na casa de Addie (as melhores que eu tinha, diga-se de passagem). Coloquei uma camiseta velha dela por cima, a que eu sempre usava quando dormia lá, enrolei meus cabelos molhados num coque desengonçado e fui até a cozinha, morta de fome. Havia alguns panfletos de restaurantes sobre a mesa, provavelmente colocados ali por Addie, e eu não pude deixar de agradecê-la mentalmente ao deduzir isso. Liguei para um dos restaurantes e pedi meu almoço com tudo que tinha direito. Que se dane o regime, eu estava com fome. E algo me dizia que eu ia precisar de energia para aquele dia.

My Biology (Marina)Onde histórias criam vida. Descubra agora