Abri os imensos portões da casa branca. A música alta ecoava em meus ouvidos, a multidão conversava alto e eu também podia ouvir sons de copos se chocando.
Passei meus olhos pelas pessoas, enquanto adentrava na casa. Suas luzes de led transitava entre os tons azuis, vermelhos e roxos. A casa não tinha muita decoração a vista - provavelmente haviam sido deslocadas para um quarto fechado.
Não demorou muito para que eu ouvisse meu nome ecoando pela grande sala.
—Zed! - os pelos de meu braço arrepiaram. Eu amava quando meu nome saía de sua boca. —Você veio.
—Está surpresa? - a envolvi em meus braços.
—Só um pouco. Vem. Vou te apresentar ao pessoal.
*
As próximas duas horas passaram rapidamente. Eu e Addison estavamos sentados no telhado da grande casa, ainda ouvindoa música alta, dividindo uma garrafa de vidro. Ela parecia um pouco distante contando sobre o planejamento, enquanto obsevavamos as estrelas ou as pessoas no jardim, dois andares abaixo.
—Sabe... - ela disse, depois de uma longa pausa. —Eu não sei como vai ser.
—Do que está falando? - perguntei, bebendo um gole da bebida e lhe entregando logo após.
—É a primeira vez que eu faço isso.
—Sair a noite e beber sentada em um telhado? - ela riu.
—Também. Depois de hoje, tudo mudará.
A olhei, confuso. Não sabia exatamente sobre o que ela estava falando. E ela pareceu ler minha mente, quando disse:
—A formatura é amanhã. Estamos saindo do ensino médio. Dormiu, foi? ‐ soltei uma risada.
—Eu tinha me esquecido disso. É tão estranho.
Ela assentiu.
—As vezes não me parece ser real. Eu só imaginei minha vida até o final do ensino médio. Agora, aqui estamos e eu não sei o que vai ser.
—Ei, está tudo bem. Vai dar tudo certo. Para nós dois.
—É. Eu espero que sim.
A abracei. Eu sabia que Addison não se dava bem com mudanças. E aquele momento era uma grande mudança. Uma drástica mudança.
—Vou pegar mais uma. Você quer? - ela se levantou.
—Sim, por favor.
*
—Você viu a Addison?
Perguntei para mais um adolescente que estava indo ao balcão. Como eu já esperava, sua resposta foi "não". Tinha ouvido aquela mesma resposta nas outras vezes que perguntei para outras pessoas presentes ali naquela casa.
Addison tinha sumido.
Andei por todo o segundo andar, abrindo as portas e espiando quartos escuros. Na grande maioria, havia pessoas dormindo.
Por fim, andei até o fundo da casa, onde a música era baixa e poucos adolescentes circulavam. Onde parecia o lugar perfeito para ter um pouco de privacidade.
Ali, perto do latão de lixo cheio de copos descartaveis e papeis, havia uma parede camuflada, de madeira onde saia alguns feiches de luz das frestas de madeira, aparentemente antiga. Não avistei uma porta, mas ainda assim, me aproximei.
Alguma parte de mim dizia que eu estava fazendo a coisa errada, mas a outra parte tinha mais controle sobre meu corpo, fazendo minhas pernas se moverem, um passo de cada vez, em direção à parede.
E então, assim que coloquei um olho para tentar ver o que tinha atrás daquela parede misteriosa e cuidadosamente camuflada, observei um pequeno cômodo com uma lâmpada amarela fraca pendurada por um fio.
As outras paredes pareciam exatamente igual a que eu estava encostada. Havia pessoas lá dentro. Cerca de seis homens e duas mulheres. E um homem mais velho, sentado com as mãos presas por uma corda e uma fita em sua boca. Todos olhavam esse homem, como se ele tivesse feito algo muito ruim, e estivesse em julgamento.
Foi ai qud a porta, ao lado do homem se abriu, e duas mulheres entraram, seguidas por mais dois homens e uma garota.
Meu coração se esqueceu de sua função.
Comecei a suar frio.
Eu poderia estar enganado.
Poderia ser uma ilusão.
Ou efeito da bebida.
Mas talvez não.
Não podia acreditar naquilo que via.
Era Addison.
*
O ato mais sensato a se fazer era ir embora. Eu teria feito aquilo, se tivesse em circunstâncias normais. Mas não estava. A minha namorada estava reunida com mais treze pessoas vestidas de preto, e uma delas estava amarrada no chão. E ela não fez nada.
Sua expressão facial era rígida, totalmente diferente da que eu conhecia.
Um homem se aproximou da garota e então falou algo ao seu ouvido, e a mesma assentiu. Ele então falou algo para as pessoas ao redor, mas eu não pude entender.
Em alguns segundos, ele pegou uma pequena adaga e entregou a Addi. Ela pegou e olhou. Aquela pequenq lâmina, na qual meses atrás ela quase derrubara em meu pé na cozinha em minha casa e se desculpara mil vezes, prometendo que não tocaria naquele objeto até que saísse de minha casa, com os dois a salvos e sem um arranhão.
Ela parecia uma outra pessoa. Suas roupas ainda eram a mesma de quando ela saiu do telhado pela janela, mas algo nela parecia tê-la mudado.
Um outro rapaz pegou o homem amarrado por seu braço e o mandou ficar de joelhos. O mesmo obedeceu, sem questionar. Observou Addison se aproximando e não fez nada. Apenas abaixou sua cabeça, como se soubesse o que viria logo em seguida.
Addison se posicionou atrás dele, e esperou. Todos a observava. Ela esperou um comando. E ele veio.
Ela, então, ajeitou a adaga em sua mão e a colocou na garganta do homem ajoelhado. Em um movimento, suas mãos estavam sujas de sangue e o homem caiu para o lado, com sua garganta cortada.
O homem mais velho, que lhe deu a adaga, pareceu satisfeito. Uma mulher lhe deu um pano de papel para que ela pudesse limpar suas mãos.
Por um momento, eu achei que ela tivesse me encarado, mas eu sabia que isso não era possível.
Dei pequenos passos para trás, me forçando a ir embora, mas aquela parte de mim dizia para fica e tirar satisfações.
De qualquer modo, saí dali o mais rápido possível. Ouvi algumas pessoas chamando meu nome, mas não parei. Uma pessoa estava morta ali.
Eu era uma testemunha. E a minha namorada era a assassina.
