1

36 1 0
                                    

Dizer a alguém que você precisa ir embora e que não se sente mais satisfeita ali naquele ambiente, é algo dolorido e tudo parece conspirar para que possamos desistir dessa idéia. Raramente nos sentimos confiantes com nossas próprias vontades, anseios e objetivos, não temos coragem ou nos falta forças para dar o ponta pé inicial. Porém, chega um momento em que precisamos tomar uma decisão, outras vidas dependem disso e ser egoísta não é ideal.

 

Eu sempre fui decidida nas decisões que fazia e não tinha ninguém que conseguisse me fazer voltar atrás. Mas terminar um relacionamento de dois anos, com alguém que você admira, ainda tem sentimentos e tem um carinho, é complicado. Pessoas como eu estão acostumadas com frieza, dor e solidão. Não existe empecilho que nos deixe em cima do muro, fazemos e ponto, fim da missão. Mas quando o assunto é família e relacionamentos, eu ainda tenho uma certa cautela excessiva, guiada pelo bendito medo de machucar quem eu gosto. No meu caso atual, preciso acabar com essa história antes que fique cada vez mais impossível me desvencilhar de seus braços e seguir para uma missão na qual eu não possa mais voltar.

 

Estar com ele me faz triste e insegura, não que ele me faça sentir assim, mas, meu trabalho é minha vida e antes de conhecê-lo, eu já estava ali, na adrenalina, e em meu trabalho, a adrenalina me da força, coragem e não tem ninguém dependendo de você, é o ideal. Entre nós chamamos de fraqueza, por esse e outros motivos, os lideres contratam órfãos que não tem nada mais a não se a própria roupa do corpo. Eles não tem ninguém esperando eles em casa e se sentem bem com isso, pois a adrenalina os preenche. Eu estou preenchida até demais, e sei que no fundo de meu ser eu tenho a verdade estampada em meu coração, Pietro merece uma verdadeira mulher, que precise dele e que cuide dele, da maneira convencional e com o real sentimento de amor.

 

- Então é isso? – Perguntou o loiro parado na porta da entrada me observando arrastar minhas duas malas para minha range rover.

 

- Pensei que estivéssemos conversados. – Fechei o porta malas após colocar o resto de minhas coisas e encarei o homem com uma expressão de cansaço, era nítido que ele chorou a noite toda, mas não queria me prender a isso, estava sendo difícil seguir com aquela decisão, uma das mais difíceis eu diria. Estava me livrando da única oportunidade que tive de ter uma vida normal.

 

- Eu sou o homem da casa Samya, eu! Sei me cuidar, lido bem com o que você faz, não consigo acreditar que está terminando comigo só por medo de algo acontecer com você! – A distancia não era longa então pude ver seus olhos lacrimejarem outra vez. Suspirei cruzando os braços. – Não pode tomar essa decisão por mim, eu decido se viver com você é um risco pra mim ou não.

 

- Não, você não pode decidir isso. – Aproximei em passos lentos e olhei para cima encarando seus olhos azuis e avermelhados. – Eu vi coisas, fiz coisas, sou perseguida por conta dessas coisas e não me perdoaria se algo acontecesse com você porque eu sei, que o risco é grande e você não pode fazer nada! É um civil, comum, um engenheiro, que nunca se quer atirou em alguém, nunca saiu dessa casinha de interior e nunca se quer imaginou que o meu mundo existia! – Disse seria e ele balançava a cabeça negando tudo o que eu dizia, estava tentando ser o mais dura o possível para que ele entendesse, é difícil, mas é necessário. – Você não é frágil, é sim um homem forte, muito mais forte do que qualquer civil que já conheci, mas entenda Pietro, brigas de bar e crossfit, não vão te proteger quando uma granada entrar pela sua janela e explodir seu corpo em diversos pedaços. – Segurei em sua mão que estava fechada em punho e suspirei ao continuar. – Eu amei, todos os nossos momentos, você era o pequeno deslumbre que eu tinha de uma vida normal, uma vida tranqüila e segura. Mas eu sei que depois que se entra na Liga, você só sai morto. – Dei um beijo em sua mão e virei de costas indo em direção ao carro, sem olhar para trás. – Nunca deveria ter ido atrás de você naquele bar.

Hawks and Guns - Entre areia e ossos Onde histórias criam vida. Descubra agora