Depois do fim. [POV Adrien]

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Da minha janela solitária, a mesma que tem me acompanhado desde que nasci, me encontro sempre revisitando um tempo mais antigo, mais tranquilo e até onde eu me sentia mais vivo. Eu ganhei de presente do acaso tudo o que eu sempre quis, tudo o que eu mais ansiava do fundo do meu coração. Mas mesmo assim, não me sinto feliz, não me sinto realizado. E eu sempre me pergunto: O que aconteceu? Será que sou tão egoísta assim? Será que sou egocêntrico a ponto dos meus sonhos mais antigos não serem mais suficiente pra mim?

O que eu me tornei?

Hoje, Paris não é mais a mesma.

Tudo sempre tão monótono, uma paz absoluta tem tomado conta da cidade. Sem akumas, sem sinal de Hawk Moth ou qualquer indício de algum possível vilão pela cidade. Sem patrulhas, sem novos kwamis, só o absoluto e mais profundo silêncio. Vazio.

Da mesma forma, fazem dois anos desde que a Ladybug desapareceu misteriosamente. Não só os jornais, o LadyVlog, como eu mesmo não soube onde ela foi parar. Foram meses e meses vagueando sozinho por patrulhas, na esperança de que um dia, eu voltasse a ver minha joaninha girando seu ioiô por aí ou tendo mais uma de suas ideias brilhantes contra Hawk Moth.

Algum tempo depois de todos esses sumiços, a mídia começou a noticiar que Hawk Moth havia sequestrado Ladybug, o que eu achei ridículo pensarem da minha BugBoo, ela jamais cairia numa armadilha dessas. Eu que não era bobo de acreditar em uma notícia besta dessas, a minha vontade foi de "mostrar as garras" e lançar um cataclismo naquele lugar. Mas Plagg pôs minha cabeça no lugar antes que eu fizesse algo na emoção dos meus sentimentos feridos. Plagg soube por algum Kwami que a minha Lady não é mais a guardiã dos Miraculous, certamente há outra pessoa tomando conta, mas não sinto vontade alguma de conhecê-la. Eu nunca mais verei a minha BugBoo ou saberei quem ela foi, por partes isso me desmotiva completamente de ser o Chat Noir. E o Chat Noir sempre significou ser eu mesmo.

A minha família se tornou completa novamente, de alguma forma, papai conseguiu trazer minha mãe Emily de volta. Ele tentou se explicar de todos os jeitos possíveis, mas eu só queria minha mãe ali, independente de como tivesse sido. Era como um sonho. Era um milagre. Era incrível!

A vida com minha mãe se tornou um pouco mais doce e meu pai parou de ser superprotetor demais, pois eu não era mais a única coisa que ele tinha, isso me aliviava de uma forma inexplicável.

Só que as coisas voltaram a se tornar complicadas, pois a mamãe sempre vivia extremamente pensativa e nunca dava ouvidos ao que nós tínhamos a dizer, isso incomodava meu pai a ponto de eles brigarem o tempo todo e a mamãe sair chorando para o quarto. Foi então que minha mãe passou a ficar mais distante de mim e do meu pai, desenvolveu uma depressão e mesmo que eu tentasse estar lá pra ela, era como se ela mesma não estivesse lá, isso me frustrava ao ponto de eu sair pelas madrugadas correndo pelos telhados de Paris, só pra tentar me libertar daquela nuvem negra terrível. Eu só queria algo pra me salvar daquela vida monótona e tediosa de sempre, ser o Chat Noir, parceiro da Ladybug era o que sempre me salvava. E parece que o que me salvava foi o que passou a me afundar em um buraco negro.

Eu tentei preencher esse vazio com tudo. Tentei chamar o Nino lá pra casa pra jogar algumas partidas de videogame, mas ele sempre estava ocupado com a Alya. Passei um tempo namorando com Kagami, tentamos reatar, mas eu só conseguia pensar em uma tal Joaninha e no fundo ela sabia disso. Tentei me divertir com outras garotas e deixar essa história toda pra trás, fingir que era só coisa da minha cabeça, mas era como se um ímã sempre me puxasse pro passado. Era como se até Plagg ficasse me lembrando o tempo todo disso. Não era justo comigo, não era justo com a Ladybug e nem com nossas identidades reais. E o que mais doía, era não conseguir superar nunca.

Aquela era nossa história. Aquele era um legado. Eu não podia deixar isso tudo acabar. Mas não estava no meu controle, como sempre eu só obedecia e dançava conforme o figurino. Só que, dessa vez, não me ensinaram a dançar. Eu fui esquecido.

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