JULIANA

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Juliana

Todas as manhãs, quando saía de casa para levar Lara a escola, recordações do meu passado me teletransportavam no tempo. Era a única hora que me permitia pensar sobre o que deixei para trás. Talvez porque a minha filha fosse à razão de toda mudança, não sei, ou apenas fosse o meu inconsciente falando que depois de dezesseis anos, a qualquer momento Lara me cobraria sobre o outro lado da moeda, seu pai.

- Mãe, não olha para a esquerda - disse Lara sentada ao meu lado dentro do nosso carro, em frente à escola.

- Por quê? - perguntei voltando à realidade.

- Sabe o pai da Bia - disse confirmando com a cabeça e ela continuou. – Ele está ali parado e não tira os olhos de você.

- Sério?! Aquele homem com cara de cruzamento da pimenta cominho com a máquina de escrever?!

- Esse mesmo – disse confirmando com uma careta enquanto analisava a minha combinação.

- Deve achar que desespero é o meu nome do meio - disse com desdém, o que arrancou um sorriso de Lara.

- Não é porque o tiozinho é de espantar mosquito que ele não tenha bom gosto, afinal você é a maior gata - comentou com um sorriso.

- Sério – disse admirada, fingindo inocência.

- É óbvio. Posso com certeza dizer que é uma sósia da Megan Fox. Por isso que não entendo ficar sem namorado! – disse com a sua típica cara indignada.

Quando ouvia a lógica de raciocínio de Lara onde o fato de ser bonita me obrigava a ter um homem ao meu lado achava graça. Era interessante como adolescentes acreditavam que tudo era muito simples e claro e que aparência era suficiente.

- No momento quero ter um caso de amor comigo mesma - disse sorrindo triunfante para tentar convencer a Lara do mesmo, mostrando-lhe que há mais na vida do quê um relacionamento.

- Sério?! Vai usar filosofia de vida tirada do Facebook - disse incrédula.

- Tem coisas bem interessantes no Facebook – disse confirmando inocentemente e continuei: - Lembrei dessa frase que me enviaram no outro dia.

- Essa conversa não vai chegar a lugar algum, então o melhor que faço é ir para a aula.

Deu-me um beijo na ponta do nariz, como fazia desde pequena para nos despedirmos e saiu do carro.

Quando fiquei sozinha voltei novamente no tempo e me vi com a idade da Lara, onde o meu melhor passatempo era infernizar a vida do meu pai e de sua esposa.

Em muitos momentos quando relembrava o passado preferia a parte bonita onde sonhos, romances e as pessoas se apaixonavam e brigavam por amor, explicando melhor, lembrava a história dos meus pais.

Um jovem empresário americano, Robert Thompson, veio ao Brasil para fechar o negócio do século para sua empresa e acabou se apaixonando pela filha do seu adversário nas negociações, Laura Oliveira. Meio Romeu e Julieta, mas me empolgava e nunca a história me deixava com um sentimento piegas nas lembranças.

Não dá nem para descrever a confusão gerada, mas meus pais enfrentaram as suas respectivas famílias e ficaram juntos.

Foram morar nos Estados Unidos. A princípio meus avós paternos e maternos negaram ajuda, mas eles não desistiram e seguiram em frente.

Papai arrumou um emprego na administração de um hotel de luxo em Los Angeles e mamãe em um restaurante de imigrantes brasileiros, cozinhar era sua grande paixão.

JULIANAOnde histórias criam vida. Descubra agora