Meus sonhos

Os três fantasmas.

Imagine uma família. Consideravelmente grande, sendo composta de uma mãe, um pai, uma irmã mais velha, Thaís de 28 anos, duas irmãs gêmeas do meio, Beatriz e Elizabete de 9 anos e uma irmã mais nova, Ana Luiza de 10 meses.

Uma família como qualquer outra, tem seus dias felizes e seus dias de confusões e brigas... até eles chegarem.

Nós estávamos na sala de jantar tomando café, quando aparecem três crianças muito estranhas. Imediatamente tudo se torna muito frio e esquisito. São dois garotos de aparentemente 8 e 10 anos e uma menina de aparentemente 6. Eles conversam com os meus pais de fora da casa, sempre vistos pela janela. Pelo que eu consigo escutar, eles estão pedindo pra entrarem na casa e imediatamente meus pais recusam. Eles tem sorrisos estranhos no rosto o tempo todo e não se abalam com a negativa dos meus pais. Mas então tudo para. Literalmente. O mínimo vento que entrava pela fresta da porta para de repente, não é possível ver mais nenhum pássaro voando e nenhum movimento ao lado de fora.

Imediatamente eles começam a explicar, os três ao mesmo tempo, falando as mesmas palavras, que nós iríamos brincar com eles. Querendo ou não.

A brincadeira é a seguinte: o tempo lá fora vai continuar rolando, mas na nossa casa não. Vamos viver nossa vida normal aqui, só que sem sair de casa e sem acesso à tv e internet. Cada vez que nós escutarmos a sirene tocar, teremos que correr imediatamente para o local onde o sol bate, que são ou a sala de jantar ou a cozinha. Tenha a certeza que conseguirá alcançar a luz antes da sirene parar, ou você ficará paralisado. Se todos ficarem paralisados, ficarão presos na casa para sempre, parados e concientes para a eternidade. A brincadeira termina quando os três decidirem.

Nos primeiros 10 anos, as gêmeas e a minha mãe acabam ficando presas e nós é quem temos que continuar, torcendo para a brincadeira ter fim.

Nos próximos 5 anos, Thaís cansa e desiste. Escolhe deixar nas nossas mãos a salvação de todos ali. Uma criancinha de 10 meses e um homem de 50 e poucos anos.

Eu não sei andar, consigo engatinhar muito bem, mas isso demora, então 7 anos depois, acabo paralisando por demorar para chegar na luz e resta só o meu pai na brincadeira.

6 anos depois, os fantasmas finalmente aparecem, rindo e dizendo que estamos livres. Mas lembrando: o mundo todo envelheceu 28 anos, e nós não. Todos os meus coleguinhas de creche estão com seus 29/30 anos e eu continuo um bebê.

A volta a sociedade é estranha. Todos da cidade sabiam dessa maldição que nós foi jogada, mas não puderam fazer nada. Ser pega no colo por aqueles que eram do mesmo tamanho que eu é assustador e meus pais e irmãs tem que tentar voltar à normalidade.

6 anos depois, decidimos voltar pra casa, pois tínhamos nos mudado por causa do trauma que sofremos. De volta ao lar, estamos todos rindo numa tarde após almoço, quando escutamos aquela mesma sirene e eu imediatamente corro para a luz, porém, todo o resto da minha família fica parado, indignados por alguém estar fazendo uma brincadeira de mal gosto com a gente, sabendo por tudo o que nós passamos. Eu choro, grito e peço pra todos virem pra luz, mas ninguém dá ouvidos para uma criança de 6 anos.

Tudo para novamente e eu caio em prantos. Sei que tudo era realmente aquela maldita maldição e só eu poderia jogar dessa vez. Toda a minha família estava paralisada, assustados e olhando pra mim. Uma criança de 6 anos não vai conseguir passar por isso por mais 28 anos.

Eles aparecem na janela novamente.

"Caíram na brincadeira mais uma vez. Poxa, mas dessa vez está difícil. Ninguém acredita na criança fantasiosa hahahahaha."
Os olhos deles estão totalmente brancos e as vozes sincronizadas me davam arrepios.
"Vamos fazer diferente dessa vez? Eu dou-lhes 2 opções. A primeira será a sua pobre criancinha salvar suas vidas pelos próximos 28 anos. Mas a segunda opção é mais fácil, não se preocupem. O papai ali, pode escolher entre a criança jogar o jogo, ou dar um tiro nela."

Surge uma arma na mão do meu pai e todos estão possibilitados de se mover novamente. Ele escolhe. Atira em mim.

Fim do sonho.