1.Volta às aulas é uma merda.

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Ter dezessete anos é uma merda.





O primeiro dia de aula mal havia começado e eu já me sentia no inferno.

Adolescentes são patéticos.

A professora falava algo sobre algum assunto que poderia ser importante em algum momento de nossas vidas (coisa que eu acho muito pouco prováve).

Olho para a cadeira ao lado da minha vendo lu no seu terceiro sono, provavelmente tinha passado a noite de ontem inteira jogando algum jogo que ela gostava (que eram muitos).

O alarme soa quase estourando meus tímpanos e fazendo lu quase cair da sua cadeira olhando atordoada para os lados.

Tento segurar o riso mas ele vem inevitavelmente.
seus olhos vem a mim de forma ameaçadora dando passos em minha direção, mas antes que ela possa chegar até mim, a professora a chama, para muito provavelmente lhe dar uma bela bronca por dormir no meio da aula.

Saio da sala ainda rindo de sua cara, parando perto da porta para esperar sua saida.

Não demora muito para que ela saia com um papel em mãos.

- carta para os pais? - pergunto começando a andar junto com ela.

- minha mãe vai me matar... - fala dramaticamente.

- ninguém mandou dormir no primeiro dia de aula... - digo apenas para provocá-la. Recebo um soco no braço por isso.

- vai se ferrar! Não é minha culpa se a tech decidiu lançar as atualizações de madrugada...

- mas ela não te obrigou a esperar por elas acordada! - digo irônica.

Lu revira os olhos e resmunga, a ignoro abrindo meu armaria pra guardar os livros. Lu faz o mesmo com o seu.

- e a sua irmã, continua uma chata? - lu fala com desprezo na voz

- não gosto que fale dela assim. - respondo de maneira séria.

- foi mal... Mas ela tem dezoito agora...- diz como se fosse uma coisa óbvia.

- Idai?

- ué! Dezoito! - a olho tentando entender onde a mesma quer chegar. - a idade da liberdade!

- de que merda cê tá falando?

- não acredito que ainda não pensou nisso! - ela parecia realmente revoltada.

- pensar em que, sua louca?

- que ela tem dezoito anos agora! E uma garota independente! Lembrando, ela é uma garota independente.

- e...? - minha confusão parece deixar ela furiosa.

- "e" e que ela não vai mais querer te carregar pra cima e pra baixo como ela fazia, entendeu?

- sinceramente? Não.

Ela suspira tentando arrumar paciência para lidar com minha lerdeza.

- o que eu quero dizer é que a tina tem dezoito agora, ela é uma mulher. Ou melhor, ela é como a Janet agora. Ela vai atrás de garotos e usar roupas curtas como toda garota de dezoito faz! - ela termina a explicação com um sorrisinho convencido enquanto coloca a mão no meu ombro de forma dramática.

- isso é patético. - falo com desgosto. - tina não é assim. Ela não é como Janet - o nome dessa sai de forma deplorável de meus lábios - dane-se se ela usar roupas curtas, isso realmente não importa. E quanto a garotos, talvez ela conheça um cara legal, e comece um relacionamento. Mas isso não significa que ela vai virar uma babaca como a Janet.

A ruiva apenas me olha com pena antes de se virar e começar a andar em direção ao campo, a sigo em silêncio.

...

Ela é linda.

Seus cabelos loiros voam ao vento a deixando com uma aparência Angelical. Tina era linda.

E eu não me parecia nem um pouco com ela.

Ela era alta, magra e de cabelo liso e loiro.

Enquanto eu era uma tampa, com um quadril pateticamente desproporcional ao meu corpo e em uma eterna luta com minha juba encaracolada.

Patético eu sei. (Gosto dessa palavra)

Ela havia feito o teste para líder de torcida durante as férias, ela ficou tão feliz quando passou...
Me orgulho dela.

- olha só pra ela... - lu se prepara para dizer mais uma de suas besteiras. Estávamos sentadas nas arquibancadas do campo. De um lado do imenso campo estavam os jogadores, do outro estava as tão invejadas líderes de torcida. - uma perfeita líder de torcida, daqui a pouco esta saindo com elas e quem sabe até agindo como elas...

- por que você tá insistindo tanto nisso?

- eu só quero te prevenir.

- prevenir do que, exatamente?

- da dor e decepção quando ela começar a namorar um dos babacas do timer e agir como uma patrícinha nojenta.

- isso não vai acontecer! - digo de maneira óbvia. - você não tem outro assunto não?

- na verdade eu tenho. Tá rolando um boato de que os jogadores tão comprando drogas de um cara Italiano. E as líderes também tão então envolvidas na treta.

- como ficou sabendo disso? - a olho incrédula. Lu me assusta as vezes.

- tenho meus segredos. -ela pisca tentando parecer enigmática.




- hey! Esquilo! - fecho meus olhos com força ao escutar a voz de quem eu tanto odeio, proferir o apelido que me dá ânsia - o que tanto cochicha com a ratinha aí?

Meu plano era ignorar e sair dali, mas antes que eu possa fazer algo, lu já está indo na direção de Janet com os punhos cerrados.

- não me lembro de ninguém te chamar na conversa. Senhorita das pílulas... - droga. Ela pegou pesado.

- o que você disse, sua ratazana? - Janet grita chamando a atenção das pessoas no campo.

- exatamente o que você ouviu...- lu sussurra parando em frente à ela.

Pego em seu braço tentando a puxar pra longe.

- o que deu em você? - sussurro para minha amiga - nunca responder as provocações dela, lembra? E o melhor jeito de lidarmos!

- e, só que eu cansei de aguentar calada as ofensas dessa vaca!

Os olhos de Janet se arregalam, algumas exclamações vem dos alunos ao redor. Vejo tina vir em nossa direção mas tudo acontece rápido demais.

Num segundo Janet estar com a mãe no ar, no outro estou puxando lu da frente, e no seguinte estou sentindo a dor do impacto.

DAMIANO DAVID Onde histórias criam vida. Descubra agora