Rafael
Marina está parada na porta do meu apartamento com os olhos borrados. São nove horas da noite e eu passei as últimas horas tentando esquecer completamente a loucura que quase cometi mais cedo. Voei de moto como um louco pela cidade, para dizer à minha melhor amiga, que estava noiva, que sou completamente apaixonado por ela há quase 10 anos... e que ela deveria repensar todos os seus planos para ficar comigo.
E agora ela está aqui. E eu perdi completamente a ordem das palavras que deveria falar para ela.
***
Marina
Rafael está parado na porta, sem camisa, descalço, com uma calça de moletom e uma cerveja na mão. Eu sabia que deveria vir até aqui. Mas não sei o que fazer depois disso...
- Eu... posso entrar?
- Claro! Desculpa, você me pegou de surpresa. O que aconteceu? Você está bem? - Rafael se afastou da porta e abriu espaço para eu passar.
Passei por ele e fiquei no corredor, pouco atrás de onde ele ainda estava parado me olhando... A casa dele tem um cheiro gostoso de incenso de mirra, um som tocando na altura certa e uma meia luz amarelada que me faz sentir conforto e saudade. Eu escuto a porta fechar atrás de mim e ouço seus passos descalços no piso de madeira. Ele vem na minha direção e coloca a mão no meu ombro...
- Tá tudo bem? - Ele repete.
- Eu... precisamos conversar! - Respondo baixo, sem me virar.
- Sim, mas... está tudo bem? - Ele arrasta um dedo pelo meu ombro e meu corpo estremece... em um súbito reflexo de covardia, me viro em direção à porta, tentando passar por ele novamente... Eu só sinto que preciso fugir de tudo hoje.
Rafael coloca a mão na minha frente e estamos próximos demais, respirando o mesmo ar, na mesma frequência e...
- Marina...
Ele diz meu nome abaixando seu braço e deixando claro que eu posso ir, se achar que isso é realmente o melhor.
Mas eu fico parada olhando para o chão, encostada contra a parede. Eu não sei o que dizer, o que fazer, o que pensar e o que sentir. Nem sei se fiz a escolha certa ao vir aqui hoje. Meu cérebro parece gritar mil coisas ao mesmo tempo e meu coração está querendo fugir de dentro de mim e desistir de tudo o que eu ando fazendo recentemente...
- Marina? - Ele diz um pouco mais alto...
- Rafael, eu acho que a gente tem muito o que conversar. Mas eu não sei se fiz a coisa certa ao vir aqui hoje...
Ele se aproxima mais de mim, coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e desce com os dedos pelo meu rosto. Meus olhos se fecham... e eu respiro fundo. Ele continua descendo a mão pelo meu pescoço e com seus lábios bem próximos dos meus... ele diz...
- Me deixa te provar que sim...
Rafael tira minha bolsa do ombro e deixa cair no chão. Ele se vira e caminha para o sofá puxando minha mão. Eu levanto meus olhos e respiro fundo... Como foi que chegamos aqui?
- Rafael... - Ele se vira e estamos próximos demais - Eu preciso que você me diga.
- O que você quer saber? - Ele pergunta em um tom calmo.
- Por que você me beijou?
Estamos respirando novamente o mesmo ar, embalados pela música e pelo cheiro delicioso desse maldito apartamento. Quando que o Rafael virou essa pessoa que eu tenho vontade de pular em cima?
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QUASE SEM QUERER
RomanceA primeira vez que Marina ouviu alguém falando de "borboletas no estômago", foi em algum filme romântico com personagens clichês e cheios de problemas. Ela nunca entendeu o que isso significava, até começar a prestar atenção nos momentos mais excita...