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⚠️ alerta: suicídio sendo narrado, por mais que faça parte da estória tem pessoas que se sentem desconfortáveis, é uma cena curta mas importante,  haverá um quadrado na cena que narra diretamente e quando acaba, infelizmente não posso fazer muito por que faz parte pra vocês poderem entender no futuro;-;.

Boa Leitura, espero que gostem.





A vida de órfãonão estava ficando
nem um pouco fácil.

Tinha começado a sentir como se estivesse aprisionado numa camada de gelo. Estava frio por dentro. Mas eu me agarrava à frieza como a uma tábua de salvação: quem saberia dizer o que ia acontecer se eu deixasse o gelo derreter e voltasse a sentir as coisas de novo?

Com certeza eu ia me desmanchar, virar um idiota chorão e regredir ao comportamento totalmente inútil dos primeiros meses após a morte de meus pais. Sentia falta de papai. Seu desaparecimento de minha vida era insuportável. Aquele bonitão de quem as pessoas gostavam assim que olhavam em seus risonhos olhos castanhos.

Quando ele me via e seu rosto se iluminava, numa expressão de pura adoração, eu compreendia que, não importava que bobagem eu fizesse durante a vida, sempre teria um fã neste mundo, me encorajando nos bastidores.

Quanto a mamãe, sua morte arrancou meu coração, como se ela fosse uma parte física de mim, extraída com bisturi. Era uma alma gêmea, um “espírito irmão”, como ela costumava dizer. Não que a gente sempre se desse bem. Mas, agora que ela se fora, eu tinha de aprender a viver com o buraco imenso e abrasador que sua ausência deixara dentro de mim.

Se eu pudesse escapar da realidade por algumas horas durante a noite, talvez conseguisse suportar as horas que passava desperto. Mas o sono era meu pesadelo particular. Eu ficava deitado na cama até sentir seus dedos aveludados roçando meu rosto, amortecendo-o, e pensava Finalmente!. E então, meia hora depois, eu estava acordado de novo.

Uma noite eu já não sabia mais o que fazer, a cabeça sobre o travesseiro e olhos abertos, olhando o teto. O despertador marcava uma da manhã. Pensei na longa noite que tinha pela frente e me arrastei para fora da cama, encontrei as roupas que tinha usado no dia anterior e vesti.

Chegando ao corredor, vi que saía luz por baixo da porta de Seokjin. Bati e virei a maçaneta.

— Oi — sussurrou Jin me olhando. Estava deitado, todo vestido, com a cabeça virada para o pé da cama. E em seguida acrescentou: — Acabei de chegar.

— Você também não consegue dormir
— disse eu. Não era uma pergunta. Nós nos conhecemos bem demais.
— Quer dar uma volta comigo? Não aguento ficar no quarto, lá deitado a noite toda sem dormir. Ainda é julho e já li todos os livros que tenho. Duas vezes.

— Está maluco? — protestou Jin, virando de barriga para baixo. — Estamos no meio da noite.

— Na verdade, é mais o começo da noite. É só uma da manhã. As pessoas ainda estão pelas ruas. E, além do mais, Seul é a cidade...

— ... mais segura da Terra — Jin concluiu minha frase. — A frase favorita do vovô. Ele devia conseguir um emprego na secretaria de turismo. — Ok. Por que não? Eu não vou conseguir dormir tão cedo, mesmo.

Fomos até o hall de entrada na ponta dos pés e, com um estalo suave, abrimos a porta e voltamos a fechá-la detrás de nós. Descemos até o vestíbulo, paramos para calçar os sapatos e então saímos. Uma lua cheia brilhava sobre Seul, pintando as ruas com um brilho prateado. Sem uma palavra, Jin e eu fomos em direção ao rio.

Ele sempre fora o centro de nossas atividades, desde que havíamos começado a vir para cá, ainda crianças, e nossos pés conheciam o caminho. Na beira do rio, descemos os degraus de pedra até o passeio que percorre quilômetros através de Seul à beira d’água, e seguimos pelo calçamento de pedras, rumando para leste. Na margem oposta, entrevia-se o vulto maciço e baixo do Museu.

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