Katherine Williams Vegas

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1976, 8hrs de uma manhã ensolarada em Brackttville no Condado de Kinney, Texas, Estados Unidos da América.

Em volto a ataduras sujas de sangue, uma jovem mulher(20) loira, em seu quarto, deitada em sua cama. 

Da vidraça da janela uma faixa de luz "toca" seu rosto. Seu semblante de paz de quem realmente precisava de um descanso é desfeito por suas sobrancelhas franzindo pelo clarão, agora em seu olho. Então, abrindo-os lentamente, revela seus olhos castanhos esverdeados.

Ainda deitada, sua mente a leva de volta na noite anterior entrando pela madrugada.

Começam uns fleches de memória: Rapidamente, "passam", umas garras sujas de sangue! Por pouco não é atingida no rosto! E aqueles olhos vermelhos! Chifres com pontas amareladas. Asas de couro com as bordas "anêmicas"! A coisa ou demônio, a ataca sem parar com suas mãos, ou asas com garras! Parece faminta por sangue! É incansável! Ela se desvia como pode nos últimos milésimos de segundo! Os fleches em sua mente ficam confusos entre várias investidas bem sucedidas da criatura e rostos humanos bem conhecidos! Sons de tiros de escopetas e revolveres entre gritos se misturam... Uma última lembrança revela a imagem de um morcego gigante com calda passar  voando na frente da lua clara daquela madrugada.

As lembranças terminam dando lugar só a visão do aconchegante quarto.

"Meus amigos!" Com olhos inquietos, lembra ela.

"Pai!"... Grita sentando-se rapidamente,... mas um silêncio frio é a resposta.

Levanta-se e, cambaleante, caminha até a penteadeira. E praticamente se joga sentando-se no banco derrubando algumas coisas de cima do móvel, dentre os quais uma caixa de madeira com bijuterias e cacos de vidros se espalham pelo chão de madeira, separando uma foto de uma moldura, revelando uma família feliz no papel.

Ergue a cabeça, mas fica com o olhar baixo. Mira então no espelho, e apenas seus olhos,  em meio aquelas ataduras. Eleva a mão até uma ponta do esparadrapo próximo a maçã de seu rosto. Fecha os olhos e, de novo aqueles fleches de memória; Cheiro de sangue em meio a violência de ataques sem piedades em seu rosto. Ela teme o que poderá encontrar em baixo das ataduras, mas o calor daquelas lembranças a faz puxar rapidamente o esparadrapo. Começa a desenrolar as faixas manchadas de um sangue coagulado, e baixando a cabeça ainda com os olhos cerrados, estica o braço com o punho apertando as ataduras, respira fundo, e enfim solta-as no chão. Abre os olhos, mas fica com a cabeça baixa com o rosto olhando para os trapos imaginando as marcas que ficarão para sempre em seu rosto. Ela tem que se olhar no espelho e encarar o seu destino! Levanta o rosto...

"Como pode?!"... Pensa ela contemplando uma pele totalmente revigorada, incrivelmente sem marcas nenhuma! Parecendo não ter participado de nenhuma batalha, ela descobre que seu "sono reparador" é mais poderoso do que ela imaginava. Passa a mão no rosto quase sem acreditar no que vê!

Sem demora, começa então a tirar todas aquelas ataduras em seus braços, tórax e pernas, ficando com suas roupas intimas. O tecido do curativo está imundo, mas sua pele parece não ter sofrido dano! "Mas como? E aqueles cortes e arranhões de ontem?" Ela descobre que sua regeneração acelerada durante uma noite de sono profundo realmente é mais forte do que ela imaginava.

Agora um olhar frio para o seu rifle escorado ao lado do móvel... Ela só pensa em fazer justiça! Pega a arma rapidamente e, conferindo se está armada, a deixa em ponto. Abre a gaveta e apenas um batom rosa clarinho, uma escova, um pente e uma caixa de balas novinhas; Pega rapidamente e começa a carregar a arma...

Levanta-se, ainda meio tonta, abre o rústico guarda roupa, e olha para umas botas seminovas. Pega uma jaqueta de couro e uma velha calça jeans desbotada, já com um cinto, e uma blusa com botões e estampa quadriculado em cores vermelho, marrom e bege. Sem demora e quase caindo, vestisse.

Olha para a sua direita, e estica o braço até um gancho na parede e pega o seu coldre pesado com seu revolver, e o coloca na cintura por cima do seu sinto com uma grande fivela de bronze e com um estampado sobre longos chifres de boi escrito: "Garota do Texas".

...

Minutos mais tarde...

Uma pickup chevy c10 69 está em disparada em uma estrada de cascalho deixando uma nuvem de poeira para trás... 

Segundos mais tarde, o veículo para em frente a uma casa que marca a entrada de um rancho. Jack Williams Vegas(52 anos) abre a porta as pressas e sai rapidamente arrodeando para a porta do passageiro, abre:

_ Vamos Carlson! _ Carlson Brown(47 anos) é um velho amigo de Jack e está com o braço esquerdo sangrando e com a perna esquerda quebrada. Jack o tira cuidadoso com Carlson agarrado em seu pescoço. Em meio a dor ele ainda acha tempo e brinca:

_ Se você chorar no meu velório "eu volto só pra chutar a sua bunda"! HUMP!(dor)

_ Você ainda tem muitos rodeios pela frente. _ Jack responde a altura mas não consegue disfarçar o tom de voz preocupado com tudo o que vem ocorrendo nos últimos dias naquela região. Ele sobe os três degraus da varanda com Carlson fazendo careta de dor, agarrado em seu pescoço, pulando em uma perna só. O coloca em uma velha cadeira de balanço de madeira e puxa um banco apoiando a perna ferida do amigo, e fala apressado:

_ Espera...Vamos fazer um torniquete e correr para o pronto socorro. _Tira o revolver do coldre e entrega ao ferido que recebe dizendo:

_ Nós vamos sair dessa, pode deixar.(ofegante) _ Jack com um olhar abatido, suor descendo, aperta os lábios e concorda com a cabeça.

Em seguida, Jack pega na maçaneta da porta e abre rapidamente entrando apressado na sala, e em um tom preocupado, chama por alguém:

_ Katherina!(caminha a passos largos) Kate! _ O homem preocupado anda em passos largos, passa pela sala, chega ao corredor e vê jogado no chão, próximo a porta do quarto, umas ataduras sujas de sangue. Abre a porta rapidamente e encontra uma cama vazia:

_ Filha?! _ Passa a mão na cabeça deixando cair o chapéu. Olha para uma escrivaninha e vê um bilhete com poucas palavras, escrito às pressas. Ele pega o papel rapidamente e lê:

"Me perdoa, eu tive que ir. Vocês me ensinaram o que se deve fazer numa situação como essa. Tem que ser feito. Eu sei que posso fazer. Está na hora! Isso tem que acabar! Eu te amo pai."

 Ele amassa o papel apertando-o contra o queixo. _Quê?! _Respira fundo, e fechando os olhos, seu coração teme pelo pior. Abre os olhos arregalando-os olhando para a janela. As cortinas se balançam por um vento que parecem anunciar um balé da morte...

A Lenda de Kate Vegas.Onde histórias criam vida. Descubra agora