capítulo 3

2 0 0
                                    

point of view- emma stein.

minha perna estava inundada de sangue de um modo que fazia meu corpo parecer um campo de batalha. Meus cortes haviam ficado mais fundos e maiores.
Levantei da minha cama quente, guardei minha lâmina dentro do meu kit e entrei na banheira com água quente e sal grosso.
Enquanto me banhava eu pensei em como estava infeliz e doente. Como estava tão magra que podia ver minhas veias e cada camada de vergonha e imperfeições dentro de mim, e nada no mundo me concertaria. Uma dor fazia meu peito explodir, e um peso nas costas que não passava. Meu maior desejo era sempre ir pra cama, mas não podia, tinha que voltar as aulas.
quase reprovei de faltas no último bimestre, precisava aparecer na sala, o problema, era quem eu teria que enfrentar.

                                       ☁︎︎


Entrei no campus e avistei Lua sentada em um banco lendo Harry potter.
"Amiga!" gritei em meio das pessoas.
Lua levantou seu rosto e seus olhos encheram de alegria em se encontrar com os meus.
Seu abraço caloroso me esquentou.
"aonde você estava? não te vejo faz tempo. você está diferente."
"eu estava tomando um tempo só, mas estou bem."
sabia que ela não tinha acreditado em uma palavra, mas Lua não gostava de falar sobre coisas da minha vida.
Eu fingia que não sabia nada sobre a vida dela e ela não sabia da minha, por mais que ela chegasse bebada em todas as aulas de manhã e eu estivesse sempre usando moletom.
Era uma forma nossa de coexistir, uma bolha que não envolvia cortes nem nossas vidas turbulentas.
conheci Lua por causa que ela vendia redações, comprei tantas que ao longo do tempo viramos amigas. Não próximas, mas amigas o suficiente para sairmos juntas e nos encontrarmos sem ficar estranho, e não o suficiente pra me machucar quando ela finalmente cansar de mim.
caminhamos juntas para a primeira aula enquanto sentia meu corpo inteiro congelar.
meus pés passaram pela porta e vi ele me encarar.
percebi que ele tinha deixado sua barba crescer.
Então, começou sua aula sobre a globalização e o neoliberalismo
Estava apenas no 2 segundo ano da faculdade e já não aguentava mais estudar o curso. Amava sociologia, mas não conseguia estudar mais ou prestar atenção nas aulas, o único motivo que passei foi por causa de Professor. Depois que ficamos pela primeira vez, ele me ajudava nas notas. Não ficava com ele por causa das notas em principal, ficava por que gostava do sexo, mas da mesma forma, ainda era um amigo colorido que não podia contar pra ninguém a existência que me ajudara a passar de ano.
Sua aula foi uma merda. Sempre era, todas as aulas eram.
"é isso. leiam o livro e façam a redação."
esperei a sala esvaziar e fechei a porta com cuidado para que ninguém nos olhasse.
"stein." ele chamou. "senti sua falta."
forcei um sorriso para ele. não sentia sua falta, não fazia diferença pra mim, estava longe de apaixonada, apenas sentia atração pelo seu corpo.
"desculpa não ter te ligado ou respondido suas mensagens, ando muito ocupada, wade."
"tudo bem. como você está?" odiava quando ele tentava conversar, não queria conversar sobre nada, só queria transar.
"estou bem."
"bom."
ele checou se tinha gente no corredor então andou até mim.
me surpreendeu quando colocou suas mãos na minha bunda e me levantou, colocou minhas pernas em volta de sua cintura.
"jantar as 9?" perguntou.
"jantar as 9, minha casa." respondi em seu colo.
sabia muito bem que não faria jantar nem fodendo.
me soltei de seu corpo e fui assistir as outras aulas.
eu sabia que relacionamento com professores era errado, mas não tinha mais 19 anos e considerando que só queria sexo, não havia problema. era completamente inconveniente e inapropriado, mas não ligava.
Perdi minha virgindade com 15 anos, com meu primeiro namorado. Jack, seu nome. Me apaixonei loucamente pelo menino, mesmo sabendo que ele era uma péssima pessoa e que já havia transado com metade das meninas na minha escola.
Sempre me atrai pelos piores homens, sempre pelo os que não podia me atrair por. Mas algo no fundo de mim queria ser machucada. Apenas precisava amar alguém mais do que amava a mim mesma. Não sentia nada por Wade, mas algo da ideia de ser o segredo de alguém, de estar perto de ser arruinada se alguém descobrir, é tão bom. Estar em risco é tão bom. É satisfatório saber que por causa de uma ação minha, tudo pode desmoronar. Tudo porque meu professor me come, as vezes.

                                       ☁︎︎

Meu corpo foi jogado contra a parede enquanto Wade me beijava intensamente.
"camisinha." falei. escutei ele suspirar.
"aperta demais, emma."
"camisinha." disse como um aviso. Com desprezo, ele abriu sua carteira e retirou o produto.
Senti seu penis deslizar dentro do meu corpo e sair, assim, passamos horas cavalgando um em cima do outro pelo meu apartamento inteiro.
Obrigava Wade a desligar as luzes, porque não queria que ele visse meu corpo e meus cortes.
A pior parte do sexo, é que querendo ou não, é uma intimidade imensa. É ter que ser vulnerável e se entregar as mãos de alguém. O que me fez perceber que isso não era sexo, isso não passava de dois corpos no escuro se esfregando, penis e vagina se mergulhando um no outro.
Sexo é amor, é confiar em alguém pra mostrar todas suas imperfeições e partes feias de si.
Entregar as chaves da sua alma e dizer que está segura nas mãos de quem seja que estiver com você.
Eu nunca fiz sexo, nunca amei alguém assim. Pelos anos deixei meninos entrarem em mim enquanto estava bebada  e chapada esperando o seu gozo de alguma forma me preencher, mas nunca me preencheu.
Me deixou apenas com um buraco no fundo do peito, e sozinha esperando pra ser amada por um príncipe encantado.

"Você devia ir, são 3 horas da manhã."
"Eu posso dormir aqui?"
"Não." disse baixinho. Ele não podia dormir aqui nunca, porque assim que começa uma intimidade, um relacionamento, algo que queria ficar distante.
ele soltou um ar frustrado no escuro do quarto.
"Emma, o que eu sou para você?"
não sabia o que responder. ele não passava de as vezes um conforto.
"você devia ir, conversar sobre isso não é uma boa ideia."
"nós transamos loucamente quase toda semana, te encontro na faculdade e você age como se você nem me conhecesse."
"você é meu professor. o que eu devia falar?"
"por que você nunca me deixa ver seu corpo? é por que você é magra demais? é vergonha, por isso?"
Nessa hora levantei da cama.
"vá embora, por favor." fazer sexo enquanto está tomando antidepressivos é horrível, te traz um cansaço absurdo. já não tinha mais forças pra ter que lidar com essa conversa.
então para minha surpresa, ele levantou, foi até a porta, e quando achei que estava indo embora para pegar suas roupas na sala e ir pra casa, ele ligou o interruptor e a luz se expandiu pelo quarto.
e com um toque, minhas cicatrizes e ossos ficaram a mostra na frente dele.
ele encarou meu corpo e deu um passo para trás.
ele estava assustado.
rapidamente me virei e coloquei minha blusa e calça.
"emma, o que é isso?"
"saia." ordenei.
"que horror. por que você faria isso consigo mesma? você é tão nova. pra que isso."
"por favor, estou te implorando, vá embora." eu tremia e sentia lágrimas ardosas caírem pelo meu rosto.
ele veio até mim e segurou meu pulso.
tentei me soltar mas ele era mais forte do que eu.
"isso é coisa de gente doente. não nos conhecemos direito, mas isso é assustador. você parece um esqueleto humano sem roupa."
"me solte. me solte ou irei gritar, irei falar pra universalmente inteira que transou com a própria aluna e destruirei a porra da sua vida. me solte."
aquelas palavras voaram da minha língua. não queria dizer elas, mas disse do mesmo jeito. me senti tão exposta e humilhada, tão frágil e vulnerável, que a vontade de me cortar mais ainda veio fortemente.
"você é doente. só estava tentando te ajudar, isso tudo é doentio. vá procurar ajuda, menina."
então saiu do meu apartamento com pressa e me deixou sozinha para me cortar até não conseguir mais, até parecer que meu braço estava caindo, para me lembrar que era isso que acontecia quando as pessoas me viam por inteira.
e nunca vou deixar alguém me ver de volta. nunca mais.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jul 07, 2022 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

O Custo De ViverWhere stories live. Discover now