Padre Roger caminhava num beco escuro durante a madrugada depois que no confessionário um homem lhe entregara um envelope que continha uma chave e um endereço anotado, de tanto caminhar chegou a uma porta trancada com um cadeado, conferiu o endereço no papel e puxou uma chave do bolso de seu casaco. Com um pouco de hesitação destrancou a porta e entrou. Em sua frente havia um corredor não tão curto e nem tão longo com quatro portas paralelas no decorrer de seu comprimento e uma porta vermelha em sua extremidade. Uma das portas estava entreaberta e as remanescentes trancadas, o padre então abriu a primeira porta e no meio da sala avistou um cadáver pendurado pelo pescoço em uma corda, em seu rosto estava estampado um sorriso perturbador e eufórico, uma chave estava pendurada em sua mão junto a uma etiqueta, o padre se aproximou com receio e a puxou. A etiqueta que parecia rasgada e dizia:
Por todos os pecados que cometi…
O padre saiu da primeira sala e com a chave que havia pegado abriu a segunda porta, nela tinha uma banheira com um líquido viscoso e vermelho no lugar de água que cobria pedaços sólidos de algo que ele não conseguia identificar, ele percebeu então que teria que pôr a mão dentro da banheira para procurar a chave, eram pedaços de um corpo esquartejado. O padre remexeu sua mão retirando pedaço por pedaço da banheira até encontrar um órgão, diferente dos membros, o coração que ele havia encontrado lhe chamou a atenção, no meio dele tinha um corte profundo de onde saía a ponta de uma corda fina, o padre puxou a corda e tirou de dentro do coração um saco pequeno de plástico contendo uma chave e uma etiqueta, ele as retirou do saco e leu a etiqueta.
...por todos os corações que devorei…
O padre se retirou da sala e com a chave que pegou, abriu a terceira porta, no centro da sala tinha uma cadeira com um corpo sentado, ou melhor, jogado com seus braços abertos e com os pulsos cortados escorrendo sangue. Em sua boca tinha um papel, o padre o puxou e viu que era mais uma etiqueta rasgada presa a uma chave, um sussurro ecoou pela sala dizendo: "não deixe-o fugir". Era o corpo sentado que deixava suas últimas palavras deslizarem pelo ar, o papel dizia:
...por todas as famílias que despedacei...
O padre respirou fundo e foi para frente da quarta porta e a abriu. No meio dela tinha apenas uma mesa pequena com uma bíblia em cima, sobre a Bíblia tinha uma chave vermelha e uma etiqueta que dizia:
eu recebo o perdão e que todo o meu mal pertença a Satã.
O padre foi para a porta vermelha e destrancou, era uma sala bem pequena com um buraco no meio do chão, nele tinha uma escada, na parede da sala de frente para a porta tinha uma carta que dizia:
Ainda lembro-me de quando ele entrou em minha vida com aquelas palavras tão doces e suaves, ele disse-me o que fazer e com quantas pessoas eu deveria fazer, disse-me que no fim ele me abraçaria com todo amor que me pertence e que me daria um lugar para sentar ao seu lado, agora conclua meu ritual padre, e me ajude a sentar no lado do meu senhor.
O padre guardou consigo a carta e desceu pela escada até uma sala cheia de camas de metal sem colchões com corpos queimados em cima de todas e uma figura no fim da sala em pé e com um sorriso no rosto.
— venha, homem de Deus, e absolva meus pecados, entregue-os ao meu dono — disse a figura.
O padre se aproximou e começou a recitar:
Que os teus pecados sejam perdoados e que sejam entregues a quem te ordenou que fizesse tais atrocidades, que ele te receba em seu colo, que ele te abrace e te dê em sua mesa, um lugar privilegiado, pois afinal existem homens pecadores que não querem sujar as mãos com seus pecados, amém.
O padre se aproximou e tirou de seu casaco uma lâmina pequena e a encravou com delicadeza no pescoço do assassino. O silêncio da sala foi interrompido pelo som do ar que saía dos pulmões do assassino se misturando com o sangue que jorrava de sua carótida, ele tentava desesperadamente falar, mas tudo o que conseguia era ceder ao chão de joelhos, agonizando e enfim deitando sobre sua poça de sangue. O padre abriu um grande e sincero sorriso no rosto e com uma voz risonha agradeceu:
— obrigado meu servo, por me dar tanto prazer.
Fim.
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Contos De Um Mortal Prévia
HorrorAqui repousam as palavras dos contos macabros do andarilho, os contos de um mortal que caminha de história em história, aprendendo seus versos e os passando de memória para memória