A todos que se encontram desnorteados com os últimos acontecimentos, creio que devo uma explicação.
As coisas na minha vida começaram a ficar muito estranhas desde aquele dia (13 de março), ainda lembro como se fosse ontem, eu tava com meus primos tomando banho de Rio e aproveitando a maré alta do mês quando ele encostou em mim por trás, me virei e tinha uma pessoa boiando de costas pra cima com um desenho entalhado no pescoço, eu havia pensado que fosse algum tipo de brincadeira, quando o virei ele estava com o rosto sem expressão, fiquei chamando ele com um sorriso sem graça no rosto de quem não gosta de ser enganado e quando olhei para o lado meus primos me chamavam com seus rostos aterrorizados. Lembro-me de estar na margem do rio com muitas pessoas e a polícia retirando o corpo da água, o símbolo do pescoço dele ficou na minha mente eram como vários cortes que se cruzavam formando um desenho macabro. Nos dois ou três dias seguintes os flashes daquele momento passavam periodicamente nas minhas lembranças e me davam uma dor de cabeça chata e forte, minha mãe insistiu que deveria me pôr na terapia, eu neguei e hoje acho que teria sido bom poder falar com alguém.
Depois desse período eu parei finalmente de ver essas coisas e então tudo começou a ficar ainda mais bizarro. Lembro das noites em que deitada eu me virei e ao meu lado via por poucos segundos uma pessoa pálida deitada de costas para mim, com aquele símbolo no pescoço, o susto me fazia gritar e logo ele não estava mais ali. Em certos dias eu levantava com sede e via minha porta entreaberta com um rosto metade escondido na fresta e me encarando sem parar, me seguindo com seus olhos e logo em seguida recuando para as sombras. A cada noite que se passava eu dormia menos até que então chegou o dia 21 de maio e a noite finalmente estava tranquila, eu havia conseguido dormir cedo, pelo menos até meados de uma da manhã, quando um barulho no interior da casa me acordou, eu levantei, abri a porta e cuidadosamente avancei no corredor escuro, um silêncio profundo tomava conta do lugar, olhei na sala, cozinha e até nos quartos da casa e não havia nada, então decidi me deitar de novo, ao abrir a porta do meu quarto vi um garoto sentado na beira da cama olhando em minha direção, pálido e sem expressão, fiquei paralisada na porta o encarando por alguns segundos até que finalmente pude dar um pequeno passo para trás.
O silêncio reinava.
-ME OLHAAAAAAAAA
Um grito estridente começou a sair da boca do garoto que começou a levantar.
Neste momento eu comecei a correr pela casa na tentativa de sair dali, nas paredes havia aquela marca de seu pescoço, diversos riscos escarlates cintilantes que ficavam cada vez mais frequentes
-NÃO CORRE DE MIM
Ecoava pelo corredor a voz do garoto que corria em minha direção, o terror que me consumia me deixava arrepiada e tonta de nervosismo e num ato desesperado de medo pulei na janela de vidro e assim escapei dali.
As poucas pessoas para as quais eu contei sobre essas coisas disseram que eu era louca, talvez ter visto aquela cena perturbadora no rio tenha acabado com a minha sanidade, eu só sei que desde aquele dia eu não consegui dormir por mais de dez minutos, me sinto pesada e acho que tá na hora de acabar com isso, não aguento mais ver ele por todos os lugares, não aguento mais ver esses símbolos, eu só quero estar leve.
Para todos os que se importam comigo, obrigado pela companhia, encontro vocês do outro lado, adeus.
PS: desculpem meus erros, os da vida e os das palavras
-Sofia Martins
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Contos De Um Mortal Prévia
HorrorAqui repousam as palavras dos contos macabros do andarilho, os contos de um mortal que caminha de história em história, aprendendo seus versos e os passando de memória para memória