Verão de 97

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-por onde você quer começar Joseph?

- então, eu sei que você é minha psicóloga, e que eu posso contar tudo, mas ainda é muito estranho falar daquela época.

- ainda assim você acha que deveria falar, não?

- acho que sim, acho que é de lá que vem meus pesadelos, apesar disso me parecer uma memória falsa.

- porque, como você disse antes, ela confunde sua cabeça com relação a tragédia que ocorreu na mesma época?

- exatamente

- não tenha medo, bote tudo pra fora, isso é essencial para que a gente possa trabalhar junto

- tudo bem.

Lembro vividamente do verão de 97, que foi quando ele apareceu na nossa porta, era de noite e nossos pais haviam saído para jantar, eu estava só com a minha irmã Any, eu tinha 15 anos e ela doze, eram por volta de nove e meia da noite quando ouvimos batidas na porta, eu levantei para checar, no entanto não conseguia enxergar ninguém através do olho mágico, o que era bem estranho já que enquanto eu espiava, a porta recebeu novas batidas e então uma voz mufina que vinha do lado de fora dizia:

Me deixe entrar, estou fraco e sedento, me dê de comer

Eu com minha inocência me senti no dever de ajudar e disse para a pessoa que não poderia deixá-la entrar, mas que iria pegar algo para que ela pudesse comer.

Fui até a cozinha e tirei uma coxa do Peru que estava na geladeira, então voltei para a porta e abri um pouco para que pudesse entregar a coxa para a pessoa. Imediatamente após eu ter fechado a porta, um osso voou através da entrada de correspondência, ele era do alimento que eu havia entregado. Neste momento a porta se abriu revelando um senhor com uns 1,80 de altura, seu corpo estava em forma, mas seu rosto era um tanto irreal, ele tinha olhos redondos e grandes e seu queixo era pontudo como a ponta de uma lua crescente, seus cabelos eram brancos e divididos em três cones que apontavam para cima como a coroa de um sol desenhado por uma criança, seu nariz era igualmente pontudo. Ele passou pela porta e agradeceu a mim por tê-la aberto para ele e então prosseguiu para dentro da casa e desapareceu depois de entrar na cozinha, neste momento corri para Any e a segurei enquanto voltava para a porta da casa, então saímos dali e quando pisamos no gramado nossos pais apareceram, não preciso nem dizer que recebi uma bronca daquelas por estar na rua, tbm não preciso mencionar que eles não acreditaram no que eu disse que havia acontecido. Depois de uns dias pus na minha cabeça que aquela situação não passava de algum delírio por causa do sono, bom, isso foi até o dia que meus pais mandaram eu subir para o meu quarto junto a minha irmã, enquanto passávamos pela sala de jantar eu vi aquela mesma figura esquisita, mas ela encarava a minha irmã com seus olhos arregalados, não parava de olhar nem por um segundo eu corri para avisar meu pai, mas quando voltamos ele não estava mais lá. Na noite seguinte durante a madrugada eu escutei minha porta abrir, quando abri os olhos, minha visão embaçada revelou dois pontos brilhantes, depois que a imagem ficou nítida eles já haviam sumido, foi então que ouvi outra porta se abrindo, levantei para ver e percebi que era o quarto de Any, acho que foi o meus instinto que me fez aproximar de lá, quando passei pela porta vi que aquela figura estava parada de frente pra cama dela, desnorteado eu corri em sua direção pra alguma tentativa de sei lá, tirar a Any dali, quando me aproximei ele se virou e pude ver que seus olhos eram tão brilhantes que emitiam luz, minha pressão caiu nessa hora e fiquei tonto me apoiando na parede como se eu fosse desmaiar, com minha visão turva testemunhei ele tocando no corpo de Any com o que pareciam ser garras, ele a estava devorando e durante minha última tentativa de ajudá-la, desmaiei. No outro dia acordei na minha cama com meus pais chorando, os médicos disseram que a morte de Any foi repentina, e que ela estava dormindo nesse momento. Nunca pude superar tudo isso, e agora tô paranóico, tenho medo de que aconteça com a minha filha. Já fiz de tudo pra tentar me curar desse medo, até confessei meus pecados, o padre Roger é amigo da família a anos e disse que às vezes nós criamos coisas absurdas pra tentar suportar o trauma, mas não sei se isso faz sentido, entende?

-na verdade sim, nós podemos trabalhar nisso juntos, e no seu devido tempo, uma coisa de cada vez, vamos analisar tudo…

...essa é a primeira vez que falamos disso

E aos poucos tudo vai estar devidamente organizado com você.

-Espero que sim doutora, espero que sim. Você deveria jantar lá em minha casa qualquer dia e conhecer minha família, já estamos nessa a um tempo, de repente pode ser legal

-só se eu puder conhecer sua filhinha haha

-vamos marcar e te aviso

-vou esperar ansiosamente para me alimentar lá

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⏰ Última atualização: Nov 10, 2021 ⏰

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