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O GRUPO DE BUSCAS

QUANDO A MANHÃ SURGIU no coração da selva, no pequeno acampamento dos franceses, encontrou um grupo triste e desmotivado.

Assim que houve luz o suficiente para que se enxergassem as imediações, o tenente Charpentier enviou homens em grupos de três em várias direções, para localizar a trilha, e em poucos minutos a expedição se apressava em direção à praia.

Era um trabalho lento, pois enterraram os corpos de seis homens — e mais dois sucumbiram durante a noite — e os feridos precisavam ser carregados com muito cuidado, vagarosamente.

Charpentier decidira retornar ao acampamento da praia em busca de reforços, para depois realizar uma tentativa de rastrear os nativos e resgatar D'Arnot.

Já era quase noite quando os exaustos soldados alcançaram a clareira na praia, mas para dois deles o retorno trouxe tanta alegria que todo o sofrimento e a desolação foram esquecidos por um instante.

Quando o pequeno grupo emergiu da floresta, a primeira pessoa que o professor Porter e Cecil Clayton viram foi Jane Porter, junto à porta da cabana. Com um pequeno grito de alegria e alívio, ela correu para saudá-los, envolvendo os braços no pescoço do pai e caindo no choro pela primeira vez desde que foram abandonados nessa terrível e arriscada enseada.

O professor Porter lutou bravamente para disfarçar a emoção que sentia, contudo, a tensão sofrida por seus nervos e o fato de estar enfraquecido o venceram. Por fim, enterrando o rosto idoso no ombro da jovem, chorou silenciosamente, como uma criança cansada.

Jane Porter o conduziu em direção à cabana, e os franceses caminharam até a praia, de onde vários de seus companheiros surgiam para recebê-los. Clayton, desejando deixar pai e filha a sós, juntou-se aos marinheiros e permaneceu conversando com os oficiais até que o barco dos últimos seguisse em direção ao cruzador — onde o tenente Charpentier deveria relatar o infeliz resultado de sua aventura.

Então Clayton voltou-se lentamente em direção à cabana. Seu coração transbordava de alegria. A mulher que amava estava salva. Imaginava qual seria o milagre que a resgatara. Vê-la com vida era quase inacreditável.

Aproximando-se da cabana, viu que Jane Porter saía. Ao vê-lo, a jovem apressou-se ao seu encontro.

— Jane! — exclamou ele. — Deus realmente tem sido generoso conosco. Conte-me como você escapou, conte-me a forma que a Providência assumiu para salvá-la para... nós.

Nunca a havia chamado pelo primeiro nome. Dois dias antes, ouvir Clayton pronunciar seu nome a teria feito brilhar de prazer, mas agora isso a amedrontava.

— Sr. Clayton — respondeu calmamente, estendendo a mão —, primeiro permita-me agradecer-lhe por sua cavalheiresca lealdade a meu querido pai. Ele me contou o quão nobre e abnegado o senhor tem sido. Nunca poderemos retribuir tamanho gesto!

Clayton percebeu que ela não respondeu à sua saudação do modo como esperava, mas isso não o incomodou. Jane havia passado por muitos apuros, não era o momento oportuno de demonstrar seu amor — ele logo percebeu.

— Já fui recompensado — disse. — Só de ver o professor Porter e a senhorita a salvos, bem e juntos novamente. Não acho que poderia suportar por mais tempo o sofrimento causado por essa tristeza implacável. Foi a experiência mais dolorosa de minha vida, srta. Porter, pois estava em jogo também meu próprio sofrimento; o maior que já vivi. Mas o de seu pai era tão desesperançado que nos compadecia. Ele me ensinou que nenhum amor, nem mesmo o amor de um homem por sua mulher, pode ser tão profundo, terrível e altruísta como o de um pai por sua filha.

Tarzan, O Filho das Selvas (1912)Onde histórias criam vida. Descubra agora