Acidente

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- Eatá escuro não está, Jimin?

- Tem uma vela acesa só.

- Apaga a vela, pode fazer isso por favor? Fica no mais escuro possível.

(Jimin se estica para assoprar a vela e logo volta a colocar o telefone no ouvido.)

- Pronto, kookie, apaguei.

- Obrigado. Minha história é feita de sons, cheiros e medo... bastante medo, Ji. É incrível como.. eu consigo lembrar de cada detalhe do acidente, eu tinha apenas oito anos mas me lembro de tudo, até mesmo o tipo de claridade lusco-fusco das cinco da tarde em dia de inverno. Lembro do carro pela estrada, o reflexo do sol contra meu rosto... o campo verde por onde passavamos e a calma na feição de meu pai com sua camisa azul de botão enquanto ouviamos uma de suas músicas antigas. Ele cantarolava batendo no volante com os dedos. De repente o caminhão... aquela luz forte contra meus olhos e a velocidade com que o automóvel vinha em nossa direção... Logo as trevas de meses, os meses em que disseram sobre eu ter ficado em coma. Espere um pouco, gatinho vou pegar um cigarro.

(Jungkook abandona o telefone sobre a mesa, tateia atrás do masso e tira de seu bolso o isqueiro o qual não demorou a acender após ter um dos cigarros entre os dedos pouco trêmulos se acalmando depois da primeira tragada. Jimin sentou no chão com seu gatinho no colo encolhido sobre o tapete enquanto esperava o outro voltar.)

- Ji..?

- Estou aqui, estou ouvindo.

- Certo. O despertar. Eu seria ingrato e idiota se não entendesse minha mãe. O marido morto, um filho traumatizado pelo acidente, a situação finaceira que piorava. Ela foi uma mulher maravilhosa, Ji. Ela fez de tudo pra me fazer feliz, ela lia pra mim e me mostrou a literatura, a música, me apoiou enquanto trabalhava muito e sempre serei muito grato por todo esse amor. Mas é dificil passar o amor sem que ele se torne outra coisa. O ciúmes, Jimin. O ciúmes pode tornar alguém uma pessoa muito feia, um sentimento feio, ainda mais quando uma mulher que perdeu tanto tentava fazer seu filho ser feliz. Eu sou grato por isso mas a maneira dela... a maneira com que desejava fazer isso tornava tudo ruim.

(Jeon pausa para tragar dando uma baforada longa, inundando o quarto com o cheiro.)

- Quando entraram os amigos na minha vida parecia que as coisas ficavam ainda pior entre eu e ela, o controle dela. Eu fazia muitas coisas ia à escola, ao clube, aprendi a tocar, mas quando envolvia conversar com alguém sua face feia dava as caras. Por exemplo.. se eu convidasse alguém para ir em casa depois da escola. Mamãe nunca recusava e tratava a pessoa com muita educação, passávamos a tarde juntos conversando, brincando mas no momento em que ele ia embora ela começava com seu jogo, não falava mal ou xingava o garoto e essas coisas mas gostava de dizer como ele poderia estar só me usando, que tinha pena de mim ou que ele não iria voltar porque ela não confiava nele, assim eu ficava inseguro com mais amizades e ela se tornava minha única amiga eu nunca percebia a real intenção em todas as vezes que ela arranjava defeitos para todos eles. Amigo? Não, é bom manter distância. Não há amigos suficientemente bons.

- Jungkook... mas por quê? Por que sua mãe te afastava deles assim? É muito ruim ficar sozinho.

(Um suspiro baixo do moreno é escutado, Jimin não podia ver mas ele possuia um sorriso triste nos lábios.)

- É estranho e egoísta, né? Mas talvez ela só quisesse me proteger. Eu entendo, no fundo ela só morria de medo de que as pessoas pudessem me ferir. Ela fielmente acreditava que só ela podia me tratar direito e me fazer feliz, é uma loucura egoísta, eu sei mas era no que ela acreditava. Até um cachorro que eu sempre quis ter ela me fez desistir. Se por um lado ela quem mais me incentivava a captar o mundo, ela era a pessoa que mais temia que o mundo chegasse até mim. Foi assim por anos, amizades, encontros, saidas com grupo de amigos tudo às escondidas, criando mil e uma desculpas pra sair e quando chegava em casa tinha que afirmar que não foi legal, que não encontrei ninguém interessante... como eu disse de que ela sim era minha melhor amiga

- E você achava isso mesmo?

- Às vezes sim, gatinho. Às vezes realmente haviam passeios e conversas bestas, frustrantes. Mas, mesmo quando era bom eu me divertia, vivia uma vida dupla por assim dizer. E isso durou, essa dificuldade com ela até meus vinte e dois anos.

(Jungkook umedece os lábios e da uma nova tragada antes de continuar.

- Hum.. eu tinha terminado o colegial, fazia uns bicos de meio período... resolvi fazer um cursinho. Foi no cursinho que eu conheci Yoongi.

Telephone - [JJK • PJM]Onde histórias criam vida. Descubra agora