Pela primeira vez, Sérgio consegue se manter em um emprego. Não é o que ele sonhou, mas é o suficiente para pagar metade do aluguel do apartamento que divide com Bartholomew, seu melhor (e único) amigo. Ou seja, ele não se importa em ter que vestir um uniforme ridículo, preparar lanches gordurosos e, de vez em quando, lavar os pratos sujos e esfregar o chão do banheiro, contanto que receba o pagamento todo o final de mês.
Pode até não parecer, mas é um trabalho pesado. Ou, pelo menos, Sérgio sente que é. Às vezes, é tão exaustivo que ele fica com calos nos pés e passa o dia inteiro pensando em quando verá a sua cama novamente, que, apesar de ser o sofá mais duro e velho que ele já viu em toda a sua vida, é o lugar mais confortável que ele tem para dormir após um turno intenso de serviço. Não que Bart não tenha se oferecido para dividir sua cama até que eles conseguissem comprar uma para Sérgio. Ele fez isso mais de uma vez, na verdade. Porém, é óbvio que Sérgio recusou, visto que já se sente a pessoa mais inconveniente do mundo por não conseguir pagar todas as contas. Ele não quer incomodar Bart ainda mais, mesmo que, para isso, precise ficar com o corpo dolorido.
De acordo com o relógio pendurado na cozinha da lanchonete, faltam apenas cinco minutos para às sete horas da noite. Ou seja, já está na hora de fechar. Sérgio, então, começa a guardar tudo. Ao terminar, ele vai até a área de descanso dos funcionários, guarda o uniforme (que está cheirando a suor e fritura) em um dos armários e se despede de seus poucos colegas de trabalho, que também já estão se arrumando para ir embora.
Assim que passa pela porta da frente, ele se depara com Eleonor e Joshua, que estão discutindo sobre onde irão beber. Uma vez, os dois até convidaram Sérgio para se juntar a eles nas reuniões que fazem todas as sextas-feiras. Aparentemente, é o que colegas de trabalho fazem quando seus turnos acabam e não precisam trabalhar no dia seguinte. No entanto, Sérgio recusou. Ele nunca saí para beber com os amigos, nem mesmo depois do serviço. Na verdade, ele nem sequer acha têm amigos. Bart está tentando mudar isso. De vez em quando, ele apresenta algumas pessoas a Sérgio, mas, até agora, ele não obteve nenhum resultado positivo. Ele ainda tem muito trabalho pela frente.
Ao chegar na parada de ônibus, Sérgio se senta em um dos bancos de espera. Ele sabe que estão sujos, mas, no momento, ele está tão cansado que poderia se sentar até no chão.
"Sinto como se meus pés fossem cair...".
Assim que percebe que o ônibus vai demorar para chegar (como normalmente acontece), ele tira o celular e o fone de ouvido da mochila para escutar música enquanto espera. Ele se certifica de deixar os aparelhos o menos a mostra possível. Não que acredite que alguém vá se interessar em roubar a porcaria antiga e quebrada que ele chama de "celular", mas ele prefere não correr o risco de ser assaltado (de novo). Até por que, se ele perdesse o celular, não conseguiria acordar para ir trabalhar, já que depende do despertador. Ele sabe que poderia simplesmente pedir para Bart o acordar quando estivesse saindo para ir para a faculdade, mas é claro que Sérgio não vai fazer isso.
Após alguns minutos, mais pessoas se juntam a ele para esperar pelo ônibus, que, para a sorte de todos, não demora muito mais para chegar. Ao subir, Sérgio percebe que não tem mais nenhum assento vazio. Ele se odeia por pensar na possibilidade de arremessar um dos passageiros pela janela para poder se sentar.
"Lá vamos nós... De novo...".
No caminho, ele consegue um lugar para se sentar. Porém, dura pouco, já que, logo em seguida, uma mulher entra no ônibus. Em uma de suas mãos, ela está carregando incontáveis sacolas, que, sem dúvidas, estão pesadas. Na outra, um bebê que está com o rosto vermelho e molhado de tanto chorar. Apesar de quase não se aguentar mais em pé, Sérgio resolve ceder o seu assento para que ela possa se sentar. Ele, então, volta a se espremer entre os corpos suados e cansados dos outros passageiros. Dessa vez, no entanto, ele não se importa, já que, pouco tempo depois, o ônibus para em uma rua perto de onde ele mora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Você me Trouxe de Volta.
RomanceAo se mudar para a casa de Bartholomew, o seu melhor (e único) amigo, Sérgio começa a ver o que realmente significa se tornar um adulto e, o mais importante de tudo, dividir a vida com outra pessoa.