cap 8

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Sam's POV

Acordei animada, hoje eu vou ver a Deena de novo! Levantei e fui tomar um banho quente, depois coloquei uma calça de moletom e uma blusa, já que ia ficar em casa até às 17h, e desci para a cozinha, onde minha mãe estava tomando café. Droga, ela deve estar de mau humor. Me viro de volta para as escadas, na tentativa de não ser vista por ela, mas vai em vão, já que a ouço me chamando com aquele tom seco, típico de quando ela está brava.

- Samantha?

Me viro devagar, me direcionando, desanimada, à cozinha, onde ela estava sentada lendo jornal.

- Bom dia mãe. - eu digo, já aceitando que vou ter que aguentar ela xingar o meu pai e dizer que sua vida é horrível.

Pego o leite na geladeira, e a caixa de cereal, já me preparando para levar o meu café da manhã lá pra cima e comer no silêncio confortável do meu quarto.

- Você viu que seu pai saiu mais cedo hoje? Certeza que ele está nos trocando por uma outra mulher de quinta que ele achou na rua, e deve estar vagabundeando com ela nessa hora da manhã.

Reviro os olhos e despejo o leite na tigela com o cereal, de costas para ela. É incrível como ela consegue acabar com a minha animação em um piscar de olhos. Meu sonho, de verdade, é ir morar sozinha, sem ter que ouvir as brigas dos meus pais todas as horas do dia, e poder ser eu mesma, me vestir do jeito que eu gosto, decorar meu quarto como eu gosto, falar do que eu gosto, gostar de quem eu quiser... viver com ela parece uma prisão sufocante.

- Você não vai falar nada? Vai ficar quieta de novo? - ela fala, já aumentando o seu tom.

Sinceramente, eu estou sem saco para isso, é sempre a mesma coisa, sempre o mesmo discurso sobre a filha inútil e apática que eu sou. De vez em quando só queria deixá-la orgulhosa, mas parece uma tarefa impossível.

A olho com uma expressão cansada e digo:

- Vou para o meu quarto.

E começo a me direcionar para o andar de cima, já imaginando a cara de desapontamento dela. Consigo chegar ao meu quarto em paz, sem ela gritar nada nem vir atrás de mim, o que é estranho, porém ótimo. Coloco minha tigela na mesinha de cabeceira e pego meu walk man, logo o ligando. A música "Hey" começa a tocar, e a imagem de eu e Deena cantando em seu carro aparece em minha mente. As lembranças dela me beijando, piscando pra mim, e olhando para os outros com aquela cara de brava me faz sorrir. Pelo jeito estou gostando dela mais do que eu pensava... Isso vai ser um problema.

Pego a tigela e me sento na cama, comendo o cereal e pensando sobre Deena. Quando termino de comer, me deito de novo e acabo dormindo, acordando somente algumas horas depois, meio tonta e grogue. Olho para o relógio, que marcava 16h, droga! Eu tenho que me arrumar para ir ao parque! Me levanto com calma para não ficar mais tonta e vou até meu guarda roupa, escolhendo uma saia com flores pequenininhas, e uma blusa branca de manga curta, já que está sol lá fora. Me visto e desço para fazer uns sanduíches de manteiga de amendoim com geléia, que eu sempre vejo ela comendo. Coloco eles em uma mochila e pego uma toalha vermelha quadriculada. 16h35, tenho que ir!

Saio de casa e começo a andar em direção ao parque, o que dá uns 25 minutos. A caminhada é bem tranquila, chego no local e estendo a toalha, me deitando logo depois. Olho em meu relógio, que marca 17h, cheguei bem na hora. Fico observando as nuvens, esperando Deena chegar, até que a vejo aparecer em meu campo de visão, sorrindo.

- Oi. - ela diz, olhando para mim.

- Oi. - eu falo, me apoiando pelos cotovelos para olhá-la.

Ela estava tão linda... Vestia uma calça cargo verde musgo e uma blusa branca com as mangas azuis, e estava um pouquinho descabelada.

- Desculpa o atraso, demorou pra limpar a casa do Simon, estava bem suja. - ela diz, rindo.

- Eu imagino. - respondo, também rindo, mas nervosa com sua proximidade.

Ficamos nos encarando por um tempo, me perdi em seus olhos castanhos cor de mel, que me pediam para beijá-la, mas já que estamos em público, não posso.
O parque não estava muito cheio, tinha umas pessoas jogando frisbee e outras tomando sorvete. Eu me sento, cruzando minhas pernas, e ela faz o mesmo.

- Então... qual é a programação de hoje? - ela pergunta, ainda olhando para mim.

- Ah, eu não planejei nada. - falo, já me sentindo mal, porque deveria ter pensado em algo melhor para fazer.

Certeza que ela está se arrependendo de ter vindo, e preferia ter feito alguma coisa com Simon e Kate na casa dele.

- To brincando, Sam. - ela diz, rindo. - Só de estar com você já estou feliz.

Eu dou um sorriso para ela, aliviada e explodindo de felicidade por dentro.
- Mas então, você gosta de ser líder de torcida?
- Eu acho bem legal até, mas as garotas só ficam falando sobre meninos ou outras coisas chatas, como os professores e fofocas. Eu realmente não entendo o que elas acham de tão especial em garotos, elas ficam idolatrando eles, como se fossem os donos do mundo e elas tivessem que obedecê-los. Me dá bastante raiva, mas a Megan é minha melhor amiga, a gente conversa bastante sobre outras coisas bem mais profundas, mas ela não sabe que eu, ahn, gosto de meninas, não sei se ela me "aceitaria" ou algo assim. - eu digo, percebendo logo depois que desabafei por um bom tempo.  - Nossa, eu falei muito, né? Desculpa, de vez em quando eu faço isso, mas me avisa da próx...

- Relaxa, Sam. Eu gosto quando você tagarela. - ela fala, me encarando com um sorriso, e se aproximando cada vez mais e desviando seu olhar de meus olhos para minha boca. 

- Deena... a gente não pode. - eu falo, mas olhando a sua boca. Não sei da onde tirei esse esforço para não beija-la, mas consegui me controlar, e ela começa a se afastar calmamente, olhando para o chão. 

Vai ser difícil ficar em segredo, mas se alguém descobrir minha vida acaba e minha mãe me mata, então melhor ficar assim mesmo, até eu me acertar comigo mesma, pelo menos. 

-Eu, hm, fiz uns sanduíches de manteiga de amendoim e geleia, você quer? - eu falo, tentando diminuir o clima ruim que ficou. Que eu fiz ficar. 

- Nossa, são os meus favoritos, claro que eu quero. - ela diz, sorrindo um pouquinho.
Yay, pelo menos isso eu acertei. Pego minha mochila e tiro eles de dentro, alcançando um pra ela e pegando um para mim. Ela da uma mordida e diz:

- Sam! Tá muito bom! - ela fala, ainda mastigando.

Eu sorrio, que bom que ela gostou! Eu estava meio nervosa se não fosse do jeito que ela gosta ou sei lá... 

- Ah, valeu, o segredo é deixar na geladeira por um tempinho para a manteiga de amendoim e a geleia congelarem um pouquinho. - eu falo, também começando a comer o meu sanduíche. - Mas não conte pra ninguém, porque é minha receita secreta. 

Eu digo, de brincadeira.

- Seu segredo está salvo comigo. - ela fala, rindo. - Seus segredos, na verdade. 

Fico quieta por um tempo, mexendo em minhas mãos. A verdade é que eu me sinto muito mal por ter que esconder esse meu "relacionamento" com a Deena, mas antes que eu pudesse falar algo, ela diz, segurando minha mão de leve:

- Tá tudo bem Sam, não esquenta com isso. 

Eu a olho e me perco em seu sorriso. Ele me conforta, mas ao mesmo tempo me mostra o quão triste ela está por não podermos assumir que gostamos uma da outra. Que droga.

FEAR STREET- Sam e DeenaOnde histórias criam vida. Descubra agora