Capítulo II - Curiosidades

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Passava das 2h da madrugada quando Elif finalmente chegou em casa, no bairro Balat, na parte histórica do lado europeu de Istambul. Nem mesmo conseguira ligar para o pai avisando que chegaria mais tarde. Passou as últimas 3 horas no distrito, digitando o seu relatório, instaurando o inquérito policial e analisando as gravações. Ela acreditava ter visto duas falhas bem sutis nas imagens, em horários próximos ao crime e avisou a perícia. Talvez seja esse o motivo de não aparecer qualquer suspeito nas gravações. Os depoimentos de Can Alagöz e Meltem Aksal foram confirmados em parte. Elif os viu subindo às 21h12, entrando na suíte dele e saindo às 21h43. Pela movimentação na área da piscina, foi possível deduzir que Can e Meltem estavam esperando o elevador para descer de volta à festa quando Taner Faruk caiu. Mas estranhamente, não era possível vê-los esperando o elevador, apenas saindo dele no térreo. O que comprova a adulteração nas gravações. Havia apenas um segurança na sala de gravações e, pelo depoimento dele, ninguém mais entrou naquela sala e ele mesmo não teria capacidade de adulterar aquele equipamento avançado. O mais provável é que o sistema de gravação do circuito interno tenha sido hackeado.

Farit bey já estava dormindo, mas deixou um bilhetinho na porta da geladeira: "Seu prato está pronto, é só esquentar no micro-ondas. Sei que está exausta. Te amo, filha." Elif sorriu e foi esquentar sua refeição fora de hora mesmo. Estava faminta!

Há alguns quilômetros dali, em Bebek, numa linda mansão com vista para o Bósforo, Can Alagöz não pensava em dormir ainda. Sabia muito bem que o que fazia era crime, mas além de não resistir à tentação de derrubar barreiras de segurança de arquivos do governo, especialmente da polícia, não conseguia controlar sua curiosidade sobre a Comissária Elif Öztürk. Descobriu que ela teve uma infância pobre, mas sempre foi uma garota prodígio. Aluna acima da média, Elif passou no disputado exame de admissão do İstanbul Lisesi, uma das melhores escolas públicas secundárias da Turquia. Portanto, ela fala alemão já que a escola é de base alemã e fornece um diploma com o qual ela poderia se candidatar a qualquer universidade da Alemanha. Mas, assim que completou 18 anos, Elif entrou na Academia de Polícia e começou a formação básica de policial. Trabalhou por 4 anos como policial em Istambul, até que fez a prova para o Centro de Treinamento de Chefes de Polícia, em Ancara. Passou e formou-se com honras. De volta a Istambul agora em 2019, tornou-se Comissária da Divisão de Homicídios do Distrito de Beşiktaş. Ela já possui um alto índice de casos resolvidos na carreira e recebeu um prêmio importante.

- Ok, já sei que você é o orgulho da polícia turca, Elif. Mas e a sua infância, pai, mãe, irmãos...? Vamos invadir um pouco mais o sistema do İstanbul Lisesi. Hmmm... Mais fácil do que pensei.

Poucos minutos depois, Can já sabia que a mãe de Elif, Asli Öztürk, era falecida quando ela entrou no liceu, uma triste similaridade com ele mesmo. O pai, que se chama Farit Öztürk e trabalhou na marinha mercante, hoje é aposentado, mas mantém um barco de pesca em sociedade com um amigo. E ela tem um irmão mais novo que se chama Yalin, que também estudou no İstanbul Lisesi. Olhou para a hora no computador e decidiu finalizar sua aventura hacker sem deixar rastros. Dali a algumas horas, teria uma reunião importante na empresa.

Elif acordou assustada, suando e tremendo. Droga! O maldito pesadelo novamente. Fazia tempo desde a última vez. Olhou para o relógio na cabeceira e ainda eram 5h30 da manhã. Não conseguiria voltar a dormir. Levantou-se e foi até a janela. Tentou lembrar-se da mãe viva. O cheiro do perfume dela e ela preparando o café-da-manhã eram fragmentos que sempre vinham a sua mente e que o trauma não conseguiu apagar. Sorriu e segurou a corrente de ouro com o relicário que pertenceu a sua mãe. Foi tomar um banho quente para relaxar.

Já passava das 7h quando Can Alagöz terminava o café-da-manhã enquanto assistia na TV a notícia sobre o homicídio no Çırağan Palace. Parecia até título de livro da Agatha Christie, mas era a realidade e foi acontecer justo no dia da Festa Anual da Armitech Corporation.

Crime e Paixão em IstambulOnde histórias criam vida. Descubra agora