O som familiar das rodas girando contra os trilhos, anunciando a chegada do trem, aliviava o jovem sentado sobre um dos bancos da estação de Busan. Sua mão, que descansava sobre uma das coxas, de repente parou de acompanhar o movimento constante, com direção vertical, de sua perna.
Era o último de seu turno.
— Jeongguk, esse é um importante! — alertou, seu colega de trabalho e amigo de longa data, Kim Namjoon.
Era uma expressão popular entre os carregadores de bagagens, usada sempre antes da chegada de locomotivas que contavam com a presença de homens de negócios e suas famílias. Com sorte, gorjetas generosas seriam distribuídas.
O maquinista foi o primeiro a descer, o cansaço escancarado em seu rosto, denunciando que havia sido mais uma viagem de muitas. Jeongguk lembrou-se de seus dias de novato, quando seu olhar se concentrava nos sapatos bem engraxados e de qualidade muito distante da que ele conhecia. Aprendeu então, que se continuasse a prestar mais atenção nos pés dos passageiros, todos passariam por si de uma só vez.
— Aqui está, querido — Lee Sora, já conhecida na estação por suas longas viagens sem o marido, se colocava diante do carregador que tanto lhe chamava a atenção pela aparência, deixando notas a mais diretamente no bolso de sua calça.
— Seja bem-vinda de volta, senhora Lee. — Um sorriso cordial, mas ao mesmo tempo, ladino, foi a resposta.
A mulher deslizou os dedos pelo cabelo curto, as madeixas caindo em seus ombros. O garoto não tinha seu relógio de bolso nessa tarde, mas teve sua confirmação da delonga intencional no instante em que o próximo passageiro se aproximou, com o olhar afiado e os lábios semicerrados.
Era jovem, talvez da mesma idade de Jeongguk, os fios negros estavam presos por uma boina vermelha, mas alguns — teimosamente — cobriam seus olhos, que mais pareciam amêndoas.
— Por favor, faça isso logo — a voz era doce, melodiosa, sequer importava o teor rude das palavras proferidas. — Está me ouvindo?
Só então, Jeongguk percebeu, estava parado diante de duas malas que já deveriam ter sido carregadas. Com um menear positivo de cabeça, acompanhado de um breve sorriso, ele fez seu trabalho, levando as bagagens ao carro no qual, sem qualquer hesitação, o garoto entrou, batendo a porta.
— Ora... Modos, Jimin. Rapaz, obrigado pelo serviço.
Jimin.
— Não se preocupe, senhor. — Após guardar mais uma mala, que supôs ser do homem que repreendeu o garoto, o viu se aproximar com a carteira em mãos.
— Tome, para levar alguma moça ao cinema.
A gorjeta era, sem dúvidas, a de valor mais alto que havia recebido durante a manhã. Jeongguk se curvou em uma reverência, agradecendo ao homem, mas seus olhos ainda estavam no garoto, este que, ao notar que era observado, franziu o cenho ainda mais e se encolheu no banco, literalmente para se esconder.
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Entre Boinas e Balões
FanfictionJeongguk não acreditava em mudanças repentinas, como também não acreditava que o verão de 1949 seria diferente dos demais. Mas algo mudou no instante em que seus olhos encontraram outro par, amendoados, carregados de impaciência e desaprovação. Tal...