A paisagem não era familiar, ainda que sua coloração fosse, e Jimin sentia a tensão em seus traços devido às tentativas falhas de compreender o que via.
Uma batida.
— Jimin.
O garoto afundou mais o rosto em meio aos travesseiros, procurando abafar o som que o atrapalhava na descoberta do significado das imagens que se formavam em seu inconsciente.
Outra batida. Mais forte.
— Jimin, será que pode abrir esta porta?
Quando a voz de seu pai foi reconhecida, na velocidade de um estalar de dedos, Jimin tocou os pés descalços no chão gelado e correu para tirar a pintura que terminou antes de partir de Seoul, do cavalete, a jogando sobre o colchão e cobrindo com os lençóis. O homem transparecia mais impaciência atrás da porta, e por um momento, o garoto praguejou, alheio a onde colocar o cavalete.
— O que está acontecendo aí dentro? Abra já!
Quis chorar com a possibilidade de Park Jihoon descobrir suas telas, imaginando em como escutaria por horas que pintar era uma atividade para mulheres e, certamente, no final, tudo seria confiscado e levado para longe de seu alcance. A angustiante ansiedade afligiu o jovem artista, guiando seus movimentos, e assim, a última prova da cena do crime parou debaixo da cama.
— Eu não encontrava a chave de jeito nenhum... — suspirou em pura atuação, deslizando as costas da mão pela testa. — Deveriam ter feito em um tamanho maior, não acha, papai?
— Não vejo motivos para se trancar — rebateu, a expressão marcada por desconfiança, mas que não demorou a se suavizar pela hipótese que acometeu o mais velho. — Estava pensando em alguma moça, meu filho?
Os sentimentos de Jimin pareciam estar em uma montanha-russa, de tão inconstantes. Culpava seu pai pelo asco e pela irritação terem se sobressaído no momento em que o outro insinuou tamanho ultraje.
— Não está velho demais para se incomodar com esse assunto? Devo lembrá-lo que tem dezenove anos, Jimin? — Teve uma negação sutil como resposta, e cruzou os braços. — Como eu pensei. Bom, se arrume, sua mãe e sua irmã chegam hoje à tarde e eu vou buscá-las na estação.
Jimin não contava que fosse pensar no rosto cheio de ousadia e presunção de Jeon Jeongguk, mas pensou. O viu pela primeira vez na estação de trem, e uma segunda, ontem, no bar barulhento e assustador, mas que rendeu folhas e mais folhas de desenho.
Ele começou desenhando um casal específico que dançava agarrado entre tantos outros, e se lembrava que a partir da terceira folha, já desenhava o cenário por inteiro, tendo perdido completamente a noção do tempo.
— E então? Virá comigo ou não?
— Não! — exclamou, o que causou estranhamento em seu pai. — Digo, não. Quero dar uma volta pela cidade.
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Entre Boinas e Balões
Fiksi PenggemarJeongguk não acreditava em mudanças repentinas, como também não acreditava que o verão de 1949 seria diferente dos demais. Mas algo mudou no instante em que seus olhos encontraram outro par, amendoados, carregados de impaciência e desaprovação. Tal...