— Eu não posso, filho. Já tenho muitos aqui comigo e tenho que me desdobrar para conseguir pagar todos no dia certo, e você ainda precisaria de uma quantia por hora, mas não deixe de olhar os classificados do jornal — aconselhou, fechando o capô do carro. — Sempre tem alguém anunciando alguma coisa.
Jeongguk não deixou de agradecer ao homem, Byeongho era um dos melhores mecânicos da região, além de ser honesto com todos que trabalhavam em sua oficina. Ainda que entendesse que, em outras circunstâncias, poderia ter sido contratado, a frustração não deixou de percorrer o rosto do jovem, começando por sua testa, a franzindo, e então partindo para seus lábios finos, os pressionando um ao outro.
O conjunto formava uma carranca, assustando até mesmo o cachorro de rua que sempre se aproximava de seus pés e pedia para ser afagado.
— Hoje só não é um bom dia, garoto — Jeongguk suspirou, se abaixando e sorrindo quando viu o animal tombar a cabeça para o lado, confuso. — Mas vai ficar, não vai?
O vira-lata, que após poucos segundos, voltou a se sentir confortável, colocou a língua para fora e a arrastou pela bochecha daquele que sempre lhe dava o que comer e que já tentara fazer com que não retornasse às ruas.
— Jeongguk?
O dono do nome pronunciado com certa surpresa ergueu o rosto, sem imaginar que encontraria uma das únicas pessoas que ainda queriam vê-lo de novo, mesmo depois de uma noite entre lençóis seguida por uma manhã com limites estabelecidos.
— Jaehyun — reconheceu, se levantando. — Faz um bom tempo, não?
— Desde que você arranjou um emprego na estação e me deixou esperando por umas duas noites — ele deu de ombros, rindo enquanto contava, como se não fosse grande coisa.
E era isso que Jeongguk mais gostava nele.
— E se ainda continuássemos com aquilo, eu faria você esperar por muito mais que duas noites. Preciso de outro emprego — suspirou, deixando que a frase ganhasse forma, e teve a sensação de alívio como recompensa.
— Outro? E como vai fazer quando as aulas voltarem?
Quando perguntavam sobre seus estudos, o garoto nunca tinha uma resposta na ponta da língua. A partir do momento que a doença respiratória de sua mãe foi descoberta, o último ano do ensino médio passou a ser sua última preocupação.
— O verão está só começando. Eu posso pensar nisso depois — rebateu, apoiando o quadril em um dos postes da calçada.
— Bom, se é assim, acho melhor você ficar com isso — ele se aproximou em passos lentos, tirando de dentro do casaco um jornal amassado. — É de hoje.
Jardineiro
Será encarregado de deixar as flores em bom estado, além de manter o corte da grama e lidar com a manutenção geral do jardim.
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Entre Boinas e Balões
FanfictionJeongguk não acreditava em mudanças repentinas, como também não acreditava que o verão de 1949 seria diferente dos demais. Mas algo mudou no instante em que seus olhos encontraram outro par, amendoados, carregados de impaciência e desaprovação. Tal...