Sempre Esteve Aqui

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Ana terminara de arrumar os lençóis sobre a cama, juntou as mãos na direção do coração e suspirou agradecida por concluir a sua parte na tarefa árdua de ajudar a sua mãe no serviço que naquele dia proporcionaria ter comida à mesa. Era fim de tarde e ao receberem a diária seguiram felizes para casa, mesmo o coração de Ana apertado por presenciar sua mãe de quarenta e nove anos, cansada, era grata porque Benedita Lopes, sua progenitora, jamais deixara de sorrir, mesmo diante de todos os sofrimentos que enfrentara. A garra de sua mãe inspirava a jovem de 17 anos e Ana não havia desistido de viver após a morte de seu pai por esse motivo. O fato trouxera grandes consequências as duas mulheres, uma que vivera tantas histórias e um amor verdadeiro e a outra que ainda iniciava sua trajetória.

Tivera que enfrentar a fome, a sede, o abandono dos parentes mais próximos e os irmãos de sua antiga igreja. Otávio fora um homem notável, por onde passara deixou marcas de fé e esperança, seu coração nobre o tornou-se valorosamente conhecido. No entanto, os que o rodeavam, desampararam as mulheres que mais amou em toda sua existência, sua amada esposa e seu coração fora do peito, sua querida Ana.

Benedita jamais deixou de crer nas promessas que o senhor havia feito para sua família, promessas de bem e não de mal. Acreditara fielmente que Deus estava no controle de tudo e que sua sorte mudaria, porque aprendera que quem se humilha diante de Deus, será exaltado. Seu Deus era poderoso para fazer infinitamente mais do que ela pedia em suas orações, crera sem duvidar ainda que o deserto que tivera que enfrentar se prolongasse por mais de três anos.

Ana, por outro lado, não orava mais, sorria pouquíssimo, o pouco que sorria era para sua mãe. Crescera em um lar regado de amor, carinho e mesa farta. Nunca enfrentara tamanha adversidade, não até o seu maior herói falecer. A saudade em seu peito era tanta, que não havia uma noite sequer que ela não chorasse antes de adormecer. A fé em seu coração desfaleceu, ela não cria mais no cuidado de Deus, Ana não sentia que tinha importância para o Criador que se silenciou e permitiu que todos a abandonassem e permitido que ela e sua mãe sofressem tanto. Ana não conseguia compreender quem outrora era seu melhor amigo nos momentos que mais precisou não estava lá. De todos os abandonos pelos quais passou, nada mais causava revolta em seu íntimo do que se sentir abandonada pelo seu melhor amigo. Quando Otávio sofreu um ataque cardíaco na sala de sua casa, Ana orou incessantemente para que ele não falecesse e seu melhor amigo ficou em silêncio. Após o velório, Ana buscou consolo, orou e gritou, mas Ele não dissera mais nada. Os meses passaram e mesmo revoltada buscava entender porque quem dizia tanto amá-la abandonou-a quando ela mais precisava ser carregada no colo, porque nem forças para caminhar por conta própria conseguira.

Ao chegar naquitinete de apenas um cômodo, com uma cama próxima à janela do lado esquerdo,um fogão pequeno e a botija de gás no direito e uma mesa retangular com duas cadeiras onde faziam suas refeições, deixaram sobre a mesma as compras que fizeram. Haviam passado no comércio próximo e comprado o alimento para o jantar, Ana se prontificou em fazê-lo já que sua mãe iria à igreja, ela não a acompanhara mais e sua doce mãe nunca a forçou a ir junto, apenas orava incessantemente para que Ana entregasse novamente seu coração à quem amou o mundo de tal maneira que entregou seu único filho para morrer pela humanidade, e que mesmo sem nada, mesmo diante de todas as situações de dor, sofrimento, perda e por mais que não se entenda as circunstâncias atuais, apenas de ter o filho do Deus vivo, vivendo dentro dos corações e fazendo morada, é o que bastava, porque Ele disse que enfrentariam situações conflituosas, ele não omitiu o fato de passamos por aflições, mas garantiu que todas elas nós já havíamos vencido, porque Ele venceu primeiro em uma cruz por cada ser humano.

— Mãe, amanhã você tem que trabalhar de novo, essa igreja é longe. Não prefere ficar em casa hoje, você está exausta — reclamou Ana cortando uma cebola sobre a mesa.

SEMPRE ESTEVE AQUIOnde histórias criam vida. Descubra agora