Prólogo

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PRÓLOGO

Eu nunca achei que poderia ter acontecido isso com a minha mãe.

Nunca achei que seria capaz de ser amada, e eu sei que por mais que eu me esforçasse eu não seria.
Por todos esses anos da minha vida eu fui enganada... Perdida na minha própria mente. Sem respostas para minhas perguntas. Toda essa melancolia, enganação, confusão estavam me agoniando, me fazendo afundar cada vez mais em um lugar que eu não conseguia nem me reconhecer. Eu não sabia quem eu era. E eu sei de quem é a culpa.
Eu não diria que isso é vingança, mas sim justiça! Várias pessoas dizem que não é certo fazer justiça com as próprias mãos, mas eu não acho isso... Ele vai pagar por tudo que ele fez com a minha mãe! Nem que eu tenha que sacrificar o meu próprio sangue ou os das outras pessoas por isso.

☾︎

Meus cabelos brancos quase acinzentados estão voando, como se criassem vida, junto com o vento batendo sobre o meu rosto pálido cheio de sardas.
Está no inverno, mas sempre continuo andando a cavalo com Liv, minha amiga do acampamento.

Descemos do cavalo após ouvirmos uma gritaria.

- Ah, não. De novo não! - disse Liv revirando os seus olhos castanhos que combinavam com os cachos do seu cabelo e com sua pele negra.

Lá estavam novamente; discutindo.
O nosso acampamento estava quase sem alimentos e bebidas, as crianças já choravam de fome. Depois do verão as coisas estavam cada vez pior.
Desde que as fadas do bem se separaram das fadas más o acampamento está abastardando.

- Sem as fadas más, não temos magia para plantar!- A mulher com uma criança no colo gritou

Eram as fadas más que faziam o acampamento funcionar. Com a magia elas faziam de tudo, plantavam, caçavam, recolhiam, construíam, cuidavam dos animais, enquanto as fadas do bem eram a cabeça do acampamento. Somos extremamente inteligente e sábios, todos ficam pasmos com a nossa sabedoria.
Tudo estava indo bem até as fadas más acharem injusto elas fazerem o dever e as fadas do bem sempre comandando e dando ordens. Eu não discordava delas, mas até um certo dia, elas começarem a injuriar das fadas do bem. Elas geralmente machucavam as fadas do bem e sempre recusavam as ordens do líder do nosso acampamento, o ameaçando-o com magia. Então decidimos nós separar, seria o melhor para todos, eu acho...

- Angie, o que está havendo? - eu sabia o que estava acontecendo, mas da mesma forma questionei.

- Não sabemos se os alimentos vão durar até o final do inverno, Lua. - ela falou com a voz baixa e oscilante.

Não disse nada, apenas aperto a mão dela para reconforta-lá, e ela o retribui com um sorriso de desanimo.
Mesmo não sendo minha mãe biológica, Angie sempre me tratou como filha, e eu como uma mãe, já que nunca soube dos meus pais. Eu sempre acho que sou um fardo na vida dela, por isso sempre tento ficar mais afastada o possível de encrencas, como disse, eu tento, mas não consigo.

Saí da multidão e logo senti alguém atrás de mim. Me virei e deparei uma pessoa alta e morena.

- Que susto, Dhener. - falei quase caindo enquanto segurava a sela do cavalo nas mãos.

Dhener era como sua mãe Angie; moreno, alto, olhos castanhos claros e muito carinhoso. Suas asas eram cinza, ele nunca achou bonito, por isso sempre as escondiam. Ele era como um irmão mais velho para mim.

Dhener riu do meu estado e logo abriu a boca para dizer algo, mas o interrompi.

- Não deveria estar no treino agora? - perguntei.

- Dá um tempo Lu. Aliás, você deveria estar cuidando dos cavalos, e não cavalgando com eles junto com a Liv. - ele respondeu.

- Verdade, mas eu não consigo ver eles parados o tempo todo, me deixa com dó. - falei alisando o ser de quatro patas.

- Por favor, Dhener, não conte para o meu pai, ok? - Liv fez uma carinha fofa que sempre deixava Dhener vermelho.

- Ok, ok. - ele diz com um sorriso bobo.

☾︎

Já havia anoitecido, a maioria das pessoas estavam dormindo, e eu continuava olhando para o fogo da lareira. Pensando em como poderia ajudar o meu povo. Eu queria ser útil. Queria provar para mim mesma que eu conseguiria. Eu não podia ficar quieta vendo o acampamento passando por dificuldades.

- Pensando na vida, Lua? - uma voz doce ecoou atrás de mim.

- Quase isso. - disse.

ela sentou ao meu lado e fixou os olhos no fogo junto comigo.

- Angie... - disse quase gaguejando.

- diga, Lu. - falou.

- Eu gostaria de saber mais sobre os meus pais... - a única coisa que sabia sobre minha mãe era seu nome.
Sempre perguntei sobre meu pai, mas sempre mudavam de assunto ou falavam que minha mãe nunca citou o nome dele no acampamento. - Eu considero a senhora como uma mãe. A senhora me tratou muito bem, sempre cuidou de mim e do Dhener com carinho e atenção. A senhora é como um anjo para mim. Eu só gostaria de saber se a senhora teria algo dela para me mostrar. Ou então... - antes que eu terminasse os seus olhos já brilhavam de gratidão, mas logo se desfazem.

- Querida, eu sinto muito, mas... - ela hesitou - Não sobrou nada da sua mãe que possa lhe mostrar. - ela dizia isso com um tom estranho. Algo me dizia que a mesma escondia algo.

- Durma bem, querida - ela beijou minha testa e se levantou.

- Boa noite, Angie. - falei tão desanimada que nem a mesma devia ter ouvindo.

Aquilo me sufocava. Eu queria saber o que havia acontecido com meus pais.
Tudo aquilo me sufocava: eu não saber nada sobre os meus pais, e não poder ajudar o meu povo. Eu era inútil.

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Insta do livro: Sahraywxk

The 𝐒𝐞𝐜𝐫𝐞𝐭 Of The 𝐓𝐡𝐫𝐨𝐧𝐞.Onde histórias criam vida. Descubra agora