𝐅𝐈𝐑𝐒𝐓 𝐏𝐀𝐑𝐓 ─ 𝟎𝟐

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Quando paramos pra pensar no quão o amor é irrelevante e destruidor, logo optamos por não nos relacionarmos com ninguém - o primeiro passo para viver em uma solidão que se assemelha a uma caixa escura, pequena e sem brechas para que a luz e a esperança não possam entrar. Eu não fiz nenhuma escolha e apenas me deixei levar pela menor das ambições: a alegria e a satisfação em me sentir bem com a minha própria companhia, mas tudo foi em vão.

Ao permanecer dentro da caixa por muito tempo, totalmente fechada para o que há do lado de fora, eu mesma fui me sufocando de pouco a pouco, eu mesma estava me matando para superar as altas expectativas de conseguir viver bem, no futuro - solitária e presa em uma gaiola repleta de angústia, porém, sem um coração partido. À medida que permanecemos escondidos, nossos sentimentos e principalmente a dor faz com que a caixa vá se encolhendo aos poucos, e assim nos desesperamos para encontrar a saída inexistente.

Tudo começou com uma maldita bolha que surgira a partir da pior de todas emoções, e foi nesta bolha onde comecei a me sentir acolhida pelo silêncio - e mais uma vez tudo foi em vão. A bolha era tão assustadora e faminta por desejos medonhos que pude jurar ouvi-la sussurrar em meu ouvido sempre que contavam mais mentiras sobre mim, era como se tivesse vida própria.

Naquela noite eu não conseguira dormir o suficiente para estar totalmente disposta para o primeiro dia de aula, e eu continuaria indisposta até o fim do semestre. Já era madrugada e o céu ainda estava escuro, quando de repente ouvi a porta do quarto ser aberta e escorada em seguida, com cautela. Vi a silhueta de um homem cruzando o quarto graças à luminosidade da lua que passava através das cortinas, quando se aproximou pude ter certeza de que se tratava de Timothée, reconhecível pelo cheiro do aroma doce e suave que adorava usar.

Dei espaço para que o rapaz pudesse se deitar ao meu lado e o mesmo se sentou sobre a beirada da cama. Timothée levou a sua mão até o meu rosto, deslizando levemente os dedos pela minha bochecha como tinha o costume de fazer como um ato de afago e consolação. Ele se deitou e encostou a sua testa na minha, logo sussurrando:

— Nós estaremos lá, sempre cuidando de você.

Sorri ao perceber que eu nunca estaria sozinha enquanto Timothée, Saoirse e Sophia continuassem ao meu lado sempre me apoiando.

— Obrigada, Timmy — sussurrei em resposta. — Você é um ótimo cão de guarda.

Timothée riu nasalado e depositou um beijo na minha testa. Me aninhei em seus braços e encostei a minha cabeça em seu peito, como um filhote indefeso.

— Durma S/n, teremos um dia longo ainda mais tedioso. — Ele disse.

— Você será um péssimo professor, escute o que estou dizendo — o provoquei. — Ninguém prestará atenção nas suas aulas entediantes.

— Caramba! — Ele replicou ao me apertar em seus braços. — Então você acha que o meu charme e a minha beleza irão atrapalhar na minha profissão?

Ri o mais baixo que pude e mordi o mamilo do rapaz, que rangiu os dentes e grunhiu.

— Idiota! — Ele sussurrou.

Sorri com a reação dele e fechei os olhos novamente. Eu adormeci em questão de segundos, contando com o cafuné que Timothée fazia em meu cabelo.

Despertei do sono após lidar com uma série de sonhos sem contexto e decidi encarar Timothée que ainda dormia como um anjo - apenas dormia como um. Assim que me soltei de seu abraço, ele abriu os olhos bem devagar e passou a me encarar de volta.

— Eu não quis te acordar. — Eu disse.

— Tudo bem. — Ele escusou, com a voz rouca. — Bom dia, S/n.

❛𝐎 𝐊𝐀𝐑𝐌𝐀 𝐃𝐀𝐒 𝐑𝐎𝐒𝐀𝐒❜┊ᵐⁱˡˡⁱᵉ ᵇᵒᵇᵇʸ ᵇʳᵒʷⁿOnde histórias criam vida. Descubra agora