Capítulo III - A queda

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Aqueles encontros em meio às árvores às escondidas tinham um doce sabor de infância, lembrando-os da época que não haviam obrigações ou excesso de preocupações que vinham de brinde com a vida adulta. A dupla sorria, conversava, brincavam e se distraiam do mundo enquanto estavam dentro daquela bolha que haviam criado. Às vezes, Kun pedia timidamente para Ten dançar para si, exatamente como havia visto no dia que se reencontraram e o cigano aceitava todas as vezes sem hesitar com um sorriso no rosto.O fato de não haver música não os incomodavam, o mais novo cantarolava as suas próprias cantigas antigas sobre os olhos atentos com um quê de encanto do outro enquanto se movia no próprio ritmo e os cabelos balançavam ao sabor do vento. As roupas sempre tão características e coloridas destoava de tudo o que o Qian conhecia, fazendo com que sorrisse bobo com a lembrança antes de dormir. Ten era cativante de um jeito único e especial.

Quisiera inventar poesía en tu cuerpo

Abrazados en el mar

Y que volvamos a ser lo que fuimos

Perdamos el fato en la inmensidad

A feira de abril estava cada vez mais próxima e com ela vinha a oportunidade de se encontrarem fora dos limites da propriedade da família Qian. A festa ocorria durante toda a primavera em Sevilla, sempre uma ou duas semanas após a Semana Santa, coincidindo com o início do calendário das corridas de touro. Kun já estava dias pensando em fazer aquele convite, queria a companhia de Ten naquela festa que sempre lhe trazia boas lembranças. Foi necessário juntar coragem por algum tempo até que finalmente fizesse o convite em um final de tarde. O clima agradável junto ao pôr do sol parecia deixá-lo confortável e confiante o bastante para realizar aquela pergunta.

- Queres ir a Feira de Abril? - Indagou envergonhado, sequer o encarando nos olhos.

Ten tinha a sua atenção tomada pela bela paisagem que tinha à sua frente, os últimos raios solares iluminavam o seu rosto de maneira charmosa, deixando-o ainda mais bonito aos olhos do Qian. O coração do mais velho estava acelerado enquanto aguardava por uma resposta assim como as mãos suavam em nervosismo.

- Yo quiero! - Ten respondeu animado, não se contendo ao abraçar o Qian de surpresa.

O cigano sempre tinha aquele costume de estar constantemente demonstrando afeto, fosse através de abraços, carinhos no cabelo ou beijos castos nas bochechas, sempre resultando em um Kun envergonhado que sempre sorria no final com o coração aquecido. O Qian jamais teria coragem de se afastar ou impedir qualquer ato carinhoso do cigano, principalmente pela forma como se sentia ansioso de uma forma boa. Eles nunca haviam andado juntos pela cidade ou propriamente se encontrado fora da segurança daquelas árvores, porém Kun estava disposto a ignorar todo o preconceito que rondava os ciganos se fosse para ver o sorriso brilhante de Ten. O rapaz lembrava-se das histórias distorcidas que eram contadas pelo povo e de como os ciganos eram mal vistos a maior parte do tempo, sendo considerados sujos, devassos, ladrões e muitas outras coisas ruins, mas Ten fugia de todo aquele pré julgamento. Ele não era nada do que as más línguas tanto faziam questão de cuspir sobre o seu povo, ele era gentil e atencioso.

Y que miremos esa luna

Por más distancia solo hay una

Hablemos idiomas que solo entendamos que significa amar

As roupas coloridas e consideradas extravagantes sempre seriam a marca registrada do cigano, assim como lenço nos seus longos cabelos escuros. Kun havia tentado devolver o lenço que guardou desde a sua infância como um tesouro precioso, porém Ten apenas pediu para que continuasse guardando. A maioria dos frequentadores da festa estavam vestidos a caráter conforme as tradições da feira pediam, fazendo com que o cigano não chamasse tanta atenção pelas ruas como seria em um dia comum. A dupla andava próximo um do outro para evitarem de se separarem, sorriam felizes e animados.

Libertad Aunque Tardía [kunten]Onde histórias criam vida. Descubra agora