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Clarissa Souza

O relógio em meu pulso marcava dez da manhã no horário de Roma e a cada segundo que se passava eu ficava um pouco mais aflita. Levando em conta que eu deveria estar no aeroporto meio dia, e que eu demoro em média 40 minutos para me arrumar, a cada minuto que passava eu perdia um pouco mais da chance de desfrutar de um maravilhoso café da manhã italiano, ou pelo menos comer alguma coisa antes de começar a trabalhar.

Se como já não bastasse acordar atrasada para comer no hotel, essa era a primeira vez que a empresa colocava a tripulação neste hotel, eu não conhecia absolutamente nada além do caminho do hotel para o aeroporto e da vista da sacada do meu quarto. Por pura sorte quando dei de cara com a porta do restaurante do hotel fechada, eu me lembrei do pequeno café que ficava na rua de trás cujo eu vi pela janela enquanto estávamos vindo do aeroporto e não pensei duas vezes antes de correr para lá.

Eu não conhecia praticamente nada nesse país, já tinha vindo para a Itália algumas outras vezes, mas nunca de fato tentei explorar a cidade além dos típicos pontos turísticos como o Coliseu e a Torre de Pisa. Então quando me lembrei do café e pensei que finalmente estava a salvo, mas coisas que eu pensei que não poderiam piorar, ficaram piores.

— Senhora por favor, eu pago o preço que for, mas eu realmente preciso que você me venda um café — eu tentava convencer a velha carrancuda que estava do outro lado do balcão. Eu sabia que ela me entendia quando eu falava inglês, ela pôde muito bem olhar para mim e dizer "não atendo estrangeiros" quando comecei a falar.

O café era rústico, pequeno e com apenas essa senhora atendendo, não parecia um lugar muito conhecido na cidade ao julgar pelo fato das poucas mesas estarem vazias. Além de mim que estava descaradamente implorando para ser atendida, restava apenas outro cliente, que também esperava para ser atendido ou pelo menos tentar ser, assim como eu.

— Eu tenho menos de uma hora para comer moça, você pode me vender qualquer coisa, eu pago o que for — continuei implorando enquanto ela fingia secar alguns pratos e xícaras.

— Deixe eu te mostrar como se faz — o homem ruivo que estava atrás de mim disse passando na minha frente e se apoiando no balcão — eu quero um expresso.

— Não vendo para estrangeiros — ela disse firme olhando nos olhos dele e eu teria dado risada da forma com que o homem murchou com seu ego ferido se eu não estivesse fodida.

— Senhora, por favor... — Eu pedi olhando nos olhos dela, mas assim como nas outras vezes, ela me ignorou.

— Ela não vai vender pra gente — ele encarou feio a mulher — você deveria desistir e procurar outro lugar — disse antes de se virar e sair.

Eu respirei fundo me lembrando de que sou brasileira e não desisto nunca. Eu saí do meu país para ir ao outro lado do mundo trabalhando para uma empresa de aviação, todo voo eu lido com quase novecentos passageiros de diversas nacionalidades a milhares de metros de altura, eu definitivamente consigo comprar um café de uma cafeteria meia boca na Itália.

— E se eu te pagar dez euros pelo café? — Tentei negociar, mas ela não pareceu comovida.

Eu estava desesperada, não tinha tempo para procurar outro lugar para comer e se não comesse aqui só ia poder tomar café quando o avião já estiver decolado, daqui em média três horas.

— Tudo bem, a gente pode chegar no acordo de vinte euros por um café e um desses bolinhos e eu não vou aumentar minha oferta — tentei me fazer de difícil, mesmo sendo ignorada.

Magari - Vincenzo Cassano.Onde histórias criam vida. Descubra agora