Otto

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CLARISSA SOUZA

— Se eu te pedisse para ir comigo na cozinha pegar tiramisu, você me acharia maluca? — Perguntei enquanto fazia com o dedo círculos invisíveis no peitoral de Vincenzo.

Ainda estávamos deitados e pelados, uma de suas mãos acariciava as minhas costas enquanto a outra estava em baixo de sua cabeça e eu estava com metade do meu corpo cobrindo o seu, eu não tinha dúvidas de que se este momento pudesse ser fotografado ele seria considerado uma das obras de arte mais belas.

— Com toda certeza — ele brincou rindo mas logo levantou.

Eu observava o corpo esculpido de Vincenzo andar pelo quarto completamente nu e sem pudor algum, ele foi em direção ao closet, bufei quando ele entrou no cômodo saindo do meu campo de visão, mas logo ele voltou, infelizmente vestindo um roupão preto e me entregando um branco. 

— Eu adoraria te ter andando pelada pela minha casa, mas há muitas outras pessoas além de mim por aqui.

— Você não parece ser do tipo ciumento — zombei e ele deu de ombros.

— Não sou, prefiro dizer que sou cuidadoso.

Eu e Vincenzo saímos do quarto e fomos diretamente para o elevador, de mãos dadas e jogando conversa fora, eu queria que aquele momento durasse para sempre.

— Pare de falar tão alto, você vai acordar todo mundo! — eu disse para o homem que conversava como se não estivéssemos no meio da madrugada.

— Você está querendo me proibir de falar em minha própria casa? — Perguntou incrédulo e eu assenti fazendo-o rir — você é simplesmente inacreditável.

Eu não tinha entrado na cozinha antes, mas ao julgar pelo tamanho dos outros cômodos eu já tinha ideia de que ela seria enorme, então não fiquei tão assustada com o tamanho quando Vincenzo abriu a porta me dando espaço para passar.

A cozinha era industrial, digna de um restaurante grande ou de um hotel, ela era linda, isso não poderia ser negado, mas não tinha cara de cozinha de casa. Para ser sincera, apesar de tudo na ilha ser maravilhoso e de fazer-me suspirar, nada aqui tinha cara de lar, por vezes eu esquecia que aqui era literalmente a casa de Vincenzo e não um hotel, era lindo e gigante, mas não passava aquele ar quente de aconchego e amor, tudo aqui parecia extremamente frio e tenso.

Me recostei na ilha enquanto observava o homem procurar nas geladeiras o prato com o doce, conseguindo ver o seu sorriso orgulhoso após achar a travessa de vidro. Vincenzo colocou um pedaço enorme do doce em um prato, tirando de uma das gavetas uma colher e veio para ficar perto de mim, ele colocou o doce na ilha e me deu impulso para sentar ao lado, pegou uma banqueta alta que estava do outro lado da ilha e se sentou ao meio das minhas pernas, virado para mim.

— Tiramisu... — Ele começou a dizer enquanto pegava com a colher uma parte da sobremesa — você sabe o que significa? — perguntou levando a colher a minha boca, eu neguei com a cabeça enquanto mastigava — tiramisu significa "me puxe para cima" em italiano — ele pegou outro pedaço de bolo, levando para a própria boca desta vez — É o doce que nos ajuda a melhorar em um dia ruim, que literalmente nos puxa para cima. Quando alguém cai, o ato de levantar a pessoa que pede por ajuda significa "tiramisú".

— É um belo significado para um doce tão gostoso — eu disse enquanto tentava sem muito sucesso arrumar seu cabelo bagunçado — o que mais você sabe?

— Há uma pequena briga na Itália pois muitas cidades querem dizer que são as criadoras do Tiramisu, mas ninguém sabe ao certo onde ele surgiu — ele disse levando outro pedaço a minha boca. — Há muitas histórias sobre por que foi criado também, eu particularmente gosto da que conta que o tiramisu foi criado em algum orfanato de uma pequena cidade italiana com o intuito de dar energia aos pequenos que não estavam se sentindo tão bem. Supostamente a criadora poderia ser uma senhorinha que estava acostumada a comer bolachas, café e queijo.

Magari - Vincenzo Cassano.Onde histórias criam vida. Descubra agora