Capítulo 4

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Ornella estava sentada em frente ao espelho, penteando suas longas madeixas escuras. Todavia a jovem fez um breve penteado, acabara de acordar, sentia a brisa soar pela janela que estava aberta, foi à primeira coisa que fez ao sair da cama. Ficou encarando a si mesma diante do espelho, achava que faltava algo em sua aparência sem brilho. Ela  não parecia satisfeita com sua fisionomia no espelho, logo revirou a sua caixa de maquiagem e pegou um batom de tonalidade fosca. Passou nos lábios, onde enfatizou graciosamente o seu delicado semblante.

A seguir, o seu irmão bateu na porta.

-Posso entrar Ornella?

- Sim, entre. – Ela disse enquanto guardava o batom de volta na pequena caixa.

Horacio entrou e encostou a porta cuidadosamente e emediatamente virou-se de frente para a sua irmã para dizê-la algo.

-Sr. Ernesto convidou a todos nesta casa para um jantar em sua casa. -Se olhou no espelho- Pediu à presença de todos.

-Qual a finalidade deste jantar?

-Cortesia.

Ornella olhou ao lado. -Não sei se irei a este jantar...

-Me diz o porquê de não ir?

Franziu a testa e comprimiu os olhos. -Hoje eu amanheci indisposta.

-Acredito que até à noite, você estará se sentindo melhor, e o Sr. Ernesto não gostará da sua desfeita.

-É provável que ele nem dê por falta de mim.

-Minha irmã, faz uma forcinha, o Sr. Ernesto é um indivíduo bondoso. Merece nossa consideração. -Repousou suas mãos nos ombros da irmã.

A família Miller chegou à casa do Sr. Ernesto para o jantar. Foram recebidos pelo anfitrião, que os aguardava na sala principal.

Permaneceram ali por alguns minutos, onde os convidados olhavam a mobília da casa, tantos anos aquela casa fechada e eles tinham curiosidade de saber o seu estado.

Senhora Ema fazia perguntas o tempo todo, e o Sr. Hallen tinha o imenso prazer de respondê-las sem fazer caretas ou pedir uma pausa na conversa.

Ornella chegou muda e permaneceu muda. Não se sentia à-vontade, parecia um peixe fora da água diante da sala de visitas do seu vizinho.

Ela foi naquele jantar por insistência de seu irmão Horacio.

Como de costume, ela foi para a janela, se sentiu familiarizada diante dela, parecia que estava na janela de sua casa, por instantes se sentira melhor. Esqueceu que estava em um ambiente estranho. Sentiu falta de sua amiga Lindalva, queria que ela estivesse ali também, se sentiria firme com sua presença. Pensou que poderia a ter trago, pensou também que não seria conveniente trazê-la sem o consentimento do dono da casa. Todos estavam se retirando para a sala de jantar, onde seria servido o banquete.

Sr. Hallen percebendo a distração de sua vizinha, foi até a janela avisar que todos estavam indo para a sala de jantar.

-O jantar será servido. –Ele disse ao se aproximar.

Imediatamente Ornella o olhou, e pela primeira vez ela pode ver a cor dos seus olhos, eles eram castanhos claros. Depois de vê-los, a jovem abaixou a sua cabeça, saiu da janela e foi se unir aos seus familiares.

Sr. Hallen se sentou na ponta da mesa. Horacio ficou ao lado de seu pai e Senhora Ema se sentou ao lado de sua neta. O jantar foi servido pela criada, à mesa estava farta, todos tomavam vinho tinto em lindas taças, material de primeira. Os talheres reluziam sobre a mesa.

Após o jantar, eles voltaram para a sala principal. Acomodaram-se nos assentos e logo em seguida foi servido um licor para os cavalheiros e para as damas uma xícara de chá com biscoitinhos.

-Sr. Hallen gosta de caça? -Perguntou Matias.

-Me arrisquei algumas vezes, e confesso que sou uma negação.

-O que falta ao Senhor é treino. -Insistiu Matias.

-Agora que estou nessas redondezas, farei novas tentativas.

-Costumo caçar a noite e volto no clarear do dia. - Disse Matias.

-Matias puxou o próprio pai. -Disse Senhora Ema. –Meu falecido esposo sempre gostou de aventuras.

-Eu também gosto de caça, apesar de não matar um pássaro. -disse Horacio sem preocupaçãoes.

-Podemos ir caçar os três. -Assentiu Sr. Hallen.

-É só marcar o dia. -Afirmou Matias, animado.

No final da recepção, Sr. Hallen se despediu de todos na porta principal. Os conduzira até o jardim. Agradeceu a presença de todos. Os quatro caminhavam em direção à casa dos Miller.

Ornella se apavorou ao lembrar que esquecera sua capa na sala principal do Sr. Ernesto.

-Esqueci minha capa! -Disse voltando para buscá-la.

Sr. Hallen ainda estava no lado de fora da casa, os observando indo para casa. Porém, não entendeu a repentina volta de Ornella até a sua casa. Ela se aproximou apavorada e com afobação. Mal conseguia encará-lo no rosto.

-Senhor, eu esqueci a minha capa na sala. -Disse assim que chegou perto dele.

-Eu vou buscá-la. - Entrou e em segundos voltou com a capa na mão. -Aqui está. -Entregou a dona que ficou do lado de fora o aguardando.

-Obrigada, senhor. -Colocou a capa sobre o corpo, mostrando que precisava dela.

-Vejo que o jantar não agradou a Senhorita. – Ele comentou com a jovem, mostrando que havia notado sua insatisfação durante o banquete.

-Desculpe Senhor. É que eu estou indisposta, não amanheci muito boa. -Ficou sem jeito, não sabia o que dizer e logo se despediu. -Boa noite, senhor!

Ela se retirou às pressas e correu para acompanhar os seus parentes, que caminhavam lentamente.

E Sr. Ernesto continuou a observá-los silenciosamente.

Ornella (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora